Ainda meio sem saber o que falar sobre "Truman", esta co-produção Espanha/Argentina estrelada por Ricardo Darín. "Maravilhoso" seria um bom adjetivo. Filme sensível, tocante, triste sem ser piegas, engraçado sem ser histérico. É, antes de mais nada, Darín mostrando porque é um dos melhores atores do mundo.
[Atenção, SPOILERS] Ele interpreta Julian, um ator argentino que mora na Espanha. Ele é divorciado, tem um filho de 22 anos morando em Amsterdan e um cachorro chamado Truman, que ele diz que é como se fosse outro filho. Um dia Julian recebe em seu apartamento Tomás (Javier Cámara), um amigo de longa data que veio visitá-lo do Canadá. Os dois se abraçam, Julian deixa o cachorro com uma vizinha e eles saem por Madrid para resolver alguns negócios pendentes. Primeiro visitam o veterinário de Truman, a quem Julian pergunta como é que um cachorro lida com a questão do luto. Julian pretende dar o cachorro para adoção e está preocupado com o modo como o cachorro vai sentir sua falta "depois que ele partir". Ao longo do filme eles visitam uma funerária, onde Julian precisa decidir se quer um enterro comum ou cremação. Finalmente visitam o médico de Julian, a quem o ator declara sua decisão de parar com a quimioterapia. "De que vai adiantar? Eu vou morrer de qualquer maneira, não vou?".
É assim que, lentamente, o espectador toma conhecimento de que Julian tem uma doença terminal e que, para espanto de amigos e família, ele está resignado com o diagnóstico e desistiu de lutar com o inevitável. Escrito e dirigido pelo catalão Cesc Gay (de "O que os homens falam"), "Truman" me lembrou um pouco de "As Invasões Bárbaras", do canadense Denys Arcand. Mas ao contrário daquele filme, quase todo passado em um hospital e nas derradeiras horas de um homem, "Truman" mostra Julian enquanto ele ainda parece saudável e com a vida toda pela frente, o que torna tudo ainda mais assustador. Julian se apresenta todas as noites no teatro (em uma versão da peça "Ligações Perigosas") e ainda tem forças para, em um impulso, pegar um avião e ir almoçar com o filho em Amsterdan (em uma das cenas mais tocantes do filme).
Vale repetir que, apesar do tema triste, este não é um filme piegas ou melodramático. A morte está à espreita no horizonte de Julian (e de todos nós um dia, não?) e ele tenta, no pouco tempo que lhe resta, resolver o destino de seu cachorro, colocar em ordem suas coisas e, principalmente, retomar a amizade com Tomás, que mais se parece como um irmão. O filme nos poupa da parte realmente ruim, quando a doença vai destruir este homem ("Eu era um galã!", diz Julian em dado momento). É uma história sobre o poder da amizade e da dificuldade em se dizer adeus, seja para um amigo, um filho ou um cachorro. (filme disponível no Google Play).
João Solimeo
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