Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez (2022). HBO Max. Dir: Tatiana Issa e Guto Barra. Série documental sobre um crime ocorrido há quase 30 anos no Rio de Janeiro, o assassinato da atriz e dançarina Daniella Perez, de 22 anos. A mãe da atriz, a escritora Glória Perez, começa o documentário dizendo que quis fazê-lo porque queria que "a verdade do processo" fosse contada, ao invés da "novela barata" que havia se tornado a história da morte da filha. Eu diria que o documentário, apesar de muito bem conduzido e montado, cumpre apenas em parte a vontade de Glória Perez.
São cinco episódios, sendo que o melhor, para mim, é o primeiro. É palpável a tensão crescente de familiares, amigos e companheiros de trabalho conforme relembram, hoje, do sumiço de Daniella, uma alegre e sorridente garota de 22 anos, na noite de 28 de dezembro de 1992. A boa edição e recriação de época levam o espectador ao Rio dos anos 90, quando as pessoas não tinham celular e estrelas da Globo circulavam em um Escort ou um Santanna. Um morador desconfiado de um condomínio viu dois carros parados perto de um matagal e anotou as placas; viu também que havia um homem e uma mulher no carro de trás, um Santanna azul, e supôs que fosse só um casal namorando. Na verdade, era a cena do crime. Quando a polícia chegou para investigar, apenas o Escort estava no local e o corpo de Daniella Perez estava esticado no matagal, com quase 20 perfurações no tórax e pescoço.
As fotos do corpo no chão, mostrando o rosto sem vida da atriz, chocam. A mãe, que é escritora, fala da dor de sentir o corpo frio da filha e da vontade de "recolocá-la no ventre". Pesado. Choca também ver cenas do enterro da garota, o cemitério abarrotado de gente que, na era pré internet, estava lá para ver e tentar tocar os astros de TV. Criminalmente, o caso não era muito complicado; o tal Santanna era do ator Guilherme de Pádua, que fazia par romântico com Daniella na novela "De Corpo e Alma" (escrita por Glória Perez). Uma mistura de ciúmes e vingança por ter seu personagem diminuído foram, provavelmente, os motivos do crime. Fica claro também que a esposa de Guilherme, Paula, grávida de quatro meses, também participou do crime. Os quatro capítulos seguintes do documentário, porém, apesar de ainda muito bem feitos, parecem tender mais para a "novela barata" que Glória Perez queria evitar do que para a objetividade jornalística. São tantas as teorias lançadas sobre o crime (do simples ciúme até um ritual de magia negra) que fica difícil entender a tal "verdade do processo".
Fica, porém, a sensação de que, no Brasil, o crime compensa. Um assassino condenado a 18 anos de prisão, por exemplo, pode sair com um sexto de pena (apenas três anos), se tiver "bom comportamento". Um bom capítulo mostra a luta de Glória Perez para incluir na lei de crimes hediondos o assassinato premeditado, mesmo que cometido por um "réu primário". A escritora conseguiu, com a ajuda de amigos artistas, reunir 1,3 milhões de assinaturas para mudar a lei. Ainda assim, teve que ver os congressistas tentando evitá-la e fugindo de Brasília para não formar quórum (a lei acabou aprovada em regime de "urgência urgentíssima", daquelas coisas bizarras do Brasil). Apesar de alguns pesares, "Pacto Brutal" é eficiente em recriar a época e revisitar um dos crimes mais famosos do país. Disponível na HBO Max.
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