Bom, o tempo passou, a Disney comprou a Lucasfilm e um novo
Indiana Jones chega agora aos cinemas. É bom? Hmmmm. A direção é de James
Mangold, um cara bem competente, e Harrison Ford está de volta ao papel, com
quase 80 anos. O começo do filme, passado no final da II Guerra Mundial, é
bastante bom e seria tudo que a gente gostaria de ver em um filme de Indiana
Jones. Com um detalhe que atrapalha um pouco: Harrison Ford foi rejuvenescido
digitalmente, e é bastante estranho olhar para ele. O rosto dele está bem mais
jovem e, no geral, está bom, mas o seu cérebro sabe que alguma coisa está
errada. A cabeça às vezes é grande demais, o olhar é meio perdido. Mas é um bom
começo de filme. O mestre John Williams (91 anos!) compôs a trilha e James
Mangold faz o que pode para emular o estilo de direção de Steven Spielberg. E é
sempre um prazer ver Indiana Jones esmurrando nazistas.
Pulamos então para 1969, o ano do pouso dos astronautas na
Lua, e Indiana já é um senhor. Os colegas da faculdade em que ele leciona fazem
uma festa de aposentadoria ao som de "Garota de Ipanema", de Tom
Jobim. É então que uma figura do passado reaparece na vida de Indy, Helena
(Phoebe Waller-Bridge), uma afilhada de Jones e filha de um amigo. Ela está
procurando por uma "máquina" criada por Arquimedes que estaria em
poder de Indy (ou metade de uma máquina). Ao mesmo tempo, os nazistas estão na
cidade, também à procura do mesmo artefato. O líder deles é interpretado pelo
grande Mads Mikkelsen.
É um começo promissor... parece haver uma ligação afetiva
entre Indy e a moça; os nazistas são apropriadamente maus e ameaçadores. Phoebe
Waller-Bridge (de "Fleabag") é boa atriz e um bom páreo para Indiana
Jones, só que a personagem dela, ao invés de ser a companheira de Indy que
imaginamos que ela seria, acaba se tornando uma estranha antagonista. Ela rouba
a peça de Indy para tentar vender em um leilão no Marrocos, e há um bocado de
conflito desnecessário entre ela e Indiana Jones. É estranho também que Indy
carregue seu chapéu, camisa e chicote em uma malinha, como se fosse um uniforme
de super-herói, que ele veste quando precisa "virar Indiana Jones".
Há várias sequências em que se nota a falta que Spielberg faz (pouca gente sabe
movimentar uma câmera como ele).
A tal "relíquia do destino" não me pareceu um objetivo tão interessante quanto os dos outros filmes e, sinceramente, nunca havia ouvido falar sobre ela. Embora tente emular os Indiana Jones anteriores, o filme tem falhas estranhas, como não começar usando o símbolo da Paramount no cenário; as icônicas cenas dos mapas não aparecem por metade do filme e, de repente, são usadas aleatoriamente. E apesar de todos os filmes terem um momento “sobrenatural” em que questões como fé e razão são questionadas, há uma cena no terceiro ato deste filme que, para mim, forçou demais a barra. Tá, Indiana Jones já presenciou nazistas serem destruídos pela Arca da Aliança, já conversou com um cavaleiro medieval “imortal” , já viu um cara ter o coração arrancado do peito e coisas do tipo... mas há uma sequência em “Relíquia do Destino” em que tudo é simplesmente absurdo demais (assim como o rosto em computação gráfica de Harrison Ford parece fora de lugar, a cena simplesmente não cola). Mas...ok, acho que depende da tolerância de cada espectador.
Valeu a pena ver “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”? Mais ou menos. É bom ver Harrison Ford vestido de Indy novamente? Sim... embora seja um pouco triste também. Heróis de verdade desaparecem no pôr-do-sol, como Spielberg queria ao final de “A Última Cruzada”. Lucas insistiu tanto que acabaram fazendo o “Indiana Jones vs Aliens” que ele sempre quis fazer em “Reino da Caveira de Cristal”. O pior pecado neste novo Indy é o fato de ser totalmente desnecessário, mas isso a gente já sabia desde que a ideia foi levantada. Harrison Ford, consciente da própria mortalidade, reviveu seus principais personagens nos últimos anos, seja Han Solo, Deckard ou, agora, Indiana Jones. É nostálgico e agridoce. Nos cinemas.