Escrito e dirigido por Jeff Nichols ("Amor Bandido"), "Loving" conta a história real de Richard e Mildred Loving, um casal que, no final dos anos 1950, foi mandado para a prisão pelo simples fato de que ele era branco e ela, negra. Apesar do tenso conteúdo racial, o diretor/roteirista Jeff Nichols optou por ser bastante comedido ao relatar os acontecimentos históricos; "Loving" é um filme em que a violência e os conflitos são muito mais psicológicos do que físicos. Não espere, assim, por cenas em que membros da Ku Klux Klan aparecem no meio da noite, queimando cruzes e espancando pessoas. ou discursos inflamados e teatrais como (no divertido) "Estrelas Além do Tempo", também em cartaz.
É até por esse motivo, aliás, que "Loving" é tão eficiente. A premissa é simples mas tão revoltante que causa uma angústia crescente em quem assiste ao filme. Richard e Mildred simplesmente se amam e querem ficar juntos e pelos primeiros vinte, vinte e cinco minutos de projeção é isso que acontece. Richard Loving (Joel Edgerton, ótimo como sempre) é um pacato pedreiro que vive em uma região do estado da Virginia, EUA, que é bastante miscigenada. Ele está sempre acompanhado de amigos negros com quem prepara carros para lucrativas corridas de rua. Mildred (Ruth Negga, sublime, indicada ao Oscar de Melhor Atriz) é sua namorada. Ela está grávida de Richard e os dois resolvem se casar no estado vizinho. Richard enquadra a certidão de casamento e pendura ao lado da cama dos dois. O casamento serve de estopim para que a polícia invada a casa e leve os dois para a cadeia. Em plenos anos 1950, nos EUA, o casamento interracial ainda era proibido no estado da Virginia. O juiz lhes dá duas opções: passar um ano na cadeia ou serem banidos da Virginia por 25 anos.
O casal passou uma década em batalhas judiciais para tentar reverter a decisão da Virginia, uma disputa que chegou até a Suprema Corte dos Estados Unidos em 1967. Enquanto isso, Richard e Mildred tentam levar a vida como podem, convivendo com sinais sutis (ou não tão sutis assim) de racismo o tempo todo. Um amigo de Richard chega a lhe dizer que ele poderia simplesmente se divorciar da esposa. A imprensa começa a enviar jornalistas e fotógrafos à casa dos dois, o que é uma faca de dois gumes; por um lado, a exposição pode ajudar na disputa judicial. Por outro, eles começam a se tornar conhecidos e a situação fica cada vez mais insuportável, principalmente para o volátil Richard. O filme erra, em minha opinião, na construção do personagem do advogado do casal, Bernie Cohen (Nick Kroll). Ele é mostrado como um rapaz sem nenhum carisma nem muitos conhecimentos legais e fica difícil acreditar que ele tivesse competência para reverter o caso dos Loving na Suprema Corte.
Filmes biográficos estão em alta nos últimos anos. Só entre os indicados ao próximo Oscar de melhor filme temos "Lion: A Jornada para Casa", "Até o Último Homem" e "Estrelas Além do Tempo" (além das outras categorias, como "Jackie", "Loving", etc). Geralmente eles terminam com fotos e/ou filmagens das pessoas reais em que o filme é baseado, para dar ainda mais legitimidade ao roteiro. Nem sempre isso resulta em um bom filme, mas "Loving", com sua direção segura, é bastante bom.
João Solimeo
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