Confisco (2021). Dir: Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli. HBO Max. Documentário que tenta mostrar as consequências do Plano Collor (março de 1990), que confiscou o dinheiro das cadernetas de poupança e investimentos acima de 50 mil cruzados novos (dinheiro da época), jogando o país no caos. O objetivo era derrubar uma inflação galopante que fazia com que as lojas mudassem os preços diariamente, as maquininhas de etiquetar funcionando a todo vapor.
Para tentar humanizar a história, o documentário foca em duas famílias: a da ex-ministra Zélia Cardoso de Mello (uma das idealizadoras do plano) e de uma família "típica" brasileira. A ex-ministra mora em Nova York e é vista em atividades do dia a dia como caminhando no Central Park ou assistindo a um jogo da seleção brasileira com a família. Do outro lado, a família de Dorival Silva lembra o baque que o plano causou aos negócios e à vida em casa. Dorival havia trabalhado anos como caminhoneiro e, com muito suor, havia crescido, comprado outros caminhões e planejava uma aposentadoria tranquila. Às vésperas do plano econômico, Dorival havia vendido uma casa e um caminhão e colocado tudo no banco. Fernando Collor era visto como a salvação do Brasil contra a ameaça vermelha do PT (história familiar?) e estava sempre na TV com o apelido de "caçador de marajás".
A jornalista Lillian Witte Fibe, uma das entrevistadas, diz que ninguém conseguiu entender o plano, quando ele foi lançado. Segundo ela, a ministra Zélia Cardoso parecia muito tranquila quando foi dar entrevista na Globo e até teria feito piada sobre pegar o dinheiro de todo mundo; mas não soube explicar o plano na TV. Jornalistas como Joelmir Betting e Paulo Henrique Amorim são vistos tentando explicar as medidas econômicas.
O documentário peca em não mostrar melhor as consequências do confisco. Apesar da história da família de Dorival, seria interessante ver outros exemplos de como o dia a dia da população foi afetada. Há imagens de correria aos bancos e manchetes que falam até em suicídio, mas nada muito aprofundado. Quando a Zélia Cardoso de Melo, hoje ela diz que deveria ter recusado o cargo e "deixado um homem fazer este plano". Ela alega que foi perseguida por ser mulher e o documentário mostra reportagens da época que falavam desde sobre a falta de maquiagem da ministra até sua vida amorosa. O documentário termina com a eleição de Bolsonaro à presidência da república e uma cena da família Silva dançando no carnaval de 2020 (às portas da pandemia). Interessante. Disponível na HBO Max.
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