"O Contador" é o tipo de filme que eu costumo chamar de "bobagem divertida". Imagine um personagem que é um gênio matemático como o John Nash interpretado por Russell Crowe em "Uma Mente Brilhante" (2001), ou o Will Hunting de Matt Damon em "Gênio Indomável" (1997); acrescente a isso o autismo de Dustin Hoffman em "Rain Man" (1988). Para finalizar, imagine que este personagem também é um mestre em artes marciais e um sniper capaz de acertar uma mosca a um quilômetro de distância. Este é Christian Wolff (Ben Affleck), um rapaz discreto e metódico que o resto do mundo conhece como um pacato contador do sul de Chicago.
Acontece que o chefe do Departamento do Tesouro americano (o grande J.K. Simmons) está atrás dele. Wolff aparece anonimamente como uma figura misteriosa em diversas fotos de traficantes e outros criminosos famosos mundo afora e estaria ligado ao massacre de um grupo de mafiosos. Simmons recruta uma jovem analista (Cynthia Addai-Robinson) para descobrir quem é este misterioso "contador" que, milagrosamente, ainda não foi morto por nenhum destes criminosos.
O roteiro (divertidamente absurdo) empilha uma série de tramas e subtramas nos confusos vinte minutos iniciais do filme. Flashbacks nos mostram a infância sofrida do personagem de Affleck, uma criança problemática que acaba afugentando a mãe e provocando no pai (um rigoroso homem do exército) uma forte reação: ele treina o filho autista, mais seu irmão pequeno, em artes marciais, técnicas diversas de defesa e, na escola, a não levar desaforo para casa. "Todo mundo que é diferente acaba assustando as pessoas", recita o pai.
No presente, Ben Affleck é contratado por uma firma de robótica para analisar os livros de contabilidade. Uma jovem funcionária, Dana (Anna Kendrick, que já está um pouco velha para o visual adolescente), havia desconfiado de um desvio no dinheiro da empresa e Affleck é chamado para descobrir se é verdade. Isso dá ao filme a desculpa para mostrar aquelas cenas clichês de gênios matemáticos trabalhando, escrevendo furiosamente fileiras de números nas paredes de vidro de uma sala gigante e fazendo contas impossíveis na cabeça. Quando Affleck descobre que, de fato, alguém estava fazendo "caixa dois" na firma, uma série de assassinatos estranhos começam a acontecer, e logo o filme muda para a fase "Jason Bourne" e Ben Affleck pode mostrar as outras habilidades de seu personagem em grandes cenas de ação.
É tudo, como disse, uma grande bobagem, mas uma bobagem divertida. Há a participação especial de bons atores como John Lithgow, Jeffrey Tambor, Jean Smart e o já citado J.K. Simmons. Jon Bernthal chama a atenção como um assassino contratado para pegar o personagem de Affleck. Uma série de clichês culminam com um grande tiroteio no terceiro ato, em que revelações "surpreendentes" serão feitas. Se você entrar no jogo, pode se divertir com o filme. Se começar a pensar demais, os rombos de lógica vão por tudo a perder. Eu, confesso, me diverti.
João Solimeo