segunda-feira, 30 de agosto de 2021

The Pacific (2010)

The Pacific (2010). Vários diretores. HBO Max. Assinar a HBO Max, para mim, tem mais a ver com explorar o acervo passado do canal do que o presente. "The Pacific" é um dos motivos. É uma minissérie irmã de "Band of Brothers" (2001), espetacular retrato da reconquista da Europa pelos soldados aliados na 2ª Guerra Mundial. Como diz o título, "The Pacific" foca nas batalhas travadas pelos americanos contra os japoneses nas centenas de ilhas do Oceano Pacífico. Não é tão boa quanto "Band of Brothers", mas chega perto. São dez capítulos com produção executiva de Tom Hanks e Steven Spielberg, o que garantiu um alto orçamento e cenas de batalhas quase tão espetaculares quanto "O Resgate do Soldado Ryan" (1998).

Baseada em relatos de combatentes reais, a série acompanha uma série de Fuzileiros Navais (os famosos "Marines") em ferozes lutas travadas no mar, nas praias e selvas de diversos arquipélagos dominados pelos japoneses. Spielberg estabeleceu um padrão de realismo (e violência) em "Soldado Ryan" que revolucionou o modo como o cinema retratou a 2ª Guerra, e "The Pacific" recria isso em violentas cenas de combates. Entre uma batalha e outra, porém, o roteiro trata do lado humano dos fuzileiros, focando em três personagens, Robert Leckie (James Badge Dale), Eugene Sledge (Joseph Mazzello) e John Basilone (Jon Seda). Curioso que Joseph Mazzello divida a tela com um jovem Rami Malek. Os dois trabalhariam juntos, anos depois, interpretando John Deacon e Freddie Mercury em "Bohemian Rhapsody".

Há mais episódios "parados" do que "Band of Brothers", creio; o combate no Pacífico estava mais para um guerrilha na selva do que a guerra na Europa. Por outro lado, "The Pacific" é mais ousada em cenas de nudez e sexo (o que, se não me engano, não havia em "Band of Brothers"). Há um episódio passado na Austrália em que vemos vários soldados americanos se envolvendo com as mulheres locais. É uma série americana, então claro que os americanos são vistos como heróis que salvaram o mundo, apesar de haver várias cenas em que o comportamento deles é questionável. Os japoneses pouco são vistos, a não ser como centenas de alvos, morrendo (e matando) às centenas. Os americanos se referem a eles com uma série de nomes racistas e preconceituosos (o que, provavelmente, é uma recriação realista de como se falava na época), embora seja aparente certo respeito como combatentes ferozes. O último episódio mostra a volta para casa dos soltados, a maioria com uma expressão de "e agora?" no rosto. PS: uma terceira série está sendo feita pelos mesmos produtores; aparentemente, vai tratar dos aviadores, mas não será veiculada pela HBO, mas pela Apple. Sinal dos tempos.

 

domingo, 29 de agosto de 2021

Antebellum (2020)

107 - Antebellum (2020). Dir: Gerard Bush e Christopher Renz. HBO Max. Não sabia NADA sobre este filme quando fui assistir (que é como geralmente eu gosto de ver um filme), o que resultou em uma experiência no mínimo curiosa. Ruim mas, ao menos, curiosa. Ao dar uma lida a respeito depois, porém, fiquei pasmo sobre como toda e qualquer surpresa que existe no roteiro foi revelada em trailers, sinopses e praticamente qualquer mídia sobre o filme. "Antebellum" (que significa "antes da guerra", geralmente ao se referir ao período antes da Guerra Civil Americana), foi vendido como um filme na mesma linha de "Corra" e "Us", de Jordan Peele, que conseguiram a façanha de misturar filmes de terror com discussão racial. Vamos por partes.

"Antebellum" começa com um belo plano sequência em uma fazenda no Sul dos EUA, mostrando uma daquelas mansões brancas e lentamente indo até os fundos, onde ficavam os escravos. O plano termina com o assassinato de uma escrava que havia tentado fugir. Acompanhamos então, por uns 40 minutos, um filme na linha de "12 Anos de Escravidão", com toda a crueldade da época. Janelle Monáe é uma escrava chamada Eve, que sofre junto com os companheiros os abusos dos capatazes brancos, quase todos soldados do exército confederado, que lutava pelo Sul escravocrata dos EUA na Guerra Civil.

O filme então dá uma guinada para o presente, e a mesma Janelle Monáe é Veronica, uma ativista e escritora famosa, rica e bem casada. Todo o horror visto na primeira parte dá lugar a uma mulher empoderada, dona do nariz e do seu destino. Tudo muito bem, mas esta segunda parte é muito mal escrita e, a bem da verdade, chata. Acompanhamos Veronica hospedada em um hotel cinco estrelas e, depois, saindo para uma noitada com as amigas. Mas há algo errado, uma mulher que claramente é uma vilã caricata está rondando Veronica e você sabe que alguma coisa vai acontecer. O "presente vai repetir o passado", ou algum clichê do tipo. E eu não posso falar mais nada. A parte da escravidão é desagradável, claro, pelos abusos mostrados na tela. A parte moderna é simplesmente chata. E todo filme depende de algumas "surpresas" que, repito, estão reveladas nos trailers e até na sinopse da HBO Max. Enfim, veja por sua conta e risco. Uma coisa é certa, "Antebellum" está muito longe de "Corra". Disponível na HBO Max.

 

sábado, 28 de agosto de 2021

Estranho Passageiro - Sputnik (2020)

Estranho Passageiro - Sputnik (2020). Dir: Egor Abramenko. Netflix. Ficção científica russa com charme de filme B, "Sputnik" tem mais a ver com "Vida" (Life, 2017), do que com "Alien" (1979), mas bebe da mesma fonte. Passado em 1983, em plena Guerra Fria, a trama começa com dois astronautas soviéticos em órbita, se preparando para voltar para casa. Eles então percebem que "alguma coisa" está fora da nave, tentando entrar. Corta para uma base soviética, algum tempo depois; uma cientista chamada Tatiana (Oksana Akinshina) é chamada por um coronel para examinar um dos astronautas, Konstantin (Pyotr Fyodorov). Ele é o único sobrevivente daquele voo e carrega consigo algo assustador; um alien está alojado dentro do corpo dele, e sai todas as noites pela boca para explorar em volta. O design do alien é apropriadamente assustador, com longos braços e vários olhos, como uma aranha.

E é basicamente isso. O resto do filme é um embate entre a cientista, que quer salvar a vida do astronauta, e do coronel, que quer transformar o alien em algum tipo de arma. Há alguns segredos desagradáveis que o coronel não contou à cientista, que rendem as cenas mais violentas do filme. Há também uma discussão leve sobre o papel de pais e filhos (o astronauta teria largado um filho ilegítimo em um orfanato) e sobre a ligação simbiótica entre o alien e o astronauta. O filme é escuro e passa o visual utilitário (e analógico) de uma base soviética na Guerra Fria. A primeira parte é melhor que a segunda, mas é um filme interessante. Tá na Netflix.
 

A Arte da Autodefesa (The Art of Self-Defense, 2019)

A Arte da Autodefesa (The Art of Self-Defense, 2019). Dir: Riley Stearns. Netflix. Comédia de humor negro que parodia filmes de artes marciais, "A arte da autodefesa" também lida com a fragilidade masculina de forma irônica. Jesse Eisenberg é Casey, um contador que trabalha até tarde na empresa, não consegue puxar papo com ninguém e, quando volta para casa, é recebido só pelo cachorro. Uma noite, quando sai para comprar ração para o pet, Casey é cercado por um grupo de motociclistas que roubam sua carteira e lhe dão uma surra. Assustado, Casey primeiro pensa em comprar uma arma, mas então passa na frente de uma academia de Karatê e resolve entrar. Lá ele conhece um professor carismático que quer ser chamado apenas de "Sensei" (Alessandro Nivola).

Curioso como o filme brinca com os clichês do gênero e até rouba inspiração de filmes como "Karate Kid" (Daniel Larusso leva uma surra de um grupo de ciclistas antes de virar aluno do Sr. Miyagui, por exemplo). Só que "A Arte da Autodefesa" está mais para um "Clube da Luta" do que para "Karate Kid". Casey se torna obcecado pela academia e quer andar o tempo todo com a faixa amarela na cintura. Ele começa a ouvir música pesada e a ser ríspido no trabalho. Ele até deixa de estudar Francês e passa a estudar Alemão, uma língua "mais máscula", segundo o Sensei.

Só não espere uma comédia escancarada. Pelo contrário, o roteiro se torna cada vez mais sério (embora ainda irônico) até chegar ao final. Jesse Eisenberg está muito bem, assim como Alessandro Nivola, que interpreta o Sensei como um homem manipulador. Imogen Poots é a única presença feminina, como uma aluna da academia que tenta chegar à faixa preta mas é mantida para trás pelo machismo do Sensei. Tá na Netflix.
 

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Raised by Wolves (2020)

Raised by Wolves (2020). HBO Max. Série de ficção-científica que tem os primeiros dois capítulos dirigidos por ninguém menos que Ridley Scott, "Raised by Wolves" é tão fascinante quanto decepcionante. A criação de mundo é bela; dá para sentir a influência de Scott na direção de arte, nos cenários, na trilha sonora, em tudo. Há também um bocado de referências a outros filmes dele, como Blade Runner, Alien, Prometheus (particularmente este último, mais discussões à frente). As interpretações são, no geral, muito boas. Discutem-se alegorias religiosas, inteligência artificial e reprodução, destino e acaso, ateísmo e fé. Pena que a série tenha longos 10 capítulos, que acabam esticando demais a trama e caindo em repetições e exageros, sem falar na decepção de chegar ao final do décimo episódio e não ter uma conclusão (uma segunda temporada está em produção).

No século 22, uma pequena nave pousa no planeta Kepler 22B. De dentro dela saem duas figuras humanoides, que tratam um ao outro como "Pai" (Abubakar Salim) e "Mãe" (Amanda Collin). São androides. Eles montam acampamento, preparam a terra e se fixam no local. É então que o "Pai" liga a "Mãe" a uma espécie de incubadora e, nove meses depois, ela gera seis bebês, de várias raças. Eles planejam começar uma nova civilização mas, com o passar dos anos, alguns dos filhos morrem por doenças. Para piorar a situação, uma outra nave chega ao planeta, com tripulantes de uma facção religiosa rival, e uma disputa se estabelece. Os dois primeiros episódios são dirigidos por Ridley Scott e o primeiro, particularmente, é sensacional; com algumas modificações, poderia ter sido lançado como um filme independente.

A questão da maternidade é explorada tanto como uma benção quanto como uma maldição; isso já foi visto antes em filmes de Scott como "Prometheus" (lembram da cena de Noomi Rapace na mesa de operação robótica?). Falando em "Prometheus", há várias pistas de que esta série se passe no mesmo "universo compartilhado"... os androides têm o mesmo sangue branco, por exemplo, e (sem entrar em spoilers) há outras dicas espalhadas pela trama. A "Mãe", vivida pela excelente atriz holandesa Amanda Collin, é programada para cuidar de crianças, o que ela faz com uma dedicação praticamente humana (o que remete a "Blade Runner 2049"). O problema, como disse, é que a trama é esticada para dez episódios, e as discussões e temas se tornam repetitivos. Vários mistérios vão surgindo com o decorrer dos episódios e, como espectador, você espera por uma conclusão que não chega. Claro que a HBO tem interesse em séries que possam ser esticadas por várias temporadas, como "Game of Thrones" e "Westworld", mas "Raised by Wolves" chega ao final não com gosto de "quero mais", mas de "faltou alguma coisa". Ela nunca deixa, porém, de ser fascinante de se assistir. Disponível na HBO Max.
 

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Palavras que borbulham como refrigerante (Cider no yô ni kotoba ga wakiagaru, 2020)

Palavras que borbulham como refrigerante (Cider no yô ni kotoba ga wakiagaru, 2020). Dir: Kyohei Ishiguro. Netflix. Se você procurar pela definição de "Kawaii" no dicionário, vai achar este filme (na verdade, "Kawaii" pode ser traduzido como "fofo", "gracinha"). Coprodução japonesa com a Netflix, "Palavras que borbulham como refrigerante" pode, a princípio, assustar. Esqueça a calma filosófica de um Hayao Miyazaki (ou Makoto Shinkai); este é um anime do século XXI, passado em grande parte dentro de um shopping, com cores fortes e design exagerado. Eu quase desisti nos primeiros quinze minutos, confesso; o roteiro foi se revelando aos poucos e, então, fiquei com um sorriso bobo até o final dos curtos 87 minutos de duração.

A trama fala sobre um rapaz que gosta de fazer "haikais", aquela poesia japonesa composta por três linhas de 5, 7 e 5 sílabas. Como estamos no século XXI, ele publica seus poemas online, embora tenha poucos seguidores. Acompanhamos também uma garota chamada "Smile", que é uma "influencer" com milhares de seguidores. Apesar da fama, ela tem vergonha dos dentes da frente (estilo Mônica) e está sempre usando máscaras (e não é por causa de covid). O garoto e a garota, claro, acabam se conhecendo e se aproximando, embora daquele modo bem japonês (respeitoso e distante). Parece que você vai ver só um romancezinho adolescente mas, devagarinho, o roteiro se torna poético.

O rapaz trabalha em uma casa para idosos (dentro do shopping, veja você) e há um senhor que procura por um disco (um LP) antigo, porque ele "não quer se esquecer do passado". O anime moderno se torna uma busca pelo passado (e pelas tradições do passado). Os adolescentes se unem para procurar pelo disco perdido do velho. O shopping se prepara comemorar o aniversário com um tradicional festival japonês. O possível romance entre o garoto tímido e a garota popular está ameaçado por um segredo dele. Sim, é meio "novelinha", mas bem "kawaii". Tá na Netflix. 
 

Aqueles que me desejam a morte (Those who wish me dead, 2021)

Aqueles que me desejam a morte (Those who wish me dead, 2021). Dir: Taylor Sheridan. HBO Max. Em breve, na sua "Tela Quente". Nos dias de hoje não faz muito sentido chamar um filme de "telefilme", mas este é claramente um. Daquele tipo de produção competente (para o que se propõe), com meia dúzia de astros recebendo seu cheque tranquilos, tecnicamente ok, tiroteios, perseguições... ei, que tal colocarmos um grande incêndio também?
Angelina Jolie é Hannah, uma bombeira que está traumatizada por não ter conseguido salvar uns garotos em um incêndio florestal. Junta-se à trama um contador que está fugindo de dois assassinos profissionais (Aidan Gillan, de "Game of Thrones", e Nicholas Hoult); ele tem informações sigilosas sobre um desvio de dinheiro feito por pessoas poderosas, que o querem morto. Junto dele está seu filho, um garoto de uns dez anos bem interpretado por Finn Little. Os assassinos conseguem matar o contador mas, incompetentes, deixam o garoto escapar na floresta. E quem ele encontra durante a fuga? Angelina Jolie, claro, que precisa salvar o garoto para ficar em paz com o passado e satisfazer o roteirista.
Os assassinos quase roubam o filme. Gillan (que interpretava "Littlefinger", em "Game of Thrones"), é naturalmente repugnante e um bom vilão; Nicholas Hoult, com seu rosto de "bom moço", surpreende como assassino. O elenco ainda conta com Jon Bernthal como um policial (com a obrigatória esposa grávida). O filme apresenta um grande grupo de bombeiros no início mas, curiosamente, eles praticamente não são mais vistos, nem mesmo quando um grande incêndio acontece na floresta. Não é um filme ruim, embora nunca ouse muito e, como disse, está destinado à uma noite na Globo, depois da novela. Disponível na HBO Max.

 

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (Onward, 2020)

Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (Onward, 2020). Dir: Dan Scanlon. Disney+. Confesso que conhecia pouco sobre esta animação. Foi lançada nos cinemas pouco antes da pandemia, fracassou nas bilheterias e foi parar na Disney+. Fiquei surpreso quando foi indicada ao Oscar de Melhor Animação. Resolvi visitar agora na Disney+ e me surpreendi positivamente. Não tem muito a "cara" de uma animação da Pixar, é mais urbana e adolescente, mas o roteiro é honesto e, coisa rara, ele melhora conforme avança.

A trama se passa em um mundo de fantasia em que a mágica se perdeu por causa das facilidades do mundo moderno, como lâmpadas elétricas, carros e outras comodidades. Ainda há elfos, centauros, dragões e coisas do tipo, mas estão todos "civilizados". O roteiro segue a vida de dois irmãos, Ian (voz de Tom Holland) e Barley (Chris Pratt); Ian, o mais novo, é tímido e inseguro. Barley, o mais velho, é confiante, falastrão e acredita piamente em magia e no poder dos velhos tempos. Os dois descobrem que o pai (que morreu quando Ian era bebê) deixou para eles um cajado mágico e um encantamento que permitiria que ele voltasse à vida por 24 horas. Só que a magia dá errado e apenas metade do pai (basicamente só as pernas) volta do além. Cabe aos irmãos partir em uma jornada atrás de uma pedra mágica que traria o pai, inteiro, de volta.

Como disse, o filme fica melhor conforme avança. A aventura dos irmãos é divertida e o filme, como todo produto Pixar, é tecnicamente muito bem feito. O bom trabalho de voz de Tom Holland e Chris Pratt é acompanhado por Julia Louis-Dreyfuss e Octavia Spencer, entre outros. Talvez não vire um clássico, mas é uma boa aventura. Disponível na Disney+.
 

Beckett (2021)

Beckett (2021). Dir: Ferdinando Cito Filomarino. Netflix. Thriller com John David Washington que nunca cumpre a boa promessa inicial. Washington é Beckett, um turista que está passeando pelas montanhas da Grécia com a namorada (Alicia Vikander). Os dois se envolvem em um grave acidente de carro e Beckett se vê em um pesadelo; ao invés de ajudá-lo, policiais tentam matar Beckett logo que ele sai do hospital. Sem falar a língua e ferido, ele tenta sobreviver enquanto foge da polícia e tenta chegar a Atenas, na esperança de encontrar refúgio na embaixada americana.

Há algo de Hitchcock nessa premissa; o mestre inglês do suspense adorava colocar pessoas comuns em situações extraordinárias (Intriga Internacional. O Homem que Sabia Demais, etc); o problema é que o roteiro de "Beckett" fica só na promessa. A situação em que ele se encontra é intrigante, mas depois de um tempo esperamos algo mais do que cenas repetitivas de encontros violentos com os perseguidores e fugas mirabolantes.

Vicky Krieps, de "Trama Fantasma" (de Paul Thomas Anderson) e do recente "Tempo" (de Shyamalan), interpreta uma ativista que o personagem de Washington encontra pelo caminho; Boyd Holbrook (de "Narcos" e "Logan"), é um funcionário da embaixada americana. O filme foi coproduzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, da RT Features ("Frances Ha", "Me Chame pelo seu Nome") e tem trilha sonora do grande Ryuichi Sakamoto. John David Washington apanha um bocado e faz o que pode com o roteiro pouco desenvolvido. 


 

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Val (2021)

Val (2021). Dir: Ting Poo e Leo Scott. Amazon Prime. Bom documentário sobre a vida do ator Val Kilmer. O filme apareceu sem nenhuma propaganda na Amazon Prime, mas eu o aguardava há algum tempo. Val Kilmer nunca chegou ao status de "astro" como Tom Cruise ou Harrison Ford, longe disso, mas foi sempre um ator marcante mesmo nas produções "B" que fizeram parte de seu currículo nos últimos anos. Recentemente foi atacado por um câncer de garganta que acabou com sua voz forte e debilitou sua aparência. Ele sobreviveu, mas é triste ver o que a doença fez com sua figura.

Sem poder falar (a não ser tampando um buraco na garganta com os dedos), Val Kilmer resolveu contar a própria história, usando centenas de horas de filmagens feitas por ele mesmo desde criança. Sim, é um projeto cheio de vaidade, mas Kilmer é um ator, acostumado à própria imagem a vida inteira. Ele e os irmãos brincavam de fazer filmes amadores em um rancho na Califórnia e Kilmer continuou gravando a própria vida; bastidores de filmes, testes para diretores como Scorsese (ele tentou o papel de Ray Liotta em "Os Bons Companheiros") e Stanley Kubrick, ensaios, conversas com a família, etc. Há cenas curiosas dos bastidores de "Top Gun", "Batman", "The Doors", "Fogo contra Fogo", "Tombstone" e o caos que foram as filmagens de "A Ilha do Dr. Moreau", com Marlon Brando.

Todo o "glamour" do passado contrasta com a situação presente de Kilmer. Há uma sequência bem desconfortável em que o vemos assinando centenas de autógrafos para fãs em uma convenção qualquer; Kilmer passa mal e tem que interromper a sessão de autógrafos. Sem poder fazer mais filmes, ele agora depende de aparições públicas para ganhar algum dinheiro. O documentário é narrado pelo filho de Kilmer, Jack, que tem a voz bem parecida com a do pai. O trabalho de edição é muito bem feito, misturando centenas de imagens de várias décadas diferentes para contar a história de um grande ator. Disponível na Amazon Prime.

Mito e Magnata: John DeLorean (Myth & Mogul: John DeLorean, 2021)

 

Mito e Magnata: John DeLorean (Myth & Mogul: John DeLorean, 2021). Dir: Mike Connolly. Netflix. Documentário dividido em três partes (que foi concebido como um longa metragem de 2 horas) sobre John DeLorean, criador do carro que leva seu nome. Com design futurista e portas que abriam como uma espaçonave, o carro ficou famoso como a máquina do tempo do filme "De Volta para o Futuro", e provavelmente você vá ver o documentário por causa disso; a não ser por uma cena no início, porém, o filme não é mais citado.

Quem foi John DeLorean? Um cara bastante complicado; executivo mais jovem da GM, DeLorean deixou um salário de 600 mil dólares por ano para criar a própria empresa, a DeLorean Motor Company. Seu sonho era fazer um carro "futurista", com design arrojado e motor econômico. Recebeu 100 milhões de dólares do governo da Irlanda do Norte para construir o carro em Belfast no final dos anos 1970; os empregos criados pela empresa eram muito bem-vindos pela população local. O problema é que Belfast era uma zona de guerra, com conflitos constantes entre católicos e protestantes, tanques de guerra nas ruas e explosões de bombas. Os trabalhadores não eram especializados mas, contra todas as expectativas, DeLorean conseguiu lançar o carro em apenas dois anos e meio.

Com vários problemas mecânicos, no entanto, o carro não vendeu. Apesar da empresa estar praticamente falida, John DeLorean mantinha o padrão de vida de um magnata, casado com uma modelo muito mais jovem e com gastos exorbitantes. DeLorean acabou envolvido em uma acusação séria de tráfico de drogas, problemas trabalhistas e familiares. A ex-esposa, em depoimento, diz que ele era um "narcisista maldoso". Um jornalista o acusa de roubar invenções e designs de outras pessoas. Há farto uso de imagens da época filmadas pelo lendário documentarista D. A. Pennebaker. Apesar disso, fiquei com a impressão de que o documentário não conseguiu, no final, pintar uma imagem melhor de John DeLorean. O filme parece indeciso se quer mostrá-lo como um gênio não reconhecido ou, na verdade, como um babaca. Tá na Netflix.

domingo, 1 de agosto de 2021

Os Pequenos Vestígios (The Little Things, 2021)

Os Pequenos Vestígios (The Little Things, 2021). Dir: John Lee Hancock. HBO Max. (Ok, assinei a HBO Max, vamos ver se vale a pena). Este filme é como se pegassem uma temporada de "True Detective" e transformassem em um longa metragem. Temos os atores classe A (Denzel Washington, Rami Malek, Jared Leto), temos um serial killer que mata mulheres, temos aqueles quartos escuros que parecem ficar ainda mais tenebrosos quando alguém acende a luz, temos aquelas cenas de autópsia com uma mulher nua exposta sobre a mesa, temos um clima pesado e depressivo... enfim, você já viu tudo isso antes.

O que não significa que o filme seja ruim. Quem gosta de um suspense policial bem feito, mesmo que clichê, pode assistir sem medo. O melhor de "Os Pequenos Vestígios", claro, é Denzel Washington. Ele já fez filmes do tipo antes (como "O Colecionador de Ossos", 1999, com Angelina Jolie) e é meio surpreendente que tenham conseguido contratá-lo para este filme, mas ele está muito bem. Denzel interpreta um xerife de uma cidade do interior que vai até Los Angeles buscar umas provas para um caso. Ao chegar lá, é reconhecido por vários outros policiais e ficamos sabendo que ele já havia trabalhado como detetive em Los Angeles. Rami Malek é o detetive que substituiu Denzel quando ele saiu da cidade, há cinco anos. Malek, ao contrário de Denzel Washington, está muito estranho. Ele não me convenceu em nenhum momento como um detetive "estrela" de homicídios. A bem da verdade, em vários momentos ele ainda parece estar interpretando Freddie Mercury, rs. Malek está investigando uma série de mortes de mulheres em Los Angeles e (coincidência) o caso pode ter ligação com uma investigação antiga de Denzel. E então entra Jared Leto, interpretando o louco de sempre, que pode (ou não) ser o principal suspeito do caso.

Como disse, não há nada de novo. David Fincher (Seven, Garota Exemplar, Zodíaco) teria feito um trabalho bem melhor. Nas mãos de John Lee Hancock, "Os Pequenos Vestígios" é intrigante e atmosférico o suficiente para prender a atenção. A crítica, em geral, falou muito mal do filme. Em cartaz na HBO Max.
 

Nem um Passo em Falso (No Sudden Move, 2021)

Nem um Passo em Falso (No Sudden Move, 2021). Dir: Steven Soderbergh. HBO Max. Detroit, 1954. Dois capangas, interpretados por Don Cheadle e Benicio Del Toro, são contratados por um mafioso (Brendan Fraser) para um trabalho rápido. Ele precisam manter refém a família de um empregado da GM (David Harbour) enquanto este vai até a empresa pegar um documento secreto. As coisas dão bastante errado e Cheadle e Del Toro se descobrem no meio de uma trama complicada que envolve segredos corporativos, disputas entre mafiosos, a polícia, entre outras coisas.

Soderbergh está à vontade como diretor, editor e diretor de fotografia (sob pseudônimos) do filme. Para representar a desorientação dos personagens, Soderbergh uma uma lente grande angular que distorce os cantos da imagem, aumentando alguns personagens e diminuindo outros. A direção de arte recria muito bem os anos 1950 e o elenco é cheio de figuras conhecidas, como Jon Hamm, Ray Liotta e Bill Duke (além de uma surpresa não creditada).

Apesar de não ser exatamente um "filme de assalto" como a série "Onze Homens e um Segredo" (também de Soderbergh), a trama envolve uma série de golpes e traições envolvendo o tal "documento secreto". O roteiro fica bastante confuso conforme avança e o final poderia ser melhor, mas não importa. É bem dirigido, tem bom elenco e vale ser visto. Na HBO Max.