segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Kate (2021)

Kate (2021). Dir: Cedric Nicolas-Troyan. Netflix. Comecei a ver achando que iria parar depois de uns dez minutos, mas "Kate" é bem melhor do que esperava. Passado no Japão moderno, parece que estamos vendo um "anime" em live action. O roteiro é uma bobagem, mas o diretor francês tem bastante estilo e entrega alguns planos bem feitos seja em cenas de correria pelas ruas de Tokyo ou nas várias lutas corpo a corpo em restaurantes, ruelas escuras ou arranha-céus. A fotografia noturna usa luzes neon, projeções em prédios e luminosos que lembram um pouco "Akira" ou "Ghost in the Shell".

Mary Elizabeth Winstead cresceu e não é mais (faz tempo) aquela adolescente de "Scott Pilgrim". Aqui ela é uma assassina profissional chamada Kate, que trabalha para uma espécie de figura paterna interpretada por Woody Harrelson, que a treinou desde criança. (Meio spoiler, mas é a premissa do filme>>) Kate acaba envenenada mortalmente após assassinar o membro de um clã da Yakuza. Com apenas alguma horas de vida, ela parte para se vingar pelas ruas de Tokyo, matando um bocado de gente mesmo com a saúde se deteriorando a olhos vistos.

Winstead está bem no papel. Ela é boa atriz e se garante tanto nas cenas dramáticas quanto nas de ação. Há bastante violência em cenas de tiroteio, lutas com facas e até katanas. Kate acaba formando uma parceria (meio forçada) com uma adolescente (Miku Martineau) que é a sobrinha do chefão que ela pretende matar. Eu acho que o filme poderia terminar uns 15 minutos antes (como sempre) mas há um clímax bem feito, com muita pancadaria e tiros em um arranha-céu. Bobagem clichê divertida. Tá na Netflix. 
 

The White Lotus (2021)

The White Lotus (2021). Dir: Mike White. HBO Max. Minissérie em 6 capítulos que mistura o belo visual do Havaí com o retrato do pior que existe no ser humano, "The White Lotus" é deliciosamente perversa. A série é passada em um resort exclusivo de alta classe que só pode ser acessado por barco. A cena da chegada dos hóspedes, aliás, me lembrou o começo dos episódios de "Ilha da Fantasia". O hotel é frequentado pela "nata" dos turistas internacionais, quase todos brancos, ricos e acostumados ao melhor.

O hotel é gerenciado por Armond (Murray Bartlett, excelente), um alcoólatra que está sóbrio há cinco anos. Ele é cortês e competente, mas está no limite da paciência. Nesta semana, ele vai ter que lidar com: a) um casal em lua de mel formado por Shane Patton (Jake Lacy) e a esposa, Rachel (Alexandra Daddario). Shane é o típico "filhinho da mamãe", milionário que está passando férias em um paraíso, mas não se conforma que o hotel errou e o colocou na SEGUNDA maior suíte do hotel. Ele não vai se esquecer desse erro, nem que, com isso, estrague a lua-de-mel e as férias. A esposa, Rachel, vem de uma família com menos dinheiro e, aos poucos, percebe que entrou em uma roubada (embora ela não saiba direito o que quer da vida).

b)a família Mossbacher é formada por uma executiva bem sucedida, Nicole (Connie Britton), o marido Mark (Steve Zahn), a filha insuportável Olivia (Sydney Sweeney) e o filho Quinn (Fred Hechinger). Olivia trouxe uma amiga, Paula (Brittany O'Grady), e as duas têm um estoque de remédios e drogas capaz de dopar um exército. Nicole é workaholic e passa as férias em chamadas com a China. O pai, Mark, é um coitado que tenta se aproximar dos filhos mimados das formas mais idiotas do mundo. Os adolescentes, quando não estão no celular, só sabem mostrar como estão revoltados com as injustiças do mundo (enquanto aproveitam as férias em um resort dez estrelas).

c) Jennifer Coolidge é Tanya, uma "perua" de meia idade que traz na bagagem as cinzas da mãe, que ela pretende jogar no oceano. Ela bebe muito e está sempre com dores; em uma visita ao spa do hotel ela recebe uma massagem "milagrosa" de Belinda (Natasha Rothwell). Tanya se "apaixona" por Belinda e a convida para jantares e passeios, além de prometer financiar uma clínica particular para a massagista, que realmente acredita na promessa.

Todos estes personagens se cruzam pelos corredores luxuosos do hotel e pelas praias paradisíacas do Havaí mas, pelo jeito, nunca estão felizes. A série tem um humor muito sarcástico e há algumas cenas bastante fortes, que contrastam com a direção de fotografia maravilhosa e a trilha sonora composta por canções tradicionais do Havaí. Disponível na HBO Max.
 

Voyagers (2020)

Voyagers (2020). Dir: Neil Burger. Amazon Prime. Ficção-científica adolescente que foi bastante criticada, mas que não achei tão ruim (assisti com zero expectativas). A principal crítica é que o roteiro é basicamente uma versão espacial de "O Senhor das Moscas", livro de William Golding que mostrava o que acontecia a um grupo de crianças que naufragou em uma ilha deserta. Sem orientação de adultos e entregues à "natureza humana", o resultado era bem ruim.

Neste filme, 30 crianças são criadas desde bebês para partir em uma viagem sem volta; eles vão embarcar em uma nave que vai viajar por 86 anos até chegar a um planeta distante, em uma "nave geracional". Se tudo correr bem, só seus netos, nascidos na nave, chegarão ao destino. Richard (um competente Colin Farrell) é o único adulto a bordo. Dez anos depois, a nave é mantida pelos 30 (agora) adolescentes e por Richard. Só que alguns problemas começam a acontecer; os adolescentes descobrem que uma bebida azul, que eles tomavam depois das refeições, era uma droga que inibia o desejo sexual, entre outras coisas (as futuras gerações seriam criadas em laboratório, se dependesse dos cientistas). Eles param de tomar a droga e, aos poucos, começam a agir de forma desinibida, o que gera conflitos, revoltas, ciúmes e atração sexual.

O elenco adolescente é bom (Lily-Rose Depp, filha de Johnny Depp, está no elenco) e o filme tem bom visual e efeitos especiais competentes. O roteiro é um tanto previsível (mesmo para quem não leu "O Senhor das Moscas") mas, como disse, não é um filme ruim. Ele poderia, sim, ser bem mais ousado. A impressão que dá é que o diretor não pode (ou não quis) chocar o público, então o filme fica no meio do caminho quando trata de sexualidade ou violência. Disponível na Amazon Prime. 

Madame (2017)

Madame (2017). Dir: Amanda Sthers. Amazon Prime. Comédia dramática que poderia ter rendido bem mais, "Madame" lembra um pouco "Que horas ela volta?", filme brasileiro em que Regina Casé interpretava uma empregada "da família" em uma casa de São Paulo. Aqui, uma família americana rica tem uma casa enorme em Paris. O casal principal é interpretado pelos grandes Harvey Keitel e Toni Collette, excelentes. A empregada é Rossy de Palma, espanhola vista em vários filmes de Almodóvar.

A americana organiza um jantar de gala em que até o prefeito de Londres estará presente, mas há um problema: o filho de Harvey Keitel, Steven (Tom Hughes) aparece de surpresa, o que faz com que a mesa tenha 13 convidados. Para fazer um número par, a patroa pede que a empregada coloque um vestido e se sente à mesa ("fale pouco, beba pouco"). Só que um convidado, um vendedor de arte inglês (Michael Smiley), acaba se apaixonando pela espanhola (que ele acredita ser da realeza da Espanha).

Está armada uma comédia de erros em que o rico inglês começa a sair com a empregada espanhola, acreditando que ela é uma rica excêntrica, enquanto que a patroa americana não se conforma que a empregada tenha uma vida amorosa melhor do que a dela. Toni Collette está muito bem como uma mulher rica mas mal amada, que acha que a empregada deve voltar "ao seu lugar". O tom cômico se torna mais dramático conforme o ciúme da patroa aumenta e ela começa a interferir no romance da empregada. Harvey Keitel está divertido e Rossy de Palma está muito bem. É um filme bem europeu, com produção francesa mas falado em inglês. O tema poderia ter rendido mais, mas não é um filme ruim. Disponível na Amazon Prime.
 

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Quanto Vale (Worth, 2021)

Quanto Vale (Worth, 2021). Dir: Sara Colangelo. Netflix. O filme vale pelas interpretações de Michael Keaton, Stanley Tucci e Amy Ryan. Baseado na história de real dos acontecimentos após os atentados de 11 de setembro de 2001, Keaton interpreta o advogado Ken Feinberg; ele foi o responsável por chefiar uma comissão que iria determinar o valor das indenizações que os sobreviventes e suas famílias receberiam do governo americano. A comissão foi criada, também, para evitar que milhares de pessoas abrissem processo contra as companhias aéreas usadas pelos terroristas para derrubar o World Trade Center, em Nova York, e atacar o Pentágono, em Washington.

As melhores cenas envolvem o embate entre Michael Keaton e Stanley Tucci (excelente), que interpreta Charles Wolf; ele havia perdido a esposa no WTC e criado um grupo civil independente que não concordava com os valores determinados pela comissão oficial. Quanto vale uma vida? O valor da indenização deveria ser igual a todos ou variar dependendo da riqueza (ou pobreza) da família da vítima? É possível colocar um valor financeiro da perda de um pai, marido, esposa ou filho? O personagem de Michael Keaton tenta ver tudo de forma racional e matemática enquanto que Stanley Tucci quer que as vítimas sejam vistas como seres humanos, e não números.

O filme não chega a responder direito a estas questões, mas, como disse, vale pelas interpretações. Amy Ryan (sócia de Michael Keaton na firma de advocacia), entrevista pessoalmente dezenas de vítimas e suas famílias e se envolve de forma mais pessoal com seus dramas. O tema ainda é atual. Os atentados completam 20 anos este mês e centenas de bombeiros ainda lutam para receber indenizações por doenças adquiridas durante as operações de salvamento. Tá na Netflix.


Cowboys do Espaço (Space Cowboys, 2000)

Cowboys do Espaço (Space Cowboys, 2000). Dir: Clint Eastwood. HBO Max. Clint Eastwood era um jovem de 70 anos quando produziu, dirigiu e estrelou este filme. A premissa de “Cowboys do Espaço” é difícil de engolir, mas o filme é gostoso de ver e o elenco é ótimo. 40 anos depois de ter sido trocado por um macaco no programa espacial americano, Frank Corvin (Eastwood) é chamado pela NASA para consertar um satélite russo que estava caindo de volta para a Terra. O personagem de Eastwood havia desenhado o sistema de um satélite americano e seu programa havia sido roubado pelos soviéticos em plena Guerra Fria. Ele consegue convencer (chantagear, na verdade) os chefões da NASA que ele e sua antiga equipe eram os únicos capazes de consertar o satélite russo antes que ele queimasse na atmosfera. E que equipe; James Garner (72 anos na época), Donald Sutherland (65 anos) e Tommy Lee Jones (que só tinha 54 anos, mas sempre teve “cara de velho” e interpreta um piloto que teria a mesma idade de Eastwood).

O filme é bem divertido, dirigido com leveza por Eastwood e com interpretações bem humoradas dos outros atores veteranos. Há várias sequências que brincam com a idade dos personagens, como sequências de treinamento e exames médicos. James Cromwell (na época com 60 anos) faz seu tradicional papel de babaca burocrático como um dos diretores da NASA. A agencia espacial americana, aliás, deve ter apoiado o filme, pois várias sequências foram feitas em instalações da NASA, que na época ainda mantinha os ônibus espaciais funcionando. O clímax do filme, em órbita terrestre, ainda abre espaço para uma trama envolvendo fantasmas da antiga União Soviética e cenas de sacrifício e heroísmo. Divertido. PS: o ator Jon Hamm, da série Mad Men, aparece rapidamente como um piloto na cena em que Tommy Lee Jones é visto pela primeira vez. Revisto na HBO Max.
 

20.000 Léguas Submarinas (20,000 Leagues Under the Sea, 1954)

20.000 Léguas Submarinas (20,000 Leagues Under the Sea, 1954). Dir: Richard Fleischer. Disney+. Sempre bom rever este clássico da Disney, baseado no livro de Júlio Verne. O roteiro de Earl Felton não é muito fiel ao livro, mas este é dos raros exemplos em que o filme é até melhor que o original. James Mason está inspirado como o Capitão Nemo, um homem que se rebela contra a sociedade e vai para o mar em um submarino que é uma maravilha tecnológica. O Nemo do livro era bem menos obcecado e vingativo que o do filme, mas a mudança é boa. O grande Kirk Douglas interpreta o marinheiro Ned Land, que é contratado para matar o "monstro marinho" que estaria atacando navios no final do século 19. O monstro acaba se revelando ser o submarino Nautilus, do Capitão Nemo; Ned Land (Douglas), o Professor Aronnax (Paul Lukas) e seu assistente (Peter Lorre) se tornam seus prisioneiros.

Os efeitos especiais, feitos com miniaturas e pinturas, ainda impressionam, mesmo para um filme feito em 1954. Um dos pontos altos é o combate com uma lula gigante que ataca o Nautilus. Nunca havia percebido como algumas cenas podem ter servido de inspiração para "Caçadores da Arca Perdida" (1981); quando um homem do governo americano vem recrutar o Professor Aronnax para uma expedição, a cena lembra o momento em que os agentes americanos recrutam Indiana Jones para achar a Arca Perdida antes dos nazistas. Outra cena parecida é quando Kirk Douglas sai correndo de uma floresta, perseguido por dezenas de índios, assim como Harrison Ford no começo de "Caçadores". E o clímax de "20 mil Léguas Submarinas" se dá em uma ilha remota, assim como o final de "Caçadores da Arca Perdida" (Indiana Jones vai até a ilha em um submarino, falando nisso). Destaque para as belas cenas submarinas e para a trilha sonora de Paul Smith. O filme está na Disney+ e continua ótimo. 

Greystoke: A Lenda de Tarzan, o Rei da Selva (Greystoke: The Legend of Tarzan, Lord of the Apes, 1984)

Greystoke: A Lenda de Tarzan, o Rei da Selva (Greystoke: The Legend of Tarzan, Lord of the Apes, 1984) . Dir: Hugh Hudson. HBO Max. Fuçando entre os filmes "antigos" da HBO Max, encontrei este, que acho que assisti há muito tempo em VHS ou na TV; mas foi como ver pela primeira vez. Ele fez relativo sucesso na época do lançamento e trouxe ao mundo Christopher Lambert e Andie McDowell, em seus primeiros papéis.

É um filme que envelheceu mal. O roteiro original foi escrito por Robert Towne (de "Chinatown"), mas era longo e não terminado. O projeto foi passado a Hugh Hudson (de "Carruagens de Fogo") que terminou o roteiro com Michael Austin. Visto hoje, os gorilas são claramente pessoas vestindo fantasias, mesmo tendo sido feitas pelo mestre Rick Baker. A visão da África e dos habitantes locais também se tornou bem arcaica. Christopher Lambert (que disputou o papel com Viggo Mortensen, vejam só) está bem como o "rei da selva", mas sua imitação de macaco acaba se tornando mais engraçada do que realista. Andie McDowell era uma modelo e sua voz teve que ser dublada por Glenn Close, por causa do sotaque sulista. O grande Ian Holm interpreta um explorador belga que é salvo de um ataque de pigmeus por Tarzan (que nunca é chamado por esse nome, aliás).

A parte passada na África é a mais interessante. As filmagens foram feitas em Camarões, mas várias cenas da floresta foram recriadas em estúdios na Inglaterra. Lambert não fala (ao menos em inglês) até a segunda parte do filme, passada na Europa, para onde Tarzan é levado. Há algumas observações interessantes sobre o contraste entre a sociedade civilizada versus a natureza selvagem mas, como disse, o filme envelheceu mal e tudo é carregado demais. A boa fotografia foi feita por John Alcott (que trabalhou com Kubrick) e a edição é da veterana Anne V. Coats (Lawrence da Arábia, O Homem Elefante e... 50 Tons de Cinza?). Vale pela curiosidade. Disponível na HBO Max.