"Mais forte que bombas" começa com o nascimento de um bebê. Curiosamente, é um filme muito mais sobre morte do que sobre nascimentos. Ou, talvez, seja a respeito de como as memórias fragmentadas da vida de uma pessoa podem gerar a criação de outra.
O bebê é filho de Jonah (Jesse Eisenberg), um professor de sociologia que perdeu a mãe recentemente. Ela era uma grande fotógrafa de guerra chamada Isabelle, encarnada por ninguém menos do que outra Isabelle, a Huppert (de "Elle"). Isabelle morreu em um acidente de carro e deixou para trás o marido Gene (Gabriel Byrne, sempre competente) e os filhos Conrad (Devin Druid) e Jonah.
Uma agência fotográfica de Nova York está organizando uma exposição em homenagem a Isabelle e um antigo colega fotógrafo (interpretado por David Strathairn) vai escrever um artigo sobre ela no "The New York Times". "Eu pretendo escrever a verdade sobre a morte dela", informa o fotógrafo ao marido de Isabelle. Qual verdade? Teria sido a morte dela realmente acidental ou ela teria jogado seu carro contra um caminhão?
O anúncio do artigo gera turbulência na já conturbada família de Gene, Jonah e Conrad. O último era muito jovem quando a mãe morreu e não sabe em detalhes como tudo aconteceu. Tímido e extremamente introvertido, Conrad passa os dias com um fone de ouvido espetado na orelha ou jogando videogames. O pai sofre silenciosa e violentamente tentando achar um meio de se conectar com o filho adolescente. Há uma bela cena em que ele conta para a amante (e professora de Conrad) que ele criou um "avatar" dentro do jogo online onde o filho passa grande parte do dia para se comunicar com ele.
O filme é dirigido por Joachin Trier e escrito por Trier e Eskil Vogt. É uma obra de silêncios e muita observação. "É tão difícil assim falar comigo?" perguntam dois personagens em diferentes partes do filme. A montagem é não linear e mistura o presente com diversos flashbacks, memórias e passagens de sonhos. Há diversas narrações que tentam passar o que realmente acontece dentro daqueles personagens, tão fechados e tão sofridos. Huppert passa pelo filme como um verdadeiro fantasma, uma memória que as pessoas ainda tentam manter viva em suas mentes mas que, com o tempo, vai mudando. Em um momento ela parece forte e decidida, em outro uma garota assustada. Há um plano belíssimo em que a câmera apenas fica filmando o rosto de Huppert de frente, que nem mesmo pisca por vários segundos. "Quem sou eu?", a imagem parece perguntar. "Mais forte que bombas" está disponível na Netflix.
João Solimeo
PS: AVISO, TRAILER COM SPOILERS
Nenhum comentário:
Postar um comentário