"O Conto da Princesa Kaguya" é o quinto filme dirigido por Isao Takahata para o estúdio Ghibli, gigante da animação japonesa fundado por ele e pelo mestre Hayao Miyazaki (de "Vidas ao Vento"). É também, provavelmente, o último longa do diretor, que vai completar 80 anos. "Kaguya" foi um dos indicados ao Oscar de "Melhor Animação", ao lado de filmes como "Operação Big Hero", "Como treinar seu dragão 2", "Os Boxtrolls" e "Song of the Sea".
A história é baseada em uma lenda japonesa do século 10 sobre um cortador de bambu que encontra na floresta uma linda princesa que, de tão pequena, cabe em sua mão. Ele leva a menina para casa e, junto com a esposa, a adota como filha. A animação é lindamente desenhada por Takahata e seus animadores, em uma técnica que parece feita com lápis de cor, carvão e aquarela. Em um mundo em que as animações tentam ser cada vez mais foto-realistas é um prazer ver a linda palheta de cores que Takahata pinta na tela.
As primeiras cenas que mostram a menina sendo adotada pelo velho casal e se transformando de princesa em um bebê são de grande beleza e sensibilidade. Note a habilidade dos animadores em desenhar a bebê se desenvolvendo e descobrindo o mundo em um ótima cena em que ela começa a engatinhar e seguir alguns animais da floresta, como sapos e insetos. Ela cresce como mágica, aprende a andar e a falar em pouco tempo e logo está correndo pela floresta na companhia de um grupo de garotos liderados por Sutemaru.
Eles levam uma vida feliz até que o pai da garota encontra ouro e roupas requintadas no mesmo bosque de bambus onde descobriu a filha. Ele acredita que os deuses da floresta estão lhe dizendo que a filha merece uma vida melhor e parte com a família para a capital, onde compra uma enorme mansão cheia de empregados e professores de etiqueta. A garota se transforma, a contragosto, na Princesa Kaguya (nome que significa "brilhante", "radiante") e tem que seguir uma série de regras em uma vida bem diferente da que ela levava na floresta. Sua beleza atrai um grande número de admiradores, mas Kaguya exige tarefas impossíveis de seus pretendentes, para desespero do pai, que a quer casada com algum príncipe. Até o Imperador do Japão tenta conquistar Kaguya, sem sucesso. Saudosa da liberdade, Kaguya se torna cada vez mais deprimida. (leia mais abaixo)
O ritmo do filme acompanha o estado de espírito de Kaguya. A primeira parte, passada na floresta e nas montanhas, é alegre e cheia de vida. A vida na corte, com suas obrigações e deveres, é mostrada de forma lenta e, por vezes, entediante. Como na maioria dos contos de fada originais, a história da Princesa Kaguya termina de forma agridoce. Sua melancolia cresce até a descoberta de que, de fato, ela não é deste mundo, levando a um final triste e trágico.
Vale lembrar que Isao Takahata dirigiu o que considero um dos filmes (animados ou não) mais trágicos de todos os tempos, "Cemitério de Vagalumes" (Hotaru no Haka, 1988), a história de um casal de irmãos durante a 2ª Guerra Mundial, que é implacável na descrição dos horrores da guerra. "O Conto da Princesa Kaguya" não está neste nível de dramaticidade, mas não tem o final feliz que geralmente se espera de um filme de princesas feito no ocidente.
Maravilhosamente desenhado e animado, com bela trilha sonora de Joe Hisaishi e direção de Takahata, "O Conto da Princesa Kaguya" é dos melhores animados do estúdio Ghibli. A indicação ao Oscar deve torná-lo mais acessível nos cinemas por aqui. Enquanto isso, você pode vê-lo na íntegra, com legendas em português, neste link.
João Solimeo
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