sábado, 31 de dezembro de 2022

Better Call Saul (2015-2022)

 
Better Call Saul (2015-2022). Criada por Vince Gilligan e Peter Gould. Netflix. Não posso deixar terminar o ano sem citar a melhor série de 2022 (e dos últimos anos) "Better Call Saul". Antes, uma confissão: por duas vezes tentei ver "Breaking Bad". Sempre gostei bastante da primeira temporada... menos da segunda... e acabava desistindo. Não parem de ler, me deixem explicar, rs. Walter White, por melhor que tenha sido interpretado por Bryan Cranston, sempre me pareceu um "mala"; ou melhor, acho que a série deixou de explorar as várias ambiguidades que o personagem oferecia e transformaram o ex-professor de química em um vilão (chato) rapidamente. Sobra quase nada para gostar no personagem, que se torna cruel com a esposa, um mentiroso com o filho, um monstro manipulador que, sinceramente, não me fazia querer assistir mais (eventualmente eu acabei vendo a série toda, pós "Better Call Saul", mas não mudei muito minha opinião).


Corta para Saul Goodman ou, melhor, para Jimmy McGill. O personagem de Bob Odenkirk já era o cara mais interessante em "Breaking Bad", quando era um advogado brilhantemente canalha. "Better Call Saul" poderia ter sido só sobre esse cara, mas foi sobre muito, muito mais. A série nos apresenta Jimmy (não Saul) como um cara que, apesar de aplicar uns golpes aqui e ali, no fundo era boa pessoa (ou tentava ser). O cuidado com que ele ajudava o irmão, Chuck McGill (Michael McKean), na primeira temporada... até o choque da traição. A ótima personagem de Kim Wesler (Rhea Seehorn) que, assim como Jimmy, havia começado de baixo, no departamento de xerox de uma grande empresa de advocacia. O arco dela pelas temporadas segue de perto a transformação de Jimmy em Saul Goodman. Uma advogada brilhante, mas que também tem algo de errado no caráter... a vontade de cometer uma transgressão, a emoção de aplicar um golpe junto bom o namorado. Tantos ótimos personagens... Nacho Varga (um ótimo Michael Mando). O ódio que ele sentia por Hector Salamanca (Mark Margolis) e seu papel em colocá-lo naquela cadeira de rodas. Gus Fring (Giancarlo Esposito), ainda não tão poderoso, mas muito mais humano, tentando subir na "carreira" e com o sonho de construir o laboratório de drogas perfeito (que rende uma das melhores tramas da série). O grande Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks), tão mais profundo e humano do que em "Breaking Bad"... sua história com a morte do filho, seus tempos como policial, a obrigação que sente com a nora e a neta. Lalo Salamanca (Tony Dalton), um vilão e tanto, engraçado em um momento, letal em outro. Howard Hamlin (Patrick Fabian), que a princípio parece um vilão mas, ao longo da série, acaba se tornando a vítima.

Não só ótimos personagens novos mas, sobretudo, personagens conhecidos que são muito melhor explorados do que em "Breaking Bad". Há muito mais áreas cinzas a serem exploradas. Quando você acha que Jimmy tomou jeito e vai se tornar um advogado respeitável, Saul Goodman assume e te pega de surpresa. A ambiguidade de Kim Wexler, que tem tantas chances de deslanchar na carreira mas que está estranhamente "presa" a Jimmy. A cena incrível, na última temporada, em que ela simplesmente começa a chorar dentro do ônibus (como é possível que Rhea Seehorn nunca tenha ganhado um Emmy?). Gus Fring, se sentindo em paz por um momento, sentado em um restaurante e discutindo sobre vinhos com o cheff; Mike e o engenheiro alemão conversando sob as estrelas, antes de uma despedida; tantos momentos incríveis nesta série. No final, acontece que ela não é só uma série de "origem" de "Breaking Bad", mas também a ultrapassa e é também seu final. Em minha opinião, a supera em todos os quesitos, com folga. Para rever. Tá na Netflix.

Trem Bala (Bullet Train 2022)

Trem Bala (Bullet Train 2022). Dir: David Leitch. HBO Max. Filme de (ultra) ação que lembra aquelas produções estilizadas e cheias de piadinhas de Guy Ritchie, tipo "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" ou "Snatch: Porcos e Diamantes". Múltiplos personagens cheios de manias e frases de efeito mais ação ininterrupta colocados dentro de um trem bala (também estilizado) entre Tóquio e Kyoto, no Japão. O diretor é David Leitch, de filmes como "Deadpool 2" e "Atômica".

O elenco é grande, mas Brad Pitt (por ser Brad Pitt) é o personagem principal, um matador de aluguel que resolveu pegar um "serviço fácil": entrar em um trem bala, roubar uma mala cheia de dinheiro e descer na primeira estação. Claro que não vai ser tão tranquilo. Dentro do mesmo trem estão uma dupla de assassinos (Aaron Taylor Johnson e Brian Tyree Henry), um gângster japonês (Andrew Koji), o pai dele (Hiroyuki Sanada) e uma garota aparentemente inocente (Joey King). Todos estão interligados em uma trama complicada que envolve a tal mala de dinheiro, o sequestro do filho de um chefão do crime e várias pessoas querendo vingança.

Parênteses: eu queria saber o que aconteceu com os editores de cinema. Pelo jeito nenhum deles têm poder para chegar para o diretor e dizer: "Hey, menos é mais". "Trem Bala", como vários filmes recentes, tem aqueles vinte minutos a mais que são desnecessários... o que aconteceu com aqueles filmes de ação de 90 minutos? Enfim, "Trem Bala" é bem feito, estilizado e tem personagens interessantes, embora não seja nenhuma novidade. Se você quiser bons 90 minutos (e desnecessários 30 minutos) de ação desenfreada e diálogos sarcásticos, vai se divertir. Se não... Disponível na HBO Max.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Glass Onion: Um Mistério Knives Out (Glass Onion: A Knives Out Mystery, 2022)

Glass Onion: Um Mistério Knives Out (Glass Onion: A Knives Out Mystery, 2022). Dir: Ryan Johnson. Netflix. Não é uma continuação, mas uma nova aventura do mesmo detetive de "Entre facas e segredos", sucesso surpreendente de 2019 escrito e dirigido por Ryan Johnson. O filme foi tão popular que a Netflix teria pago mais de 400 milhões de dólares pelos direito de duas novas "continuações", sendo que Daniel Craig e o diretor ficaram 100 milhões de dólares mais ricos.

Assim, "Glass Onion" é maior em absolutamente tudo quando comparado ao pequeno e charmoso filme anterior. Como diz o ditado popular, porém, tamanho não é documento. Enquanto "Entre facas e segredos" se passava em uma casa, em um ambiente mais "íntimo", "Glass Onion" exibe o orçamento inflado em tudo; a ação agora se passa em uma luxuosa ilha privada na Grécia, propriedade de um bilionário interpretado por Edward Norton. Ele convida para sua mega mansão um grupo de amigos compostos por uma política (Kathryn Hahn), um cientista (Leslie Odom Jr.), um youtuber (Dave Bautista), uma influencer da moda (Kate Hudson) e uma ex-sócia (Janelle Monáe). Claro que o detetive Benoit Blanc, interpretado por Daniel Craig de forma ainda mais afetada, também aparece para a festa.

A influência ainda é a escritora Agatha Christie, que escreveu o clássico "O Caso dos Dez Negrinhos", livro de 1939 em que um grupo de pessoas é convidado por um homem misterioso para passar um final de semana em uma ilha. "Glass Onion" é divertido, tem bom elenco e é muito bem filmado, mas acho que algo se perdeu no meio do caminho. Como disse, o charme inglês do filme de suspense anterior dá lugar a um cenário ensolarado, personagens histéricos e uma mansão digna de um vilão de James Bond (olá, Daniel Craig). A personagem mais interessante é a interpretada por Janelle Monáe, que está ótima. Daniel Craig está claramente se divertindo no papel, bem diferente do seu 007. Tecnicamente, direção de fotografia e direção de arte são ótimos, e há uma sequência passada no claro/escuro da mansão que é muito bem feita. Só que o filme tem 30 minutos além do necessário (coisa comum hoje em dia) e o roteiro substitui suspense por histeria e muita pirotecnia. Tá na Netflix.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Andor (2022)

 
Andor (2022). Dir: Tony Gilroy. Disney+. Escrevendo sobre algumas séries e filmes que vi este ano antes que ele acabe. "Andor" é, de longe, a melhor série baseada no universo Star Wars já feita. Esqueça fan service desnecessário, esqueça piadinhas bobas, esqueça até dos Jedi e dos sabres de luz. Não deveria ser surpresa, pois ela é baseada no melhor filme derivado de Star Wars, "Rogue One", dirigido por Gareth Edwards em 2016. O ás na manga aqui está no roteirista/produtor/diretor Tony Gilroy; diz a lenda que Gilroy resgatou "Rogue One", que tinha um roteiro perdido e sem foco, reescrevendo grande parte do filme e criando um final emocionante. Deu certo.


"Andor" volta alguns anos na história de "Rogue One" e apresenta o surgimento de um de seus heróis, Cassian Andor (Diego Luna), que está mais para um anti-herói, na verdade. Andor é um órfão que vive de golpes e pequenos roubos. Ele não tem aquele ar "perfeito" de um Luke Skywalker, muito pelo contrário. Como visto em "Rogue One", ele não pensa duas vezes antes de matar alguém a sangue frio, se isso for necessário. A série também foca no início da Rebelião contra o Império, uma época entre os três primeiros episódios de Star Wars e a trilogia composta por "Uma Nova Esperança", "O Império Contra-Ataca" e "O Retorno de Jedi".

A Rebelião é representada por um ótimo novo personagem, Luthen, interpretado pelo grande Stellan Skarsgård. Luthen é idealista, mas é também um personagem bastante ambíguo. Curiosa a participação de uma personagem secundária dos filmes originais, a Senadora Mon Mothma (Genevieve O'Reilly), que é colocada em evidência aqui. A série é bastante "pé no chão"; há a sensação (bem-vinda) de que personagens importantes podem morrer a qualquer momento. A série, com 12 episódios, é dividida em alguns "blocos"; há uma história que parece ter saído diretamente de algum filme de 2ª Guerra Mundial (tipo "Comando 10 de Navarone"), quando Andor se junta a um grupo que pretende atacar uma represa e roubar uma fortuna do Império. Há também um "bloco" passado em uma prisão em que conhecemos outro bom personagem, Kino Loy, interpretado por Andy Serkis (a voz de Gollun, de "O Senhor dos Anéis"). Há episódios que lidam com os bastidores da política em Coruscant, a capital do Império, em que vemos a senadora Mothma tentando levantar dinheiro para a Rebelião; e assim por diante.

Como disse, não há em "Andor" espaço para aparições de Darth Vader ou Obi-wan Kenobi. Não há versões fofinhas de um bebê Yoda. Não há cenas com Luke Skywalker rejuvenescido em computação gráfica. O que temos é uma série com roteiros sólidos, boas interpretações e a sensação de que há realmente algo em jogo. Muito bom. Disponível na Disney+.

Eles não envelhecerão (They Shall Never Grow Old, 2018)

Eles não envelhecerão (They Shall Never Grow Old, 2018). Dir: Peter Jackson. HBO Max. Documentário de Peter Jackson em comemoração aos 100 anos do fim da I Guerra Mundial (1914-1918). Jackson teve acesso a 600 horas de entrevistas e 100 horas de imagens feitas durante a guerra; usando a tecnologia de sua produtora de efeitos especiais, Jackson recuperou, colorizou e sonorizou imagens com mais de 100 anos de idade para apresentar a vida de soldados comuns em uma guerra bárbara e insana.

O documentário costura depoimentos de soldados que sobreviveram à guerra e as ilustra, no início, com as tradicionais imagens em preto e branco filmadas na época. Quando os soldados ingleses chegam ao front, no entanto, a imagem se aproxima, fica mais limpa e se torna colorida. Som ambiente e falas foram acrescentados na pós-produção e trazem à vida cenas dos soldados se acotovelando nas trincheiras ou correndo nos campos de batalha. Há depoimentos nada românticos sobre o dia a dia dos soldados, fazendo as necessidades em valas abertas, lidando com piolhos e ratos e usando o mesmo uniforme por anos seguidos. Ao final, a constatação de que os soldados alemães, do outro lado do campo de batalha, não são tão diferente e que todos, no fim das contas, são apenas peões em um jogo que eles não entendem. Disponível na HBO Max. 

sábado, 17 de dezembro de 2022

Pinóquio (Guillermo del Toro's Pinocchio, 2022)

Pinóquio (Guillermo del Toro's Pinocchio, 2022). Dir: Guilllermo Del Toro e Mark Gustafson. Netflix. Belíssima animação em stop motion que é mais uma versão da história de Pinóquio (sendo a mais famosa a feita por Walt Disney em 1940). A versão de Del Toro é, à primeira vista, mais infantil do que eu esperava; quando se pensa sobre o filme, no entanto, você percebe que ele é bastante profundo. "É um filme sobre a Morte", teria dito Del Toro. De fato, uma história sobre um boneco de madeira que ganha vida acaba sendo, também, sobre o oposto (tanto que Tilda Swinton faz a voz tanto da Vida quanto da Morte no filme).

A animação é brilhante, feita com bonecos articulados e todo tipo de técnica, como substituição de rostos (as expressões de Pinóquio são todas "duras", apropriado para um boneco de madeira) ou bonecos articulados nos mínimos detalhes, como Gepeto. Há também cenários belíssimos e algumas cenas complementadas com elementos em computação gráfica, mas o "coração" do filme é todo feito à mão (com mostra um "making of" na mesma Netflix).

O roteiro mistura elementos infantis e até cenas musicais com temas mais pesados como o crescimento do fascismo na Itália e os efeitos das duas guerras mundiais no Século XX (Gepeto perde o filho Carlo, de 10 anos, em um bombardeio na I Guerra Mundial). O trabalho de vozes também é muito bom. Gepeto é interpretado por David Bradley e o vilão Volpe é feito por Christoph Waltz. Ewan McGregor faz um Grilo tão bom que Del Toro aumentou a importância do personagem durante a produção. O resto do elenco ainda conta com as vozes de John Turturro, Ron Perlman, Finn Wolfhard e até a grande Cate Blanchett fazendo um macaco. A trilha é de Alexandre Desplat.

Não é uma obra prima como "O Labirinto do Fauno" (2006), mas trata de vários dos mesmos temas e tem um visual de encher os olhos. Tá na Netflix.

Undone (2019)

 
Undone (2019). Dir: Hisko Hulsing. Amazon Prime Video. Alma (Rosa Salazar) é uma mulher de 28 anos que sofre um acidente de carro. No hospital, ela começa a ter visões do pai, Jacob (Bob Odenkirk), que morreu quando ela era criança. Jacob a leva a uma série de "viagens" entre o passado e o presente, na tentativa de descobrir como ele morreu, e porquê. Ou... talvez tudo esteja acontecendo apenas na cabeça de Alma.

"Undone" é uma série incrível. Confesso que não a conhecia e assisti aos oito episódios da primeira temporada quase que de uma vez só. São episódios curtos (por volta de 25 minutos), muito bem escritos e feitos com várias técnicas de animação. A trama é tão "maluca", com viagens no tempo, alucinações, transformações, etc, que a animação funciona melhor do que se a série tivesse sido feita de forma "realista". A técnica mais usada é a da rotoscopia, que consiste em gravar atores "de verdade" interpretando seus papéis e, depois, os animadores desenham "por cima" das imagens. A técnica é antiga e já foi usada desde animações tradicionais da Disney a filmes mais experimentais como "Waking Life" (2001) e "O Homem Duplo" (2006), de Richard Linklater. Em "Undone" a técnica é tão detalhada que podemos claramente ver as expressões dos atores e, depois de um tempo, você esquece que está vendo uma "animação".

Criada por Kate Purdy e Raphael Bob-Waksberg, a trama de "Undone" levanta ideias metafísicas que são, o tempo todo, questionadas e comparadas com questões de saúde mental. A avó de Alma foi considerada "louca" e internada, mas quem sabe ela simplesmente via as coisas de outra forma? Os roteiros também misturam elementos dos povos antigos da América; a família de Alma é descendente de mexicanos e há um forte senso religioso tanto no catolicismo da mãe quanto nos aparentes "poderes" de Alma (que estariam ligados a seus ancestrais).

Ou, talvez, tudo não passe de uma "loucura" na cabeça de Alma. É uma viagem. Disponível na Amazon Prime Video (inclusive a segunda temporada, que vou ver em seguida).

O Troll da Montanha (Troll, 2022)

O Troll da Montanha (Troll, 2022). Dir: Roar Uthaug . Netflix. Filme norueguês de monstros que funciona melhor se for encarado como uma paródia aos filmes catástrofe americanos. Há muito da estrutura das produções de Roland Emmerich aqui.

Nora (Ine Marie Wilmann) é uma palenteologista que é chamada para um encontro com a primeira ministra da Noruega. Alguma coisa aconteceu durante as escavações em uma montanha, e grandes marcas são vistas na região. As marcas têm claramente o formato de pegadas, mas ninguém quer dizer o óbvio: alguma criatura gigante saiu andando de dentro da montanha. Por coincidência, Nora é especialista em folclore, alimentada por histórias contadas pelo pai, Tobias (Gard B. Eidsvold). Não demora muito e eles descobrem que a criatura é um "troll" da montanha, com direito a barbicha, rabo e tudo.

Como disse, o roteiro segue a linha de filmes como "Independence Day" e "Godzilla", de Roland Emmerich, em que um cientista desacreditado ganha importância diante de fatos extraordinários. Nora, um assistente do governo e um capitão do exército tentam lidar com a criatura gigante, que é imune ao armamento pesado dos militares. O filme se leva a sério e tem produção bem feita. Por incrível que pareça, não é a primeira vez que trolls são vistos em grandes produções; "O Caçador de Trolls", de 2010, já mostrava os monstros lutando contra humanos modernos. Se não levar a sério, dá para se divertir. Tá na Netflix.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

As Nadadoras (The Swimmers, 2022)

 
As Nadadoras (The Swimmers, 2022). Dir: Sally El Hosaini. Netflix. Incrível história real de duas irmãs que fugiram da Síria em guerra para tentar chegar à Europa em 2015, "As Nadadoras" é uma mistura de filme de guerra, fuga e superação pelo esporte. As irmãs Sara e Yusra Mardini são interpretada por duas irmãs de verdade, Manal e Nathalie Issa, o que traz mais autenticidade à relação das duas. Sara e Yusra nadam desde crianças, por causa da ambição e sonhos do pai (interpretado por Ali Suliman), que havia sido um nadador mas que parou por causa do serviço militar.

Com o início da guerra civil na Síria, as garotas veem colegas sendo mortos todas as semanas em bombardeios; elas decidem tentar fugir para a Alemanha, de onde poderiam (supostamente) trazer o resto da família. A trama é baseada na história real das garotas, que atravessaram grande parte da viagem para a Grécia nadando fora de um pequeno bote lotado de refugiados. A cada ponto da jornada elas encontram pessoas que tanto podem estar tentando ajudar como se aproveitar delas.

(ALERTA DE SPOILERS) O filme é um pouco longo demais e achei que fosse terminar em vários momentos. A chegada à Alemanha não representa o fim da jornada. A jovem Yusra não esqueceu do treinamento de natação e ainda sonha em chegar às Olimpíadas do Rio, em 2016. Não sabia nada sobre a história e foi curioso ver o filme partir da Síria e acabar no Rio de Janeiro (há algumas cenas das olimpíadas recriadas em estúdio). Bom filme. Tá na Netflix.

sábado, 26 de novembro de 2022

À procura do amor (Enough said, 2013)

 
À procura do amor (Enough said, 2013). Dir: Nicole Holofcener. Star+. Comédia romântica que tem a triste honra de ser um dos últimos filmes do ator James Gandolfini, que morreu de ataque cardíaco com apenas 51 anos. Gandolfini ficou famoso interpretando o mafioso Tony Soprano na série da HBO e ficou meio marcado pelo papel; aqui ele mostra um lado totalmente diferente, vulnerável, carinhoso. Roteiro e direção são de Nicole Holofcener, que se especializou em um tipo de comédia romântica mais inteligente que a média (como "Amigas com dinheiro", de 2006, e "Gente de bem", 2018).

Julia Louis-Dreyfus (a Elaine de "Seinfeld") é Eva, uma mãe divorciada que está passando por aquele drama bem americano; a filha está de partida para a faculdade, o que nos EUA significa sair de casa e praticamente cortar os laços com a família. Eva é massagista e carrega uma mesa de massagem para cima e para baixo em Los Angeles. Em uma festa, ela conhece um homem divorciado chamado Albert (Gandolfini), que é careca, gordo e meio desleixado. O fato de que ele também tem uma filha partindo para a faculdade acaba aproximando os dois, que engatam um romance inesperado. Na mesma festa, Eva conhece uma mulher misteriosa interpretada por Catherine Keener (de outros filmes com Holofcener), que se torna sua cliente de massagem.

Há algumas reviravoltas dignas de um "sitcom" mas, no geral, o roteiro é bom e o elenco tem coadjuvantes como a ótima Toni Collette. A trama da mãe sofrendo com a partida da filha para a faculdade foi reciclada por Holofcener na série "Mrs. Fletcher", da HBO, com Kathryn Hahn. Visto na Star+.

sábado, 19 de novembro de 2022

O Milagre (The Wonder, 2022)

 
O Milagre (The Wonder, 2022). Dir: Sebastián Lelio. Netflix. Em 1862, uma enfermeira e uma freira são chamadas para observar uma menina que não come há quatro meses. "Por que chamaram uma freira?", pergunta a enfermeira. "Bem vinda à Irlanda".

Não sabia nada sobre "O Milagre", filme que estreou esses dias na Netflix e traz a grande Florence Pugh ("Não se preocupe, querida") como uma enfermeira inglesa chamada Lib Wright. Ela é contratada pelo comitê de uma pequena vila irlandesa para observar uma garota chamada Anna (Kíla Lord Cassidy). A menina é considerada milagrosa pela vila por, supostamente, conseguir viver sem se alimentar. "Imagino que ela esteja de cama", diz a enfermeira. Só que não é este o caso; a menina parece saudável e disposta. Ela mora com a família em uma casa afastada. Florence Pugh, atriz cuja carreira está em ascensão, está ótima como uma mulher prática e cética, mas que carrega uma perda pessoal. Ela não acredita em milagres e acha que a menina está sendo alimentada às escondidas. "Eu me alimento de maná do céu", diz a garota, que é religiosa fervorosa. A família também acredita em um milagre. O médico (Toby Jones) tem teorias pseudocientíficas sobre "magnetismo" ou "alimentação pela luz". Só um jornalista (Tom Burke) compartilha o ceticismo da enfermeira, mas mesmo ela parece começar a acreditar na garota.

Não vou dar spoilers sobre a trama, mas este é um filme que discute os conceitos de "verdade", "fé" e da importância de se contar histórias. O início de "O Milagre" se passa em um set de filmagens que mostra os cenários do filme que estamos para assistir. Uma narradora diz que "os personagens desta história acreditam nela firmemente". Assim, há uma verdade por trás da história de Anna (que é bastante emocionante), mas as pessoas vão acreditar no que quiserem acreditar. "O Milagre" acaba nos mostrando como um comitê de homens, na Irlanda que havia acabado de passar por uma fome histórica, ficou observando uma garota ficar sem comer por semanas.

A fotografia de Ari Wegner (de "Ataque dos Cães"), é belíssima, assim como a estranha trilha sonora de Matthew Herbert. Filmão. Tá na Netflix.

Zen – Grogu and Dust Bunnies (2022)

 
Zen – Grogu and Dust Bunnies (2022). Dir: Katsuya Kondo. Disney+. Semana passada a internet estava ansiosa por causa de alguns teasers publicados pelo lendário Estúdios Ghibli que acenavam para uma parceria com a Lucasfilm (Disney). Havia até uma foto que mostrava uma estátua do Mestre Yoda, em primeiro plano, e de Hayao Miyazaki, embaçado, ao fundo.


A verdade é que houve, sim, uma parceria, mas para um simples curta-metragem estrelado por Grogu (Baby Yoda, para os íntimos) e aqueles personagens de pó que apareceram em "Meu Amigo Totorô" (1988) e "A Viagem de Chihiro" (2001). O curta é dirigido e desenhado por Katsuya Kondo, que trabalha há anos na Ghibli e foi diretor de animação de longas como "O Serviço de Entregas da Kiki" (1989) e "Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar" (2008).

É bem bonitinho e, como diz o título, "zen". É desenhado à mão com traços simples, sobre um fundo genérico. A trilha sonora é do músico de "The Mandalorian", Ludwig Göransson, e poderia ser muito melhor (estou com vontade de fazer uma edição aqui com as trilhas do mestre Jou Hisaishi, rs). Não sei se mais parcerias vão acontecer, mas uma porta foi aberta. Disponível na Disney+.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Medieval (2022)

Medieval (2022). Dir: Petr Jákl. Netflix. Filme tcheco falado em inglês e com atores hollywoodianos, "Medieval" é uma espécie de "Coração Valente" com toques de "Gladiador". A trama é um tanto confusa, aquele tipo de filme que, de tanto em tanto tempo, você se pega perguntando "Quem é esse cara mesmo?".

Europa, início do século 15; o grande Michael Caine, em uma narração, conta como a Igreja está com problemas. Dois papas foram oficialmente anunciados (um em Roma, outro na França) e o rei Wenceslau da Boêmia (antiga República Tcheca) tem que ir a Roma para ser coroado imperador. Ben Foster é um mercenário chamado Jan Žižka; ele é contratado para sequestrar a Lady Catarina (Sophie Lowe), que seria usada para forçar o apoio de um nobre ao novo rei. Complicado? Pois é.

Toda a parte política serve de pano de fundo para sangrentas batalhas corpo a corpo. A câmera adora pegar em detalhes cenas de membros decepados e cabeças cortadas. O roteiro tenta, em vão, criar algum "romance" entre o mercenário Jan e Lady Catarina. Ben Foster é um ótimo ator, mas seu personagem é monossilábico demais para ser o líder popular que o filme quer que ele seja. Há vários ecos de cenas de "Coração Valente" e batalhas de "Gladiador", mas sem o carisma de um Mel Gibson ou Russell Crowe. Michael Caine melhora o nível do filme em todas as cenas que participa e "Medieval" tem vários bons momentos, mas poderia ser bem melhor. Tá na Netflix.

domingo, 13 de novembro de 2022

Um lugar bem longe daqui (Where the Crawdads Sing, 2022).

Um lugar bem longe daqui (Where the Crawdads Sing, 2022). Dir: Olivia Newman. HBO Max. Típico "filme de Supercine", rs, "Um lugar bem longe daqui" é baseado em um bestseller de Delia Owens. Kya Clark (Daisy Edgar-Jones) é uma garota que mora em uma cabana no pântano, na Carolina do Norte. Ela é chamada de "Menina do Brejo" pelos habitantes da cidade vizinha, que sempre a trataram mal. Garotos de bicicleta descobrem o corpo de um rapaz no brejo e, claro, a garota é acusada de matá-lo. Nem fica muito claro se houve um crime ou se o rapaz simplesmente sofreu um acidente, mas a garota é presa e a trama se torna um filme de tribunal.

Longos flashbacks mostram como Kya, quando criança, sofreu nas mãos de um pai abusivo. A mãe, as irmãs e o irmão vão embora, um a um (sem nem se preocupar com a irmã mais nova?) e a criança, sozinha, aprende a se manter vendendo mariscos, que caça todas as manhãs. Quando adulta, Kya é interpretada pela inglesa Daisy Edgar-Jones, que mais parece uma boneca de porcelana do que com uma mulher que passou a vida inteira trabalhando sob o Sol. Com a ajuda de um rapaz, Tate (Taylor John Smith), ela não só aprende a ler e a escrever como consegue, nos anos 1960, publicar um livro sobre os animais e plantas da região (com ilustrações em aquarela e nome em latim e tudo). Detalhe: ela faz isso tudo por correspondência (home office?), sem nunca encontrar os editores. De uma cabana. No pântano.

Ah, sim, o filme de tribunal. O grande David Strathairn se oferece para ser o advogado na moça, mas o caso era tão sem fundamento, desde o início, que fica difícil se importar muito com o resultado. Uma das produtoras é a atriz Reese Whiterspoon, que comprou os direitos do livro (que vendeu 12 milhões de cópias). A adaptação para o roteiro foi escrita por Lucy Alibar, que escreveu outro livro sobre uma garota crescendo no brejo, "Indomável Sonhadora" (2012). Para passar o tempo. Disponível na HBO Max.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Não se Preocupe, Querida (Don´t Worry Darling. 2022)


Não se Preocupe, Querida (Don´t Worry Darling. 2022). Dir: Olivia Wilde. HBO Max. Alice (Florence Pugh) vive a vida perfeita. Ela mora em uma comunidade planejada em algum lugar ensolarado do oeste americano. Tem uma casa enorme, que ela mantém sempre limpa e arrumada. Ela é casada com Jack (Harry Styles), um rapaz bonito que a ama e, todas as manhãs, sai para trabalhar em seu carrão colorido. Todos os maridos da vizinhança saem para trabalhar na mesma hora, se despedindo das esposas perfeitas e sorridentes. Eles trabalham em um "projeto secreto" em um lugar chamado "Victory". É o sonho americano concretizado. Claro que alguma coisa está errada.

"Não se preocupe, querida" chega à HBO Max depois de um tempo nos cinemas e uma campanha publicitária mais preocupada com as fofocas de bastidores do que com o roteiro. Talvez porque as fofocas fossem melhores. Não que o filme seja ruim, pelo contrário. Tecnicamente, é lindo. Os cenários, figurinos e fotografia parecem uma versão para cinema da série Mad Men (Don Draper se sentiria em casa naqueles cenários). Florence Pugh está excelente. O problema é que, em pleno 2022, nós já vimos episódios de Black Mirror e filmes de Shyamalan o suficiente para adivinhar o que está acontecendo. Quando o final chega, ao invés de "uau", nós apenas dizemos "ah...ok". O roteiro abre, sim, discussões sobre o patriarcado e a visão masculina do mundo (os anos 60 mandaram lembrança). É tudo tão bem feito e interpretado que você não deixa de prestar atenção. Mas... é só isso.

Infelizmente, fica difícil competir com as semanas de intrigas de bastidores que estavam na internet o tempo todo. Se Harry Styles tinha ou não cuspido em Chris Pine em uma exibição do filme. Se Florence Pugh odiava a diretora Olivia Wilde ou só decidiu se afastar das entrevistas. Se Shia LaBeouf havia sido demitido mesmo do filme (como afirmava Wilde) ou não (como os áudios dele provavam). Se Olivia Wilde estava ou não tendo um caso com Harry Styles. E assim por diante. Para quem estiver interessado no filme, está disponível na HBO Max. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

The Looming Tower (2018)

 
The Looming Tower (2018). Criada por Dan Futterman, Alex Gibney e Lawrence Wright. Amazon Prime Video. Minissérie muito boa em dez capítulos que mostra os eventos que levaram aos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington. Há um bocado de informação nos episódios, mas a conclusão a que se chega é que milhares de pessoas morreram nos atentados mais pela incompetência americana do que pela organização da al-Qaeda, grupo terrorista liderado por Osama Bin-Laden.

Jeff Daniels interpreta um agente do FBI chamado John O´Neill; a história dele é tão bizarra que achei que ele tivesse sido inventado, mas ele realmente existiu. O´Neill tinha bom faro para descobrir terroristas mas não era muito com com a política interna americana. Arrogante e bonachão, ele tinha brigas constantes com um diretor da CIA responsável por uma unidade chamada "Alec Station", que investigava Osama Bin-Laden. Interpretado por Peter Sarsgaard, este diretor da CIA acreditava que o FBI não tinha direito às informações obtidas pela agência, que ele guardada a sete chaves. A minissérie mostra como a inteligência americana tinha conhecimento dos terroristas responsáveis pelo 11 de setembro meses ou mesmo anos antes dos atentados, mas escolheu não divulgar suas descobertas.

Outro personagem importante é o agente Ali Soufan (Tahar Rahim), uma americano-libanês que era dos poucos agentes do FBI que, na época, sabiam falar árabe. A série trata das ações da al-Qaeda que levaram a atentados no Quênia (a explosão da embaixada americana) e no Iêmen (quando explodiram um navio de guerra americano). Todos estes eventos, aparentemente isolados, eram peças de um quebra cabeças desconhecido pelos americanos, acostumados a guerrear com nações, e não com grupos independentes. A série mostra também como os americanos perdiam tempo e espaço da mídia se preocupando com histórias "escandalosas" como o o caso do Presidente Clinton com Monica Lewinsky enquanto que FBI e CIA tentavam descobrir ameaças ao país.

A chegada do Presidente Bush só complicou as coisas. A administração não dava importância aos avisos das agências e, pós 11 de setembro, estava mais interessada em culpar o Iraque de Saddan Hussein. É uma super produção filmada em vários países. Por vezes, as birras entre FBI e a CIA parecem exageradas, mas o capítulo 9 mostra um trecho real da investigação feita depois do atentado e vemos como a série reproduziu fielmente o depoimento absurdo de um diretor da CIA. A série é baseada em um livro de Lawrence Wright. Disponível na Amazon Prime Video.

domingo, 6 de novembro de 2022

Enola Holmes 2 (2022)

Enola Holmes 2 (2022). Dir: Harry Bradbeer. Netflix. Millie Bobby Brown está de volta como a irmã mais nova de Sherlock Holmes (Henry Cavill). É mais do mesmo e eu quase parei de assistir na primeira meia hora. O filme melhora mais para o final (só que, aí, não sabe a hora de terminar, hehe).

O diretor Harry Bradbeer fez a excelente série "Fleabag", com Phoebe Waller-Bridge, e usa alguns dos mesmos truques aqui. Enola frequentemente olha direto para a câmera e fala com o espectador, o que era interessante no primeiro filme mas, aqui, já ficou cansativo. Millie Bobby Brown é ótima e já é uma mulher de 18 anos (o que já ficou aparente há tempos em Stranger Things). Henry Cavill faz, talvez, o Sherlock Holmes mais fortão e com cara de modelo do cinema. Cavill e Brown têm boa "química" e o filme é melhor quando os dois estão em cena.
A trama é confusa e envolve o desaparecimento de uma garota que trabalhava em uma fábrica de fósforos, em Londres. Enola é contratada pela irmã para encontrá-la e, coincidência, o caso dela coincide com uma investigação que Sherlock Holmes está fazendo. Assim com o primeiro, é bastante um "filme de menina", com Bobby Brown interpretando uma adolescente inteligente, geniosa e independente, sim, mas que ainda morre de amores pelo rapaz que conheceu no primeiro filme (Louis Partridge). Há cenas de ação e luta que lembram as versões de Holmes dirigidas por Guy Ritchie, com Robert Downey Jr. Helena Bonham Carter reprisa o papel da mãe dos irmãos Holmes (Sam Claflin, que fazia Mycrof Holmes, não retorna para esta aventura). O elenco é bastante inclusivo, seguindo tendência atual de colocar atores de raças e gêneros diferentes em diversos papéis, o que é interessante.
Enfim, "Enola Holmes 2" está longe de ser necessário, mas é diversão passageira e, sem dúvida, prólogo para outras aventuras que virão por aí. Tá na Netflix.

O Enfermeiro da Noite (The Good Nurse, 2022)

 
O Enfermeiro da Noite (The Good Nurse, 2022). Dir: Tobias Lindholm. Netflix. Baseado em uma história real, este é um bom filme de suspense. É também bastante... comedido. Digo, havia diversas oportunidades na trama para transformá-lo em algo sensacionalista, mas não é este tipo de filme.

Jessica Chastain é Amy, uma mãe solteira que trabalha como enfermeira no período noturno em um hospital particular. Ela é atenciosa com os pacientes, que trata pelo primeiro nome, mas ela própria tem um problema no coração que precisa de atenção médica urgente; ironicamente, ela só vai ter direito a um plano de saúde depois de trabalhar um ano no hospital. É então que chega Charlie (Eddie Redmayne), enfermeiro recém contratado para ajudar Amy; ele é calmo, compreensivo e rapidamente conquista a amizade dela, ajudando-a não só no hospital como em sua vida particular, com as filhas dela.

Só que Charlie não é o que parece. Pacientes começam a morrer inexplicavelmente. A polícia se envolve no caso mas enfrenta resistência do próprio hospital, que tem medo de processos. O detetive interpretado por Noah Emmerich tenta mostrar a Amy que Charlie pode ser responsável pelas mortes; ele havia trabalhado em pelo menos nove hospitais, que simplesmente o demitiram e passaram o problema para o próximo empregador. Parece algo kafkaniano, mas realmente aconteceu. Como disse, o filme poderia partir para cenas de ação, ameaças às filhas de Amy ou coisas do tipo, mas prefere ser comedido e até frio a respeito. O terror fica implícito na ideia de que alguém contratado para cuidar de você, indefeso no hospital, pode ser o responsável pela sua morte. Tá na Netflix.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Argentina, 1985 (2022)

Argentina, 1985 (2022). Dir: Santiago Mitre. Amazon Prime Video. Filme argentino novo com Ricardo Darín? Pois é, ele está de volta. Darín interpreta um promotor chamado Julio César Strassera que, em 1985, atuou em um dos julgamentos mais importantes da história argentina. Finda a ditadura militar, o país passou a ser governado por Raúl Alfonsín em 1983; dois anos depois, nove comandantes militares foram acusados de violação dos direitos humanos, assassinato, sequestro e tortura de centenas de pessoas durante a ditadura.

Darín, que está com 65 anos, foi envelhecido para o papel e faz um homem que, a princípio, não acreditava que o julgamento pudesse dar em alguma coisa. O filme faz uma bela recriação de época, mostrando Buenos Aires nos anos 1980 com ótima fotografia de Javier Julia. O roteiro humaniza a figura do promotor mostrando cenas da sua vida familiar; preocupado com o namoro da filha adolescente, Strassera pede ao filho mais novo (um competente Santiago Armas Estevarena) que siga a irmã e relate seus passos. Essas cenas bem humoradas contrastam com o peso das cenas de tribunal; o filme recria depoimentos pesados de pessoas que passaram por tortura ou tiveram familiares sequestrados e mortos. Promotor e equipe são frequentemente ameaçados por telefonemas anônimos ou por "recados" mais claros, como uma bala de revolver supostamente enviada pela Marinha ao promotor.

Darín está ótimo, como sempre, e brilha tanto nas cenas familiares como na cena em que ele lê a acusação aos militares. "Argentina, 1985" foi escolhido pelo país como o representante para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Falando em Oscar e em História argentina, não deixa de ver (na Netflix) "A História Oficial" (1985), belo filme sobre desaparecidos políticos que ganhou o Oscar de filme estrangeiro. "Argentina, 1985" está disponível na Amazon Prime Video.

A Casa do Dragão (House of the Dragon, 2022)

 
A Casa do Dragão (House of the Dragon, 2022). HBO Max. Eis que, depois de um final considerado desastroso, "Game of Thrones" está de volta. Não é exatamente "Game of Thrones", mas quase a mesma coisa; lá está a bela abertura com a música de Ramin Djawadi, os cenários medievais, intrigas palacianas, cenas de nudez e sexo, mortes violentas e uns dragões voando. Criada por

Ryan J. Condal e George R.R. Martin, "A Casa do Dragão" tem dez episódios e se saiu bem melhor do que eu esperava. A trama se passa uns duzentos anos antes do nascimento de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), a "mãe de dragões" da série anterior.

Os efeitos especiais são bastante bons, mas fiquei com a impressão de que a série é mais "light" em termos de orçamento. Grande parte dos episódios se passa dentro dos castelos e o foco me pareceu mais nas pessoas (apesar dos dragões) do que em grandes paisagens ou milhares de soldados feitos em computação gráfica. O elenco é ótimo. Há alguns pulos temporais e vários personagens são interpretados por atores e atrizes diferentes, conforme a idade. No elenco fixo, Paddy Considine faz um Rei Viserys muito bom. Quem rouba todas as cenas, no entando, é Matt Smith como o príncipe Daemon Targaryen; ele, que já foi o Doutor em "Doctor Who" e o Príncipe Philip em "The Crown", faz aqui um personagem totalmente sem escrúpulos e que vive conforme as próprias regras.

A série é, também, mais feminina, particularmente focada no enorme fardo (e beleza) da maternidade. Desde o primeiro episódio já vemos uma cena pesada de parto seguida de morte, tema que se repete por toda a temporada. A princesa Rhaenyra Targaryen é interpretada por Milly Alcock, quando criança e por Emma D´Arcy quando adulta. As duas são ótimas (Alcock, particularmente, é uma revelação). Já a Rainha Alicent Hightower é interpretada por Emily Carey quando criança e por Olivia Cooke quando adulta. Às vezes fica meio confuso entender quem é filho, tio, tia ou sobrinho de quem; ainda mais com nomes parecidos e com a mania desse povo de transar/casar com parentes (bem) próximos.

Peter Dinklage faz falta? Sem dúvida. A trama, às vezes, parece uma novela de luxo? Sim. Mas é tudo bem feito e, por enquanto, vale a pena acompanhar. A segunda temporada, pelo jeito, só em 2024. Disponível na HBO Max.  

sábado, 22 de outubro de 2022

O Desconhecido (The Stranger, 2022)

 
O Desconhecido (The Stranger, 2022). Dir: Thomas M. Wright. Netflix. Bom filme de suspense australiano lançado na Netflix esta semana, "O Desconhecido" não está interessado em pegar o espectador pela mão e explicar tudo. Pelo contrário, leva um bom tempo para você entender o que está acontecendo, e porquê. Baseado em um crime real ocorrido na Austrália em 2003, o filme tem um quê de David Fincher, um clima pesado, bastante lento e introspectivo.

Fica até difícil fazer uma sinopse ou evitar spoilers, mas a trama envolve um homem chamado Henry (Sean Harris, excelente) que entra para um grupo criminoso ao voltar para o oeste da Austrália. Ele conhece Mark (Joel Edgerton, igualmente excelente), que o apresenta a seus superiores e fica responsável por ele. Há várias cenas em que Henry é levado de um lado para outro dentro de um carro, conhece pessoas, recebe envelopes e (assim como o espectador) tenta entender o que está acontecendo. Aos poucos percebemos que as coisas não são como parecem, e a trama tem a ver com o desaparecimento e morte de um garoto ocorrida oito anos antes.
Imagino que este tipo de crime seja raro na Austrália, porque a escala da operação policial é enorme. Leva um bom tempo para você entender quem é quem e como eles planejam revelar o culpado. Tudo isso, porém, acaba sendo secundário em um filme mais interessado em desenvolver um angustiante clima de suspense através das boas interpretações, fotografia e trilha sonora. Joel Edgerton, quase monossilábico, lida mal com a pressão do trabalho e tem pesadelos frequentes com o suposto assassino. O fato de que ele tem que cuidar de um filho pequeno alguns dias da semana só aumenta sua angústia.

Não espere um filme policial com perseguições e tiroteios. "O Desconhecido" está mais para "Mindhunter" e "Zodíaco" do que para "Resgate" (filme de ação com Chris Hemsworth). Tá na Netflix.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (The Lord of the Rings: The Rings of Power, 2022)

 
O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (The Lord of the Rings: The Rings of Power, 2022). Amazon Prime Video. Já havia comentado sobre esta série no Facebook, elogiando o belo visual e a escala gigante do projeto. Isso ainda é verdade mas, confesso, não foi fácil chegar ao final dos longos oito episódios desta primeira temporada. "Os Anéis do Poder" é supostamente a série de TV mais cara de todos os tempos, com um orçamento próximo de 1 bilhão de dólares. Ela foi claramente pensada para ser o "novo Game of Thrones", série da HBO que foi um sucesso gigantesco até um final atrapalhado que deixou os fãs chateados. Curioso que a mesma HBO tenha lançado, praticamente ao mesmo tempo, uma série derivada de "Game of Thrones", "A Casa do Dragão", que é mais popular que a série dos "Anéis" da Amazon.


Afinal, "Os Anéis do Poder" é boa ou ruim? Diria que não é nem uma coisa nem outra; o que é uma pena. Minha experiência, ao ver a série, foi um misto de admiração pela bela direção de arte, os figurinos, a fotografia cinematográfica e o "jeitão" de cinema. Por outro lado, confesso que nunca consegui chegar ao final de um episódio começado tarde da noite... eu dormia mesmo, rs. Terminados os 8 episódios, não consigo me lembrar de nada que tenha realmente me marcado, ou de algum personagem que me despertou muita curiosidade. Os vários "núcleos" de personagens não são muito bem amarrados. Meu favorito, talvez, seja o "núcleo" dos anões em Khazad-dûm, e a relação entre Durin (Owain Arthur) e Elrond (Robert Aramayo).

Já a Galadriel interpretada por Morfydd Clark está longe da nobreza de Cate Blanchett, que interpretou a mesma personagem nos filmes de Peter Jackson. Clark é bonita, mas a personagem é muito mal escrita; para uma elfa com séculos de vida, Galadriel se comporta como uma criança sem paciência em diversos momentos da trama. Ela está em pé de guerra com todos à sua volta, o tempo todo, e o roteiro frequentemente derrapa (ou enrola) quando tem que lidar com ela. Há um núcleo "Hobbit" (sim, sei que não são hobbits) que é mais interessante. Gostei da personagem de Nori (Markella Kavenagh), uma "pé-peludo" que encontra um personagem misterioso na forma de um gigante que (literalmente) caiu dos céus (interpretado por Daniel Weyman).

Talvez a série fosse melhor se não se levasse tão a sério; tudo é muito lento e "pomposo". Diversos episódios têm mais de uma hora de duração. Os personagens não têm diálogos uns com os outros, mas sim longos discursos acompanhados por uma música melosa. Cansa. A Amazon já está produzindo a segunda temporada e li que os criadores planejam fazer cinco temporadas no total. Vamos ver se eles (e o público) têm fôlego para isso. Disponível na Amazon Prime Video.

domingo, 16 de outubro de 2022

The Old Man (2022)

 
The Old Man (2022). Criada por Robert Levine e Jonathan E. Steinberg. Star+. Boa série de espionagem que tem dois ótimos atores veteranos, Jeff Bridges e John Lithgow. Bridges passou por um susto na vida pessoal recentemente; primeiro foi diagnosticado com um linfoma. Durante a quimioterapia, contraiu Covid e quase morreu da doença. A pandemia e o câncer de Bridges pararam a produção da série duas vezes e é possível perceber algumas mudanças físicas nos atores durante o passar dos capítulos.


A série, bem escrita e interpretada, trata da história complicada de um ex-agente da CIA (Jeff Bridges) que é uma espécie de Jason Bourne na terceira idade. Depois de se envolver na guerra entre os soviéticos e afegãos nos anos 1980, ele "desapareceu" por trinta anos, se escondendo em uma cidade pequena dos EUA. Só que alguém quer fazer uma "limpeza de arquivo" e manda um assassino atrás dele. Começa então um jogo de gato e rato entre a CIA, o FBI e o personagem de Bridges, que destrói os assassinos enviados para matá-lo em cenas bastante violentas de luta corpo a corpo.

John Lithgow interpreta Harold Harper, um diretor da CIA que era o responsável por Bridges no Afeganistão, nos anos 1980. Ele tem uma relação de amor e ódio com o personagem de Bridges e você nunca sabe se ele está tentando matá-lo ou salvá-lo (às vezes, os dois). Cenas em flashbacks mostram Bridges novo no Afeganistão (interpretado por Bill Heck, que é parecido com Jeff Bridges quando jovem), quando se envolve com uma mulher misteriosa (Leem Lubany). Há também a personagem de uma filha que, por muito tempo, você só conhece como uma voz pelo telefone. Os roteiros são bem escritos e os episódios são como filmes de uma hora de duração. Há uma paranoia constante no ar e você nunca sabe quem pode estar traindo quem ou porquê. A atriz Amy Brenneman (que fazia a companheira de De Niro em "Fogo contra Fogo", de Michael Mann) também está no elenco como uma mulher "comum" que é jogada no meio da confusão (suas ações e motivações são as mais difíceis de acreditar).

O final deixa aberta a porta para uma segunda temporada. A série é um pouco confusa às vezes, mas vale a pena pelas boas interpretações e por ver Jeff Bridges de volta. Disponível na Star+. 

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Apollo 11 (2019)

Apollo 11 (2019). Dir: Todd Douglas Miller. Netflix. Não sei se este documentário chegou agora na Netflix, mas eu o achei meio sem querer e é muito, muito bom. Feito em 2019 para comemorar os 50 anos do pouso da Apollo 11 na Lua, o documentário apresenta imagens restauradas da época com qualidade belíssima, misturando formatos como 35mm, 16mm, imagens de TV e até imagens inéditas filmadas em 70mm. Há um realismo impressionante nas imagens e a edição (que ganhou um Emmy) te transporta para o final dos anos 1960, intercalando imagens do centro de controle da NASA com belas cenas de milhares de pessoas aguardando o lançamento em praias e varandas da Flórida.


Outra coisa que ajuda no realismo é o fato de que não há uma narração atual ou entrevistas feitas depois do evento; a não ser por alguns gráficos (simples) que explicam as várias etapas da missão, tudo o que se vê e escuta na tela são da época. Os produtores tiveram que escolher entre milhares de horas de imagens e gravações de áudio para recriar os eventos de julho de 1969. A única coisa de "fora" é a boa trilha sonora eletrônica que acompanha as imagens, composta por Matt Morton.

O resultado é um belo filme com enxutos 93 minutos que sabe que não precisa inventar muito para impressionar o espectador; imagens e sons da época falam por si. Do impressionante transporte do colossal foguete Saturno V à base de lançamento até a beleza da manobra de acoplamento do módulo lunar com o de comando na volta da Lua, "Apollo 11" mostra o gigantesco feito técnico que levou três seres humanos de um pântano da Flórida até a superfície lunar. É também um filme bastante analógico, o que reflete a tecnologia da época; é impressionante ver aquelas centenas de técnicos lidando com réguas de cálculo e planilhas em papel enquanto, a 300 mil quilômetros de distância e a 40 mil km/h, três astronautas sobreviviam dentro de uma pequena nave de lata. Muito bom. Tá na Netflix.

sábado, 8 de outubro de 2022

A Queda (Fall, 2022)

A Queda (Fall, 2022). Dir: Scott Mann. Bom filme de suspense com uma premissa simples. Depois de perder o marido em uma escalada, Becky (Grace Caroline Currey) decide subir em uma das torres de comunicação mais altas do mundo. A torre tem 600 metros de altura, fica no meio do deserto e está abandonada há anos. Becky é acompanhada pela melhor amiga, Hunter (Virginia Gardner), uma Youtuber em busca de adrenalina que fica gravando a aventura com seu celular.


A trama vira um filme de sobrevivência de roer as unhas quando as duas amigas se veem presas no alto da torre, sem conseguir descer, sem comida e com pouca água. É claramente um filme de baixo orçamento, mas bem filmado e com várias sequências de efeitos especiais invisíveis. As duas atrizes são fraquinhas e o único conhecido do elenco é Jeffrey Dean Morgan (de The Walking Dead), que aparece rapidinho como o pai de Becky.

Mas este não é um filme de interpretações. É um bom exercício de suspense bem conduzido pela direção, fotografia e edição. O roteiro arruma novos modos de complicar a vida das garotas, seja por problemas com o sinal do celular, tempestades ou abutres que rondam o topo da torre. Simples e eficaz. Nos cinemas.

Bosch: Legacy (2022)

Bosch: Legacy (2022). Amazon Prime Video. "Bosch" é uma boa (e pouco falada) série policial da Amazon. Teve sete temporadas entre 2014 e 2021. Estava ficando "órfão" da série quando vi que lançaram "Bosch: Legacy", que é basicamente uma oitava temporada de "Bosch", com elenco reduzido e várias mudanças.


SPOILERS DE BOSCH SPOILERS DE BOSCH SPOILERS DE BOSCH

A nova série foca na carreira de Harry Bosch pós polícia de Los Angeles. Trabalhando agora como detetive particular, Bosch é basicamente o mesmo cara; a nova posição, porém, traz vantagens e desvantagens. Como detetive, ele não tem mais o respaldo e auxílio da Polícia de Los Angeles, então está mais limitado; por outro lado, o fato de não ser mais policial o deixa mais livre para atitudes "questionáveis".

São dez episódios com praticamente a mesma equipe de criação/produção. O autor Michael Connelly, a produção de Eric Overmeyer e vários nomes conhecidos aparecem nos créditos da nova abertura da série (saudade da trilha da antiga, rs). Além de Bosch, voltam ao elenco os personagens da filha dele, Maddie (Madison Lintz), que agora também é policial, e da advogada Honey Chandler (Mimi Rogers). Aqui e ali aparecem algumas figuras conhecidas (não vou estragar as surpresas). Os roteiros são bons, mas confesso que sinto falta dos outros personagens e cenários. Tudo é "menor" nesta continuação/spin-off. Até a icônica casa em que Bosch morava (usada em "Fogo contra Fogo", de Michael Mann) acabou saindo de cena. As várias tramas lidam com um milionário que deseja encontrar um herdeiro, um tiroteio da polícia que termina mal, o desejo de justiça/vingança de Chandler contra o homem que tentou matá-la na outra temporada e a história de um estuprador que está atacando uma vizinhança.

A temporada termina com várias pontas abertas, o que significa que vem uma segunda por aí. "Legacy" não tem a mesma qualidade do velho "Bosch", mas serve para matar a saudade. Disponível na Amazon Prime Video.

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Blonde (2022)

 
Blonde (2022). Dir: Andrew Dominik. Netflix. Curioso que 2022 tenha visto o lançamento das cinebiografias de dois ícones da cultura pop americana: Elvis Presley e Marilyn Monroe. São filmes bastante diferentes e bastante iguais; os dois são bem longos, quase três horas de duração. São também muito estilizados... e bastante exagerados.

"Blonde" é baseado em um livro de Joyce Carol Oates que é descrito como uma "biografia de ficção". Ou seja, não se deve ler o livro (ou ver o filme) esperando uma reportagem jornalística. O que se vê nas telas é uma história baseada, em linhas gerais, na vida e morte de Marilyn Monroe, mas não se apegue a detalhes. É um filme visualmente belo e extremamente difícil. Andrew Dominik, o diretor, fez o belíssimo "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", com Brad Pitt, que tinha uma das mais belas fotografias do cinema. "Blonde" é igualmente belíssimo; o diretor usa e abusa de janelas com proporção diferente (tela cheia, tela quadrada, cinemascope, etc) e diversos tipos de cores e texturas. A produção também recriou fielmente enquadramentos de ensaios fotográficos, penteados e figurinos icônicos de Monroe, uma das mulheres mais fotografadas da história, e você é transportado para os anos 1930, durante a infância de Norma Jeane, e depois para os 1950 e 1960.

O problema é que o filme pega (bastante) pesado com a vida e morte de Norma Jeane/Marilyn Monroe. Ana de Armas está excelente no papel e magnética na tela (vem aí uma provável indicação ao Oscar). Só que garota é mostrada como se fosse um "pedaço de carne" (o termo é até usado no roteiro). O filme começa com Norma criança, (mal) criada por uma mãe solteira abusiva, e não lhe dá trégua por quase três horas de duração; acompanhamos estupros, casamentos abusivos, divórcios, abortos e todo tipo de humilhação. Tudo isso acompanhado por uma trilha sonora viajante de Nick Cave e Warren Ellis. É massacrante.

Confesso que precisei de duas sessões para ver o filme inteiro. Voltando à comparação com "Elvis", ao menos naquele filme dá para curtir as músicas do "rei" e ver algumas recriações de shows, etc. Em "Blonde" são pouquíssimas as sequências em que o espectador tem um "respiro" (há algumas passagens idílicas de Marilyn com o dramaturgo Arthur Miller, interpretado por Adrien Brody, mas logo o preto-e-branco retorna e, com ele, a depressão, as drogas, os surtos, etc).

E, sim, há uma parte do filme dedicada ao suposto "romance" entre Marilyn e John Kennedy, mas é a sequência mais bizarra deste filme, o que é dizer muito (e quando a edição comparou a ereção do presidente com imagens de foguetes na TV eu joguei a toalha). Difícil, veja por sua conta e risco. Tá na Netflix. 

Lou (2022)

 
Lou (2022). Dir: Anna Foerster. Netflix. Em um (raro) bom filme de suspense e ação produzido pela Netflix. Allison Janney (The West Wing, Eu Tônia) é uma ex agente da CIA que está escondida em uma ilha isolada na costa dos EUA (embora, vamos combinar, se ela está se escondendo, está fazendo um péssimo trabalho; todos na cidadezinha próxima a conhecem pelo nome). Estamos nos anos 1980, como mostram imagens do presidente Reagan na TV e pela trilha sonora composta por sucessos como "Africa", do Toto.

Uma vizinha, Hannah (Jurnee Smollett), tem a filha pequena sequestrada por um homem misterioso, Phillip (Logan Marshall-Green, que é um CLONE de Tom Hardy) e é então que Lou se revela como uma especialista em armas e em seguir rastros em uma floresta encharcada. Lou e Hannah partem em busca da menina debaixo de uma tempestade e, no caminho, as peças do quebra cabeça vão se juntando para revelar quem é quem, de verdade.

Janney, que geralmente interpreta personagens cômicas ou sarcásticas, está bem em um filme de ação. Ela carrega marcas físicas e psicológicas no corpo das coisas que teve que fazer em décadas na CIA. Hannah também carrega marcas pelo corpo, resultado de um relacionamento tóxico. É um filme de ação de um ponto de vista feminino, o que inclui discussões sobre maternidade e relacionamentos abusivos. Tá na Netflix. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Late Night (2019)

Late Night (2019). Dir: Nisha Ganatra. Netflix. Comédia leve que mais parece o piloto de alguma série não produzida pela Netflix. Ela é escrita, produzida e interpretada pela comediante Mindy Kaling, que criou e escreveu várias séries de TV e faz aqui sua estreia em longa metragens. Ela interpreta Molly, uma mulher que trabalhava em uma empresa química mas acaba contratada como roteirista de um "talk show" em Nova York (nada muito realista). O programa está no ar há muitos anos e é comandado por Katherine Newbury (a grande Emma Thompson), mas os números do ibope não estão bons. Os executivos da emissora querem trocá-la por um comediante jovem e com um humor mais "moderno". Claro que a roteirista novata (apesar de fazer uma coisa errada atrás da outra) vai ser a salvação da apresentadora veterana.

Como disse, é um filme bem leve. Há referências a temas sérios como sexismo no local de trabalho, a superficialidade da mídia e outros assuntos relevantes, mas o roteiro nunca vai muito a fundo em nenhum deles. As cenas de stand-up também não são muito engraçadas, o que é um problema em um filme sobre comediantes. Emma Thompson está competente, como sempre; sua personagem uma hora é um monstro como a Meryl Streep de "O Diabo Veste Prada" (clara influência aqui), para em seguida agir como uma pessoa humana e compreensiva. Vale como comédia leve. Tá na Netflix.

sábado, 17 de setembro de 2022

Boa noite, mamãe! (Goodnight Mommy, 2022)

Boa noite, mamãe! (Goodnight Mommy, 2022). Dir: Matt Sobel. Amazon Prime Video. Filme de suspense que é a versão americana de uma produção austríaca de 2014 (que eu não vi). Não posso comparar esta versão com a original, mas este filme estrelado por Naomi Watts é apenas razoável.

Dois garotos gêmeos, Elias e Lukas (Cameron Crovetti e Nicholas Crovetti) são levados pelo pai até uma casa de campo isolada (daquele tipo que só existe em filmes de terror). Lá eles se encontram com a mãe (Naomi Watss), que não viam há algum tempo. A mãe está com a cabeça coberta por bandagens; só os olhos, nariz e a boca podem ser vistos. Há um clima tenso entre a mãe e os garotos; ela estabelece regras (não brincar em um celeiro próximo, manter as janelas fechadas) e é fria com Elias quando este lhe dá um desenho que fez. Os garotos, por sua vez, começam a achar que aquela mulher, com o rosto coberto, talvez não seja realmente a mãe deles.

Como disse, não vi o filme original, mas algo me diz que a versão europeia é mais interessante. O clima inicial de suspense acaba substituído por uma série de situações bizarras em que não sabemos o que é real ou imaginação das crianças. A trama esconde um segredo que, sinceramente, não é muito difícil de descobrir. Naomi Watss, que andava meio subida das telas, passa grande parte do filme com o rosto coberto. Não é um filme ruim, mas também não é grande coisa (fiquei com vontade de ver o original). Disponível na Amazon Prime Video.