A trama faz um vai e vem entre várias linhas de tempo,
informadas por letreiros na tela ou indicadas por mudanças no visual dos
personagens. A série também é metalinguística; uma equipe de documentaristas
acompanhou a história real (o documentário está na Netflix, aliás) e a equipe
técnica (diretor, produtor, editora) estão presentes como personagens. Colin
Firth está muito bem como Paterson, uma pessoa difícil de decifrar, mas que tem
um ego enorme e gosta de estar no centro das atenções (quem aceitaria a
presença de câmeras durante uma investigação de assassinato?).
Independentemente de ser um assassino ou não, Paterson é bem
contraditório, aquele tipo de pessoa que pode elogiar a esposa ou os filhos em
uma frase e, em seguida, falar alguma coisa horrível. O ritmo é bem lento, são
oito capítulos de uma hora de duração e o roteiro dá espaço para revelar as
facetas de várias personagens. Toni Collette, como a esposa Kathleen, é uma
personagem trágica, sempre exausta, lutando para manter o trabalho, a casa, os
filhos e o marido, que mais parece outro filho. As várias teorias sobre a morte
dela são mostradas em cenas bastante sangrentas. Binoche, uma das maiores
atrizes do cinema, também é uma figura trágica como uma mulher que acredita em Paterson,
mas nunca consegue realmente compreendê-lo. A direção é de Antonio Campos,
americano nascido em Nova York filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes.
Harrison Ford estava escalado originalmente para viver Paterson, mas desistiu. A
série me lembrou muito “O Reverso da Fortuna” (1990), de Barbet Schroeder, em
que Jeremy Irons era acusado de matar a esposa. "A Escada" está
disponível na HBO Max.
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