Entre mulheres (Women Talking, 2022). Dir: Sarah Polley. O título original, "mulheres falando", pode parecer simples ou trivial. No contexto do filme, no entanto, significa muita coisa. "Entre mulheres" é um dos dez indicados a Melhor Filme no Oscar que acontece esta noite. Curiosamente, ele está indicado apenas a mais uma categoria, roteiro adaptado, da diretora canadense Sarah Polley (que adaptou o livro de 2018 escrito por Miriam Toews). Há duas formas de se ver este filme, como algo baseado em uma história real ocorrida na Bolívia em 2010 (como, de fato, foi), ou como uma alegoria para algo bem mais amplo. A trama: um grupo de mulheres mora em uma colônia religiosa à moda antiga; separadas do mundo, elas não têm acesso à educação, ao voto, a ter ideias próprias. Para piorar, elas são frequentemente assaltadas sexualmente pelos homens da colônia, que lhes dizem que é o ato de "fantasmas", de "Satanás", ou da imaginação fértil das moças. Um dia, porém, um dos homens é pego em flagrante. As mulheres, então, resolvem debater sobre o que devem fazer; há três opções: fazer nada, ficar e lutar ou deixar a colônia. O filme de uma hora e quarenta minutos mostra esta conversa.
Poderia ser tudo bastante teatral (e, em momentos, realmente é), mas a direção de Polley e a interpretação do elenco tornam o filme uma experiência fascinante e tensa. E que elenco; Claire Foy, Rooney Mara, Jessie Buckley, Frances McDormand, entre outras, estão excelentes (nenhuma delas foi indicada ao Oscar, lamentavelmente). Apenas um homem tem um papel de destaque, August, interpretado por Ben Whishaw, que é o professor dos meninos da colônia. Os homens, no entanto, estão na pauta por todo o filme. Os homens ou a própria masculinidade. São simplesmente inimigos a serem derrotados? Monstros? Vítimas de um sistema que pune tanto homens quanto mulheres? Possíveis parceiros? O que as mulheres devem fazer? Deixar para lá? Lutar? Fugir? Curioso como a religião também é tratara no filme. As mulheres se refugiam em uma fé que as conforta, mas será que também não as oprime?
Não é um filme fácil, mas vale bastante pelas questões levantadas e pelas belas interpretações. Destaque também para a trilha sonora da islandesa Hildur Guðnadóttir (que ganhou o Oscar por "Coringa" em 2019). Nos cinemas.
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