Aftersun (2022). Dir: Charlotte Wells. "Aftersun" é uma pequena joia de um filme. Passado em um hotel à beira-mar na Turquia, a trama acompanha alguns dias de férias de um pai e sua filha. Ele é Calum (Paul Mescal) e ela é Sophie (Frankie Corio, uma extraordinária atriz de 12 anos). Não sabemos muito da história dos dois... apenas que são pai e filha e o pai não mora com a mãe da garota. Os dois alternam cenas de extrema proximidade com outras em que há "algo" errado entre eles; há uma sensação estranha de que alguma ameaça pairando no ar, mas você nunca sabe exatamente porquê. Quem é pai vai reconhecer o sentimento de medo de que alguma coisa vai acontecer com os filhos, e vice versa. O filme brinca com essa sensação em várias cenas, como uma vez que o pai faz um mergulho no mar e não o vemos surgir de volta à superfície. Em outro momento, ele passa atrás de um ônibus e escutamos uma buzina. A garota entra na piscina, sozinha, e achamos que ela está em perigo.
Interessante como o filme "brinca" com a plateia. Como já vimos muitos filmes antes, achamos que alguma coisa TEM que acontecer; na vida, geralmente, nada acontece, mas quem nunca ficou apreensivo sem motivo? (não vou dar SPOILER sobre se, ou quando, algo acontece, mas a sensação está sempre presente).
Outro tema recorrente é o da memória. Imagens em vídeo, de uma câmera que os dois usam, frequentemente aparecem na tela. São ângulos diferentes ou conversas entre os dois gravadas em estilo amador, e o pai revê várias cenas da filha quando esta está dormindo, como que tentando passar ainda mais tempo com ela.
A garota, pré-adolescente, observa à distância a interação entre rapazes e moças mais velhas, flertando, bebendo, se beijando. A atriz que faz a garota é tão boa que vemos as dúvidas, confusões e expectativas que passam pela cabeça dela. Paul Mescal também está muito bem como um pai separado, claramente tentando compensar a falta com a viagem com a filha, se desculpando o tempo todo, gastando além do que pode e tentando preencher o espaço entre os dois. Fica a sensação de que tudo tem um fim (o que é verdade), tudo passa, e pai e filha tentam aproveitar ao máximo o tempo que têm juntos. Belíssimo. Disponível nos cinemas ou no Mubi (serviço de streaming)
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