sábado, 23 de março de 2024

O Problema dos 3 Corpos (Three Body Problem, 2024)

 
O Problema dos 3 Corpos (Three Body Problem, 2024). Netflix. Série em 8 capítulos dos criadores de "Game of Thrones", D. B. Weiss e David Benioff, que tentam provar seu valor depois do final desastroso daquela série. "Três corpos" ainda precisa satisfazer os fãs dos livros originais do chinês Cixin Liu, que ganhou vários prêmios e foi comparado a mestres da ficção-científica como Arthur C. Clarke. Exagero. Eu li o primeiro livro da trilogia e, a bem da verdade, não gostei. Longo, frio e confuso, "O Problema dos Três Corpos" tem personagens desinteressantes e uma trama sem pé nem cabeça.

A adaptação de Benioff e Weiss (auxiliados por Alexander Woo) é bem mais palatável. Os absurdos científicos e a confusão da trama ainda estão ali, mas tudo acontece bem mais rápido e de forma mais interessante. Um único personagem do livro é transformado em cinco estudantes de Oxford, na série. Eles têm uma relação estreita que fica ainda mais próxima quando uma professora deles comete suicídio. Por todo o mundo, aceleradores de partícula têm apresentado resultados "impossíveis" e vários cientistas estão se matando. Vários deles relatam que viam estranhos números "flutuando" em frente a seus olhos, em uma contagem regressiva. Um detetive dedicado chamado Da Shi (Benedict Wong) está investigando as mortes.

Assim como no livro, há várias outras tramas. Nos anos 1960, uma jovem chinesa é enviada pelos revolucionários comunistas para um laboratório misterioso, com uma antena gigante em cima. Eles estão tentando entrar em contato com alguma civilização distante. No presente, fanáticos liderados por um bilionário inglês (Jonathan Pryce) aguardam a chegada de seus "senhores", seres que viriam salvar o planeta. Será? Outro grupo, liderado por Liam Cunningham, acha que os alienígenas não têm boas intenções e planejam defender a Humanidade.

É um bocado de tramas para seguir. Os roteiros, porém, conseguiram enxugar partes enormes do livro e, lá pelo capítulo cinco (de oito), eles chegam ao final do primeiro livro. Não sei quantas temporadas estão planejadas mas, nesse ritmo, talvez acabem a trilogia na segunda temporada.

O elenco é bom e tem alguns ex-membros de "Game of Thrones" como Jonathan Pryce, Liam Cunningham e John Bradley. Apesar de muito papo (pseudo) científico, a série é bem violenta quando necessário (há um capítulo bastante sangrento, digno de "Game of Thrones"). Há alguns relacionamentos e dramas um pouco "novelescos" entre os personagens principais, contrastando bastante com a frieza do livro. Se eu gostei? Gostei, talvez pelo fato de não ter gostado do livro. Fico curioso sobre os que não leram. Tá na Netflix. 

Mestres do Ar (Masters of the Air, 2024)

Mestres do Ar (Masters of the Air, 2024). Criado por John Orloff. Apple TV+. Minissérie em nove capítulos que pode ser considerada a última parte de uma trilogia iniciada por "Band of Brothers" (2001) e continuada por "The Pacific" (2010), ambas produzidas pela HBO (e disponíveis na Netflix). Enquanto a primeira focava em um grupo de soldados lutando contra os nazistas em terra na Europa e a segunda os americanos contra os japoneses no Pacífico, "Mestres do Ar" foca nos aviadores que bombardearam a Europa Ocidental na II Guerra Mundial. A produção executiva é dos mesmos Steven Spielberg e Tom Hanks, mas "Mestres do Ar" não foi produzida pela HBO (que não quis arcar com o orçamento de 250 milhões de dólares), mas pela Apple TV+.

"Mestres do Ar" demora a engrenar. A boa notícia é que ela melhora bastante. Demora para você se identificar com os personagens ou mesmo se importar com eles. Há uma série de ataques aéreos sobre a Alemanha que são repetitivos e não muito emocionantes. Fotografia e efeitos especiais são muito "limpos" e, a bem da verdade, parece que você está vendo um video game muito bem feito. A série começa a melhorar do quarto episódio para frente, quando o foco sai de dentro do cockpit e vemos situações diferentes, como pilotos abatidos tendo que tentar escapar do território ocupado ou, mais para frente, quando vemos outros pilotos em campos de prisioneiros. O elenco é muito bom, encabeçado por Austin Butler (ainda soando como Elvis rs) como o Major Buck Cleven, acompanhado por Callum Turner como o Major John Egan. O onipresente Barry Keoghan interpreta outro piloto, o Tenente Curtis.

A série, claro, acaba focando mais nos americanos; os pilotos britânicos são vistos como arrogantes ou mesmo covardes (por só voarem à noite). Há meio episódio dedicado a aviadores negros que bombardeavam a Alemanha a partir da Itália e a série até dá crédito aos russos por liberarem parte da Alemanha. O Japão e as bombas atômicas, no entanto, não são mencionados. No mundo complicado e ambíguo de hoje, os nazistas ainda são os únicos inimigos universalmente odiados e ainda é seguro fazer filmes e séries em que os americanos são vistos acabando com eles. "Mestres do Ar" tem nove episódios e diretores como Cary Joji Fukunaga (007: Sem tempo para morrer, True Detective) e Tim Van Patten (Família Soprano, Game of Thrones). Disponível na Apple TV+.