Blonde (2022). Dir: Andrew Dominik. Netflix. Curioso que 2022 tenha visto o lançamento das cinebiografias de dois ícones da cultura pop americana: Elvis Presley e Marilyn Monroe. São filmes bastante diferentes e bastante iguais; os dois são bem longos, quase três horas de duração. São também muito estilizados... e bastante exagerados.
"Blonde" é baseado em um livro de Joyce Carol Oates que é descrito como uma "biografia de ficção". Ou seja, não se deve ler o livro (ou ver o filme) esperando uma reportagem jornalística. O que se vê nas telas é uma história baseada, em linhas gerais, na vida e morte de Marilyn Monroe, mas não se apegue a detalhes. É um filme visualmente belo e extremamente difícil. Andrew Dominik, o diretor, fez o belíssimo "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", com Brad Pitt, que tinha uma das mais belas fotografias do cinema. "Blonde" é igualmente belíssimo; o diretor usa e abusa de janelas com proporção diferente (tela cheia, tela quadrada, cinemascope, etc) e diversos tipos de cores e texturas. A produção também recriou fielmente enquadramentos de ensaios fotográficos, penteados e figurinos icônicos de Monroe, uma das mulheres mais fotografadas da história, e você é transportado para os anos 1930, durante a infância de Norma Jeane, e depois para os 1950 e 1960.
O problema é que o filme pega (bastante) pesado com a vida e morte de Norma Jeane/Marilyn Monroe. Ana de Armas está excelente no papel e magnética na tela (vem aí uma provável indicação ao Oscar). Só que garota é mostrada como se fosse um "pedaço de carne" (o termo é até usado no roteiro). O filme começa com Norma criança, (mal) criada por uma mãe solteira abusiva, e não lhe dá trégua por quase três horas de duração; acompanhamos estupros, casamentos abusivos, divórcios, abortos e todo tipo de humilhação. Tudo isso acompanhado por uma trilha sonora viajante de Nick Cave e Warren Ellis. É massacrante.
Confesso que precisei de duas sessões para ver o filme inteiro. Voltando à comparação com "Elvis", ao menos naquele filme dá para curtir as músicas do "rei" e ver algumas recriações de shows, etc. Em "Blonde" são pouquíssimas as sequências em que o espectador tem um "respiro" (há algumas passagens idílicas de Marilyn com o dramaturgo Arthur Miller, interpretado por Adrien Brody, mas logo o preto-e-branco retorna e, com ele, a depressão, as drogas, os surtos, etc).
E, sim, há uma parte do filme dedicada ao suposto "romance" entre Marilyn e John Kennedy, mas é a sequência mais bizarra deste filme, o que é dizer muito (e quando a edição comparou a ereção do presidente com imagens de foguetes na TV eu joguei a toalha). Difícil, veja por sua conta e risco. Tá na Netflix.