Better Call Saul (2015-2022). Criada por Vince Gilligan e Peter Gould. Netflix. Não posso deixar terminar o ano sem citar a melhor série de 2022 (e dos últimos anos) "Better Call Saul". Antes, uma confissão: por duas vezes tentei ver "Breaking Bad". Sempre gostei bastante da primeira temporada... menos da segunda... e acabava desistindo. Não parem de ler, me deixem explicar, rs. Walter White, por melhor que tenha sido interpretado por Bryan Cranston, sempre me pareceu um "mala"; ou melhor, acho que a série deixou de explorar as várias ambiguidades que o personagem oferecia e transformaram o ex-professor de química em um vilão (chato) rapidamente. Sobra quase nada para gostar no personagem, que se torna cruel com a esposa, um mentiroso com o filho, um monstro manipulador que, sinceramente, não me fazia querer assistir mais (eventualmente eu acabei vendo a série toda, pós "Better Call Saul", mas não mudei muito minha opinião).
Corta para Saul Goodman ou, melhor, para Jimmy McGill. O personagem de Bob Odenkirk já era o cara mais interessante em "Breaking Bad", quando era um advogado brilhantemente canalha. "Better Call Saul" poderia ter sido só sobre esse cara, mas foi sobre muito, muito mais. A série nos apresenta Jimmy (não Saul) como um cara que, apesar de aplicar uns golpes aqui e ali, no fundo era boa pessoa (ou tentava ser). O cuidado com que ele ajudava o irmão, Chuck McGill (Michael McKean), na primeira temporada... até o choque da traição. A ótima personagem de Kim Wesler (Rhea Seehorn) que, assim como Jimmy, havia começado de baixo, no departamento de xerox de uma grande empresa de advocacia. O arco dela pelas temporadas segue de perto a transformação de Jimmy em Saul Goodman. Uma advogada brilhante, mas que também tem algo de errado no caráter... a vontade de cometer uma transgressão, a emoção de aplicar um golpe junto bom o namorado. Tantos ótimos personagens... Nacho Varga (um ótimo Michael Mando). O ódio que ele sentia por Hector Salamanca (Mark Margolis) e seu papel em colocá-lo naquela cadeira de rodas. Gus Fring (Giancarlo Esposito), ainda não tão poderoso, mas muito mais humano, tentando subir na "carreira" e com o sonho de construir o laboratório de drogas perfeito (que rende uma das melhores tramas da série). O grande Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks), tão mais profundo e humano do que em "Breaking Bad"... sua história com a morte do filho, seus tempos como policial, a obrigação que sente com a nora e a neta. Lalo Salamanca (Tony Dalton), um vilão e tanto, engraçado em um momento, letal em outro. Howard Hamlin (Patrick Fabian), que a princípio parece um vilão mas, ao longo da série, acaba se tornando a vítima.
Não só ótimos personagens novos mas, sobretudo, personagens conhecidos que são muito melhor explorados do que em "Breaking Bad". Há muito mais áreas cinzas a serem exploradas. Quando você acha que Jimmy tomou jeito e vai se tornar um advogado respeitável, Saul Goodman assume e te pega de surpresa. A ambiguidade de Kim Wexler, que tem tantas chances de deslanchar na carreira mas que está estranhamente "presa" a Jimmy. A cena incrível, na última temporada, em que ela simplesmente começa a chorar dentro do ônibus (como é possível que Rhea Seehorn nunca tenha ganhado um Emmy?). Gus Fring, se sentindo em paz por um momento, sentado em um restaurante e discutindo sobre vinhos com o cheff; Mike e o engenheiro alemão conversando sob as estrelas, antes de uma despedida; tantos momentos incríveis nesta série. No final, acontece que ela não é só uma série de "origem" de "Breaking Bad", mas também a ultrapassa e é também seu final. Em minha opinião, a supera em todos os quesitos, com folga. Para rever. Tá na Netflix.
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