sábado, 31 de janeiro de 2015

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Há um momento em "Birdman" em que o diretor de uma peça de teatro precisa substituir um ator e começa a sugerir alguns nomes como Michael Fassbender ou Jeremy Renner, entre outros, e descobre que estão todos ocupados fazendo filmes de super-heróis. Ele entra no camarim e vê Robert Downey Jr., na TV, dando uma entrevista sobre o novo "Homem de Ferro".

Este é só um dos vários momentos em que o extraordinário "Birdman" (que tem o subtítulo peculiar de "A Inesperada Virtude da Ignorância") toca em temas bastante pertinentes sobre o estado das coisas em Hollywood hoje. Dirigido pelo mexicano Alejandro Gonzalez Iñarritu, é pura metalinguagem, fotografado e montado de forma tecnicamente assombrosa.

O diretor de fotografia Emmanuel Lubezki, famoso pelos longos planos-sequência que fez com Alfonso Cuarón em "Filhos da Esperança" e "Gravidade", leva o recurso às últimas consequências em "Birdman, que passa como se tivesse sido feito em um único plano, sem cortes de câmera. Pode parecer um detalhe gratuito, mas a forma tem ligação com o conteúdo, já que "Birdman" mostra os bastidores de uma peça de teatro. O plano contínuo faz com que o espectador se sinta parte da companhia teatral, participando dos ensaios, dos testes de figurino, montagem de cenários, etc, até o momento em que tudo tem que dar certo, ao vivo, diante da platéia. É emocionante.

A metalinguagem inclui a escolha de Michael Keaton para representar Riggan Thomson, um ator que havia sido um astro de Hollywood interpretando um herói mascarado no início dos anos 1990, assim como Keaton foi o "Batman" dos filmes de Tim Burton. Thomson está decadente há alguns anos e resolve apostar tudo na produção de uma peça de Raymond Carver ("De que falamos quando falamos de Amor") na Broadway, o templo do teatro de Nova York. A câmera onisciente de Lubezki acompanha os dias finais de ensaio que antecedem a grande estréia, que pode significar a glória ou o fracasso para Thomson e sua equipe.

Ele é o típico artista amargurado, constantemente inseguro do próprio talento e preocupado com seu legado. "Você sabia que Farrah Fawcett morreu no mesmo dia que Michael Jackson?", pergunta Thomson à ex-mulher. Seu alter ego, o personagem Birdman, fica conversando com ele em sua cabeça, lembrando-o constantemente de que é uma fraude. "Você não é um ator, é uma celebridade", lhe diz uma poderosa crítica do New York Times. (leia mais abaixo)


O elenco ainda conta com o ótimo Edward Norton ("A Última Noite"), que também parece uma versão caricata dele mesmo. Seu personagem, Mike Shiner, é um ótimo ator, metódico e aplicado, mas alguém com quem é difícil de se trabalhar. Emma Stone ("Amor a toda prova"), interpreta a filha de Thomson; Naomi Watts ("Você vai conhecer o homem de seus sonhos") é outra atriz amargurada que sempre sonhou em se apresentar na Broadway; Andrea Riseborough é a namorada atual de Thomson e o comediante Zach Galifianakis é seu agente e produtor.

O roteiro foi escrito por Iñarritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris e Armando Bo, que tiveram não só que criar uma trama original mas ainda bolar uma maneira para que ela pudesse acontecer como em uma sequência contínua. É irônico como um filme tecnológico como este, que usa e abusa da manipulação da imagem digital e dos efeitos especiais, seja também uma crítica à Hollywood atual. Pelo menos dois personagens chamam os blockbusters de hoje, com suas cenas de explosões, tiros e sangue, de "pornográficos". Seria fácil para Riggan Thomson voltar a fazer seu personagem famoso e embolsar um cheque milionário, mas ele procura uma forma de ser novamente relevante (alguém se lembra de Harrison Ford, com quase 70 anos, voltando a interpretar Indiana Jones? E ele vai ser novamente Han Solo agora no final de 2015).

"Birdman" é ousado, tecnicamente brilhante e bastante relevante nos dias de hoje. O filme recebeu nove indicações ao Oscar e é o favorito ao prêmio principal, já que venceu a premiação do PGA, o sindicato dos produtores americanos (os últimos sete vencedores do PGA foram, também, vencedores do Oscar de Melhor Filme). Pessoalmente eu gostaria de "Boyhood" levasse o prêmio, mas "Birdman" é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano.

João Solimeo
Câmera Escura

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Homens, Mulheres e Filhos

Em 14 de fevereiro de 1990 a sonda espacial Voyager, nos limites do Sistema Solar, virou sua câmera para trás e tirou uma foto da Terra. Na imagem, nosso planeta aparece como um ponto azul na imensidão do Espaço, o que inspirou o astrônomo e escritor Carl Sagan a escrever um livro chamado "Pequeno Ponto Azul" (Pale Blue Dot). O objetivo de Sagan era mostrar como somos pequenos diante da imensidão do Universo e como nossas brigas por credos, raças e dinheiro são insignificantes. O que não significa que nós não tenhamos importância; pelo contrário, Sagan sempre enfatizou que nós somos feitos da mesma matéria de que são feitas as estrelas.

E aqui estamos nós, em pleno século XXI, cercados por tecnologia por todos os lados e capazes de nos comunicar (e nos fotografar) com o apertar de um botão. E, talvez, nunca estivemos tão solitários. É o que "Homens, Mulheres e Filhos", o novo filme de Jason Reitman, tenta nos dizer. Imagine "Beleza Americana" (Sam Mendes, 1999) na era da internet e dos smartphones. O filme de Reitman tem o mesmo olhar cínico sobre a sociedade branca, rica e entediada americana que a obra de Mendes. Há também ecos de "Pecados Íntimos" (Little Children), filme de 2006 em que o diretor Todd Field mostra como os adultos também podem agir como crianças mimadas. "Homens, Mulheres e Filhos" empresta de "Pecados Íntimos" o recurso de ter um narrador externo que, como um locutor de um documentário científico, conta a história para o espectador (na voz da atriz britânica Emma Thompson).

Reitman faz uso de "segundas telas" dentro da moldura do cinema para que o espectador possa visualizar o que os personagens estão digitando em seus smartphones ou vendo na tela de computadores. Há uma cena, por exemplo, em que enquanto acompanhamos o diálogo entre três adolescentes, também vemos o que duas delas estão falando, via mensagem de texto, entre si. (Leia mais abaixo. Obs: o trailer conta quase todo o filme)


Adam Sandler (em um papel "não Adam Sandler") é Don, o marido frustrado de Helen (Rosemarie DeWitt). Eles não fazem sexo há meses e ele só consegue consolo em sites de pornografia. Um dia o computador dele está com problemas, ele entra no quarto do filho e descobre que o rapaz de 15 anos já está vendo coisas muito mais pesadas do que ele online. Helen também se sente solitária e procura alternativas em um site que promove encontros sexuais entre pessoas casadas.

Em outra trama, o adolescente Tim (Ansel Elgort, de "A culpa é das estrelas") era o astro do time de futebol americano da escola, mas um dia ele decidiu parar porque "não via mais sentido em nada". A mãe trocou a família por um namorado novo na Califórnia, deixando Tim e o pai, Kent (Dean Morris, de "Breaking Bad" e "Under the Dome") sozinhos. O filho acompanha a nova vida da mãe pelo Facebook.

Falando em mães, há uma super protetora, vivida por Jennifer Garner, que vasculha o celular da filha todos os dias, conhece todas as senhas da garota e tem um sistema de GPS que mostra onde ela está o tempo todo. Por outro lado, há outra mãe que, na tentativa de promover a filha, posta fotos sensuais da garota em poses provocantes em um website e tenta, a todo custo, colocá-la em um programa de TV.

As tramas são entrecortadas por imagens da sonda Voyager vagando pelo espaço, bem distante, alheia a todos os dramas. As palavras inspiradoras de Carl Sagan chegam à nova geração de forma distorcida. Enquanto o ex jogador de futebol americano acha que nada vale apena (afinal, somos apenas poeria cósmica), garotas como a modelo se acham o centro do Universo (e quebram a cara quando descobrem a realidade).

O filme está bem longe do tom leve e divertido usado anteriormente por Jason Reitman em filmes como "Juno" e "Amor sem escalas". "Homens, Mulheres e Filhos" é atual e bastante realista, deixando um gosto amargo na boca.

Ps: enquanto escrevia este texto, mantinha uma conversa no Whatsapp e, de vez em quando, checava o Facebook. Pois é.


João Solimeo

domingo, 25 de janeiro de 2015

A Teoria de Tudo

Albert Einstein, em seu tempo, era uma das pessoas mais famosas do planeta. Seu fascínio superava barreiras linguísticas, geográficas, religiosas, filosóficas e científicas. No entanto, quantas pessoas, de verdade, seriam capazes de dizer que entenderam a Teoria da Relatividade?

O mesmo pode se dizer de Stephen Hawking, décadas depois. O astrofísico inglês tem a fama de um astro do rock. Seu livro "Uma Breve História do Tempo" foi um bestseller avassalador, mesmo que poucos dos seus leitores faziam ideia do que ele estava falando. O que faz figuras como Einstein, Hawking, Carl Sagan ou Neil deGrasse Tyson fascinantes? Talvez seja exatamente seu mistério. Talvez seja nossa fascinação com o desconhecido, com a "mágica" que parece existir atrás de números e fórmulas que não sabemos como funcionam.

O cinema, ávido por figuras heroicas e mágicas, de tempos em tempos lança filmes sobre estes seres sobre-humanos e seu domínio sobre os números. Assim, olhamos com espanto para Matt Damon desenhando fórmulas na lousa em "Gênio Indomável" (1997) ou Russell Crowe imaginando números em pleno ar em "Uma Mente Brilhante" (1991) e esquecemos nossas dificuldades em fazer aquele cálculo simples de porcentagem.

Em "A Teoria de Tudo" é a vez de vermos Eddie Redmayne visualizando o início do Universo em uma xícara de café com leite. Ele interpreta Stephen Hawking desde os tempos em que apostava corrida de bicicletas com os colegas em Cambridge. Redmayne está muito bem como Hawking, com seus famosos óculos de aro grosso e expressão curiosa. O arco do seu personagem, aliás, é bastante parecido com o vivido por Russell Crowe em "Uma Mente Brilhante"; um matemático que conquista o amor de uma garota especial e se torna um gênio da ciência, tendo que superar um problema de saúde grave. (leia mais abaixo)


Enquanto John Forbes Nash, o matemático vivido por Crowe, sofria de esquizofrenia (fato desconhecido de grande parte do público), a atrofia nervosa apresentada por Hawking já faz parte do imaginário dos espectadores, que sempre o "conheceram" sentado naquela cadeira de rodas e "falando" com aquele sintetizador de voz robótico. Assim, não deixa de ser interessante vê-lo, através da interpretação de Redmayne, andando e correndo pelos corredores da universidade antes que os primeiros sintomas da doença se manifestem.

O roteiro, escrito por Anthony McCarten, é baseado no livro de Jane Hawking (vivida por Felicity Jones), a garota religiosa por quem Hawking se apaixonou. As cenas do primeiro encontro entre eles, em uma festa de Cambridge, são filmadas como em um conto de fadas, com bela fotografia de Benoît Delhomme. Com o perdão da palavra, o casal Hawking mostrado no filme é um dos mais "fofos" do cinema, mas há bons diálogos trocados por Redmayne e Jones a respeito do Universo e da existência (ou não) de Deus, etc. Poderia ser piegas, mas a interpretação dos dois é honesta, muito bem dirigidos por James Marsh (que fez o ótimo documentário "O Equilibrista").

O resto do filme trata da decadência física de Hawking, a quem o médico deu apenas dois anos de vida depois do primeiro ataque, e seus triunfos científicos. Não é por menos que o físico decidiu se dedicar ao estudo do Tempo, que ele conseguiu superar até os atuais 72 anos de idade. O roteiro trata de desconstruir também (embora de forma leve), o casamento de conto de fadas e Stephen e Jane. Há um professor de canto (interpretado por Charlie Cox) que se torna algo mais na vida de Jane, assim como uma enfermeira no caso de Hawking.

Não é um filme brilhante nem inovador, mas é extremamente bem feito, e a vida de Stephen Hawking é, sem dúvida, fascinante. "A Teoria de Tudo" conquistou cinco indicações ao Oscar: Filme, Ator (Eddie Redmayne), Atriz (Felicity Jones), Roteiro Adaptado (Anthony McCarten) e Trilha Sonora (Jóhann Jóhannsson).

Observação: Benedict Cumberbatch, que está concorrendo com Redmayne a melhor ator por "O Jogo da Imitação", interpretou Stephen Hawking em um especial para a BBC em 2004. O filme pode ser visto clicando aqui.

João Solimeo

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Dois dias, uma noite

Sandra (Marion Cotillard, de "Ferrugem e Osso") é uma mulher belga que sofre de depressão. Após passar um tempo afastada do trabalho, ela volta e descobre que está para ser demitida. Seu emprego depende de uma cruel votação sugerida pelo encarregado da empresa. Ele dá aos empregados duas opções: demitir Sandra e receber um bônus de mil euros ou abrir mão do bônus para mantê-la na equipe. A votação será na segunda-feira de manhã e Sandra tem um final de semana (dois dias e uma noite) para convencer 16 companheiros de trabalho a abrirem mão de mil euros e votarem por sua permanência na empresa.

Sandra precisa do salário para manter a casa que divide com o marido e dois filhos, mas sente-se muito mal por ter que passar pela humilhação de ir de casa em casa, no final de semana, importunar os companheiros e implorar para que não a demitam. O filme é dirigido pelos irmãos Dardenne e há ecos na situação de Sandra com a da garota Rosetta, protagonista do filme de mesmo nome dirigido pelos belgas em 1999. O emprego, para Sandra, não é só um meio de se sustentar financeiramente, mas uma forma de lutar contra a depressão e mostrar que ela é "alguém". O marido Manu (Fabrizio Rongione) a ama e quer ajudá-la, mas sua insistência em tirá-la de casa e ir falar com os companheiros, por vezes, mais atrapalha do que ajuda. (leia mais abaixo)


Os irmãos Dardenne (de "O Filho" e "O Garoto da Bicicleta") têm experiência em documentários e seu cinema é extremamente realista. Eles fazem poucos cortes com a câmera, que acompanha Marion Cotillard passo a passo conforme ela visita os outros trabalhadores. A sensação de se estar lá, junto com a personagem, faz com que o espectador tenha que passar pela mesma experiência dela, que alterna momentos de humilhação com outros de esperança. Os diretores mostram todo o trajeto de Sandra até a casa de cada uma das pessoas que ela tem que convencer, fazendo sempre o mesmo "discurso" e explicando o porquê dela precisar que eles abram mão do dinheiro para que ela mantenha seu emprego.

O filme, apesar da crescente angústia e do suspense quanto ao final, não me pareceu tão forte quanto os trabalhos anteriores dos Dardenne. O dilema moral apresentado pela trama é relevante, principalmente nesta época de crise mundial, mas a peregrinação de Sandra de casa em casa se torna repetitiva. Cotillard é ótima atriz e conseguiu uma indicação ao Oscar pelo papel de Sandra, muito embora sua interpretação de uma mulher depressiva era melhor ainda em "Ferrugem e Osso", papel pelo qual ela deveria ter sido indicada no ano passado. Mas é interessante ver como cada um dos companheiros de Sandra reage quando está frente a frente com ela. O que vale mais, o companheirismo ou dinheiro no banco? A insistência de Sandra é válida ou ela está importunando os companheiros com uma situação que não é culpa deles? Como ela reagiria se estivesse do outro lado?

João Solimeo
Câmera Escura

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O Juiz

"O Juiz" é um drama; é também um filme sobre família, sobre divórcio, sobre voltar para casa, sobre amores antigos e sobre o atrito entre pais e filhos. Como se não bastasse, é também um suspense e um filme de tribunal. Tudo isso se desenrola de forma nem sempre harmoniosa em longos 141 minutos, mas o elenco é bom, a parte técnica é competente e o filme tem tão boas intenções que, no fim das contas, o saldo é positivo.

Hank Palmer (Robert Downey Jr, excelente) é um advogado bem sucedido e antiético. Ele está defendendo um crápula qualquer na cidade grande quando recebe um telefonema. Sua mãe faleceu e ele tem que abandonar tudo e partir para a cidade natal. Antes dele partir, porém, ficamos sabendo que ele tem uma filha que o ama muito e uma esposa de quem está se divorciando.

Palmer volta então para Carlinville, Indiana, onde o funeral da sua mãe o espera. Mas ele parece mais preocupado com o fato de que vai reencontrar o pai, o venerável Juiz Palmer (Robert Duvall, em interpretação que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante) do que com a morte da mãe. Os dois não se falam há anos por causa de problemas no passado. Hank tem um irmão mais velho, Glenn (Vincent D´Onofrio) e outro mais novo, Dale (Jeremy Strong), que tem deficiência intelectual e está sempre com uma câmera de Super-8 nas mãos. (leia mais abaixo)


Até este ponto imaginamos que vamos ver um típico filme de reunião de família. Hank passeia pela cidade natal, encontra uma ex-namorada (Vera Farmiga, de "Amor sem Escalas") e, com o corpo da mãe ainda quente, entra em discussões com o pai. É então que, em uma reviravolta, o filme familiar se transforma em um filme policial. Um ciclista é encontrado morto atropelado na estrada. Ele havia sido julgado pelo Juiz Palmer há mais de vinte anos em um caso complicado que terminou em assassinato. A polícia vai investigar e encontra o carro do Juiz todo amassado e com manchas de sangue. Entra então o filme de tribunal, em que tanto Hank quanto o pai têm que engolir o orgulho e trabalhar juntos para convencer o juri de que o Juiz não é culpado.

"O Juiz" é dirigido por David Dobkin com roteiro de Nick Schenk e Bill Dubuke. O filme tem uma aparência incrível, cortesia da direção de fotografia de Janusz Kaminski, tradicional colaborador de Steven Spielberg. Kaminski adora raios de luz que criam sombras dentro do tribunal, iluminam o rosto dos atores ou são lançados pelo projetor de Super-8 de Dale. A interpretação de todo o elenco é impecável; é bom ver Robert Downey Jr fora do uniforme do "Homem de Ferro" de vez em quando. Billy Bob Thornton faz uma participação como o advogado de acusação e vários coadjuvantes são conhecidos por quem é fã de cinema.

Pena que o roteiro queira abraçar o mundo. Há subtramas demais (inclusive um caso de paternidade que pode significar um incesto por parte de Hank) e momentos claramente construídos para tirar uma lágrima do espectador. É um mau filme? Longe disso. Basta não ter pressa, apreciar as interpretações e não levar a trama criminal muito a sério.

João Solimeo
Câmera Escura

sábado, 17 de janeiro de 2015

O Conto da Princesa Kaguya

"O Conto da Princesa Kaguya" é o quinto filme dirigido por Isao Takahata para o estúdio Ghibli, gigante da animação japonesa fundado por ele e pelo mestre Hayao Miyazaki (de "Vidas ao Vento"). É também, provavelmente, o último longa do diretor, que vai completar 80 anos. "Kaguya" foi um dos indicados ao Oscar de "Melhor Animação", ao lado de filmes como "Operação Big Hero", "Como treinar seu dragão 2", "Os Boxtrolls" e "Song of the Sea".

A história é baseada em uma lenda japonesa do século 10 sobre um cortador de bambu que encontra na floresta uma linda princesa que, de tão pequena, cabe em sua mão. Ele leva a menina para casa e, junto com a esposa, a adota como filha. A animação é lindamente desenhada por Takahata e seus animadores, em uma técnica que parece feita com lápis de cor, carvão e aquarela. Em um mundo em que as animações tentam ser cada vez mais foto-realistas é um prazer ver a linda palheta de cores que Takahata pinta na tela.

As primeiras cenas que mostram a menina sendo adotada pelo velho casal e se transformando de princesa em um bebê são de grande beleza e sensibilidade. Note a habilidade dos animadores em desenhar a bebê se desenvolvendo e descobrindo o mundo em um ótima cena em que ela começa a engatinhar e seguir alguns animais da floresta, como sapos e insetos. Ela cresce como mágica, aprende a andar e a falar em pouco tempo e logo está correndo pela floresta na companhia de um grupo de garotos liderados por Sutemaru.

Eles levam uma vida feliz até que o pai da garota encontra ouro e roupas requintadas no mesmo bosque de bambus onde descobriu a filha. Ele acredita que os deuses da floresta estão lhe dizendo que a filha merece uma vida melhor e parte com a família para a capital, onde compra uma enorme mansão cheia de empregados e professores de etiqueta. A garota se transforma, a contragosto, na Princesa Kaguya (nome que significa "brilhante", "radiante") e tem que seguir uma série de regras em uma vida bem diferente da que ela levava na floresta. Sua beleza atrai um grande número de admiradores, mas Kaguya exige tarefas impossíveis de seus pretendentes, para desespero do pai, que a quer casada com algum príncipe. Até o Imperador do Japão tenta conquistar Kaguya, sem sucesso. Saudosa da liberdade, Kaguya se torna cada vez mais deprimida. (leia mais abaixo)


O ritmo do filme acompanha o estado de espírito de Kaguya. A primeira parte, passada na floresta e nas montanhas, é alegre e cheia de vida. A vida na corte, com suas obrigações e deveres, é mostrada de forma lenta e, por vezes, entediante. Como na maioria dos contos de fada originais, a história da Princesa Kaguya termina de forma agridoce. Sua melancolia cresce até a descoberta de que, de fato, ela não é deste mundo, levando a um final triste e trágico.

Vale lembrar que Isao Takahata dirigiu o que considero um dos filmes (animados ou não) mais trágicos de todos os tempos, "Cemitério de Vagalumes" (Hotaru no Haka, 1988), a história de um casal de irmãos durante a 2ª Guerra Mundial, que é implacável na descrição dos horrores da guerra. "O Conto da Princesa Kaguya" não está neste nível de dramaticidade, mas não tem o final feliz que geralmente se espera de um filme de princesas feito no ocidente.

Maravilhosamente desenhado e animado, com bela trilha sonora de Joe Hisaishi e direção de Takahata, "O Conto da Princesa Kaguya" é dos melhores animados do estúdio Ghibli. A indicação ao Oscar deve torná-lo mais acessível nos cinemas por aqui. Enquanto isso, você pode vê-lo na íntegra, com legendas em português, neste link.

João Solimeo

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Confira os indicados ao OSCAR 2015



Foram anunciados esta manhã em Los Angeles, Califórnia, os indicados ao prêmio máximo da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas, o Oscar.

"Birdman", de Alejandro G. Iñarritu e "O Grande Hotel Budapeste", de Wes Anderson, lideram as indicações com nove cada. "O Grande Hotel Budapeste" venceu o último Globo de Ouro como Melhor Filme de musical ou comédia. 

O ótimo "Boyhood: Da Infância à Juventude", está indicado a seis Oscars. O filme independente de Richard Linklater já recebeu vários prêmios por sua combinação de ousadia técnica (a produção levou 12 anos para ser filmada) e sensibilidade artística, vencendo inclusive o Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático. 

O comediante Steve Carell recebeu uma indicação como Melhor Ator pelo papel dramático em "Foxcatcher: Uma história que chocou o mundo". O favorito ao prêmio é Michael Keaton, muito elogiado em "Birdman", mas não se surpreenda se o prêmio for para Eddie Redmayne, que interpretou o astrofísico Stephen Hawking em "A Teoria de tudo". O grande esnobado foi Jake Gyllenhaal pela ótima interpretação no chocante "O Abutre" (que só tem uma indicação, a Melhor Roteiro Original, de Dan Gilroy). Bradley Cooper, de "Sniper Americano", acabou ficando com a vaga de Gyllenhaal.

Rosamund Pike recebeu a única indicação do ótimo "Garota Exemplar", de David Fincher (que foi esnobado até nos prêmios técnicos como fotografia, edição e trilha sonora). Jennifer Aniston, eternamente lembrada pelo seriado "Friends", não convenceu a Academia por seu papel dramático no filme "Cake" e ficou de fora das indicações. Já a onipresente Meryl Streep recebeu a 19ª indicação da carreira, já tendo vencido em três ocasiões anteriores. Esperemos que deixem alguma outra atriz levar o prêmio este ano. Entre os coadjuvantes homens, J.K. Simmons é aposta certa ao prêmio por sua excelente performance em "Whiplash: Em busca da perfeição", em que faz um exigente professor de música.

Falando em música, Alexandre Desplat concorre contra ele mesmo na categoria de Melhor Trilha Sonora. Ele concorre pelas trilhas de "O Grande Hotel Budapeste" e "O Jogo da Imitação".

A categoria "Melhor Animação" surpreendeu pela ausência de "Uma Aventura Lego", que foi muito elogiado durante todo o ano. Entre os indicados estão "Operação Big Hero", "Como treinar seu dragão 2", "Song of the sea", "Os Boxtrolls", além da animação japonesa "O Conto da Princesa Kaguya".

A cerimônia de entrega do Oscar 2015 acontece no dia 22 de fevereiro.

Confira a lista dos indicados:

Melhor filme
"Selma"

Melhor diretor
Alejandro Gonzáles Iñárritu ("Birdman")
Richard Linklater ("Boyhood")
Bennett Miller ("Foxcatcher: Uma história que chocou o mundo")
Wes Anderson ("O grande hotel Budapeste")
Morten Tyldum ("O jogo da imitação")

Melhor ator
Steve Carell ("Foxcatcher")
Bradley Cooper ("Sniper americano")
Benedict Cumbertatch ("O jogo da imitação")
Michael Keaton ("Birdman")
Eddie Redmayne ("A teoria de tudo")

Melhor atriz
Marion Cotillard ("Dois dias, uma noite")
Felicity Jones ("A teoria de tudo")
Julianne Moore ("Para sempre Alice")
Rosamund Pike ("Garota exemplar")
Reese Whiterspoon ("Livre")

Melhor ator coadjuvante
Robert Duvall ("O juiz")
Ethan Hawke ("Boyhood")
Edward Norton ("Birdman")
Mark Ruffalo ("Foxcatcher")

Melhor atriz coadjuvante
Patricia Arquette ("Boyhood")
Laura Dern ("Livre")
Keira Knightley ("O jogo da imitação")
Emma Stone ("Birdman")
Meryl Streep ("Caminhos da floresta")

Melhor roteiro original
Alejandro G. Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris Jr. e Armando Bo ("Birdman")
Richard Linklater ("Boyhood")
E. Max Frye e Dan Futterman ("Foxcatcher")
Wes Anderson e Hugo Guinness ("O grande hotel Budapeste")
Dan Gilroy ("O abutre")

Melhor roteiro adaptado
Jason Hall ("Sniper americano")
Graham Moore ("O jogo da imitação")
Paul Thomas Anderson ("Vício inerente")
Anthony McCarten ("A teoria de tudo")

Melhor filme estrangeiro
"Ida" (Polônia)
"Leviatã" (Rússia)
"Tangerines" (Estônia)
"Timbuktu" (Mauritânia)
"Relatos selvagens" (Argentina)

Melhor documentário longa-metragem
"O sal da terra"
"CitizenFour"
"Finding Vivian Maier"
"Last days"
"Virunga"

Melhor documentário curta-metragem 
"Crisis Hotline: Veterans Press 1"
"Joanna"
"Our curse"
“The reaper (La Parka)"
"White earth"

Melhor animação longa metragem
"Song of the sea"

Melhor animação em curta-metragem
"The bigger picture"
"The dam keeper"
"Feast"
"Me and my moulton"
"A single life"

Melhor fotografia
Emmanuel Lubezki ("Birdman")
Robert Yeoman ("O grande hotel Budapeste")
Lukasz Zal e Ryszard Lenczewski ("Ida")
Dick Pope ("Sr. Turner")
Roger Deakins ("Invencível")

Melhor edição
Joel Cox e Gary D. Roach ("Sniper americano")
Sandra Adair ("Boyhood")
Barney Pilling ("O grande hotel Budapeste")
William Goldenberg ("O jogo da imitação")

Melhor curta-metragem em 'live-action'
"Aya"
"Boogaloo and Graham"
"Butter lamp (La lampe au beurre de Yak)"
"Parvaneh"
"The phone call"

Melhor design de produção
"Caminhos da floresta"
"Sr. Turner"

Melhores efeitos visuais
Dan DeLeeuw, Russell Earl, Bryan Grill e Dan Sudick ("Capitão América 2: O soldado invernal")
Joe Letteri, Dan Lemmon, Daniel Barrett e Erik Winquist ("Planeta dos macacos: O confronto")
Stephane Ceretti, Nicolas Aithadi, Jonathan Fawkner e Paul Corbould ("Guardiões da Galáxia")
Paul Franklin, Andrew Lockley, Ian Hunter e Scott Fisher ("Interestelar")
Richard Stammers, Lou Pecora, Tim Crosbie e Cameron Waldbauer ("X-Men: Dias de um futuro esquecido")

Melhor figurino
Milena Canonero ("O grande hotel Budapeste")
Mark Bridges ("Vício inerente")
Colleen Atwood ("Caminhos da floresta")
Anna B. Sheppard e Jane Clive ("Malévola")
Jacqueline Durran ("Sr. Turner")

Melhor maquiagem e cabelo
Bill Corso e Dennis Liddiard ("Foxcatcher")
Frances Hannon e Mark Coulier ("O grande hotel Budapeste")
Elizabeth Yianni-Georgiou e David White ("Guardiões da Galáxia")


Melhor trilha sonora
Alexandre Desplat ("O grande hotel Budapeste")
Alexandre Desplat ("O jogo da imitação")
Hans Zimmer ("Interestelar")
Gary Yershon ("Sr. Turner")
Jóhann Jóhannsson ("A teoria de tudo")

Melhor canção
"Everything is awesome", de Shawn Patterson ("Uma aventura Lego")
"Glory", de John Stephens e Lonnie Lynn ("Selma")
"Grateful", de Diane Warren ("Além das luzes")
"I'm not gonna miss you", de Glen Campbell e Julian Raymond ("Glen Campbell…I'll be me")
"Lost Stars", de Gregg Alexander e Danielle Brisebois ("Mesmo se nada der certo")


Melhor edição de som
Alan Robert Murray e Bub Asman ("Sniper americano")
Martín Hernández e Aaron Glascock ("Birdman")
Brent Burge e Jason Canovas ("O hobbit: A batalha dos cinco exércitos")
Richard King ("Interestelar")
Becky Sullivan e Andrew DeCristofaro ("Invencível")


Melhor mixagem de som
John Reitz, Gregg Rudloff e Walt Martin ("Sniper americano")
Jon Taylor, Frank A. Montaño e Thomas Varga ("Birdman")
Gary A. Rizzo, Gregg Landaker e Mark Weingarten ("Interestelar")
Jon Taylor, Frank A. Montaño e David Lee ("Invencível")
Craig Mann, Ben Wilkins e Thomas Curley ("Whiplash: Em busca da perfeição")


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Boyhood (SPOILERS)

"Boyhood" poderia ter sido apenas um grande feito técnico, um filme feito por um mesmo diretor e equipe por um período de doze anos, mas é muito mais do que isso. É um dos filmes mais humanos e gostosos de se ver já feitos. 

Richard Linklater, o diretor, é produtor independente e verdadeiro filósofo do mundo contemporâneo. Seu primeiro grande sucesso foi "Antes do Amanhecer" (1995), que acompanhava um dia na vida de Ethan Hawke e Julie Delpy enquanto passeavam pelas ruas de Paris. A história do casal foi revisitada aproximadamente de dez em dez anos em "Antes do Pôr do Sol" (2004) e "Antes da Meia-Noite" (2013), e pudemos ver como os personagens envelheceram e mudaram durante este período de quase vinte anos.

Assim, o conceito por trás de "Boyhood" não é exatamente uma novidade para Linklater, mas a passagem dos anos fica mais evidente e fascinante de se ver no período relativamente curto de um único filme. O garoto Mason (Ellar Coltrane) começa o filme por volta dos 5 anos e termina com quase 18, ao entrar na faculdade. Vê-lo crescer na tela é como acompanhar a vida de um filho ou um sobrinho. Do olhar inocente e cabelos louros do menino até o rapaz de voz grossa, barba e cabelo comprido é um longo caminho.

O mesmo vale para os outros atores em cena, como a garota que faz a irmã de Mason, Sam (Lorelei Linklater, filha do diretor), Patricia Arquete (Olivia, a mãe) e o parceiro habitual de Linklater, Ethan Hawke (Mason Pai).

Apesar do título, "Boyhood" não é só um filme sobre a infância; é sobre a família moderna e os papéis que cada um tem que viver para se adequar a uma sociedade em constante mudança. Mason e Samantha são como nômades, mudando constantemente de casa e família conforme a mãe (muito bem interpretada por Patricia Arquette, vencedora de um Globo de Ouro no último domingo) tenta montar um novo lar ao lado de outro marido de tempos em tempos. Ela não consegue ficar sozinha ou acredita que o filhos precisam da figura constante de um pai? Ela não fica parada no tempo, volta a estudar e acaba se tornando professora universitária até descobrir a resposta.

O pai biológico (Ethan Hawke), aliás, está longe de ser um mau sujeito. Apesar de um tanto imaturo, Mason Pai se preocupa com os filhos e tenta estar presente o máximo possível, mesmo com as constantes mudanças de Olivia e as crianças pelo Texas. O filme mostra seu crescimento tanto quanto o dos filhos. Ele dirige um carro esportivo (o mesmo por várias fases do filme) e tem sonhos de se tornar um músico, mas a vida real, aos poucos, o coloca em um caminho mais "responsável". Ele se torna corretor de seguros e até começa uma família nova. A sequência em que ele leva os filhos para conhecer a nova família, aliás, é muito boa e mostra como é uma típica comunidade do Texas. No aniversário de Mason, por exemplo, a avó lhe presenteia com uma Bíblia enquanto que o avô lhe dá uma espingarda. (leia mais abaixo)


Há quem diga que "nada acontece de verdade" em "Boyhood", mas o fato é que Linklater não escreve como quem está fazendo um filme tradicional, com surpresas, tragédias e revelações para apimentar a trama. "Boyhood" é sobre a vida e apesar de haver pelo menos um momento bastante tenso no filme (quando o alcoolismo do primeiro marido de Olivia fica mais agudo), o resto do filme lida com as alegrias e tristezas da vida real.

O garoto Mason é o protagonista principal e Linklater teve muita sorte ao encontrar o ator Ellar Coltrane. Ele é bonito, sério e tem o olhar pensativo de alguém que guarda muito para si. Fica fácil confundir as coisas e achar que, na verdade, ele não é tão bom ator e só está interpretando a si mesmo, mas não deve ser tão simples.

Mason tem que lidar com as constantes mudanças de casa, a perda dos melhores amigos da escola, os primeiros flertes com as garotas, álcool, etc, como todo garoto normal, mas nada tem aquele tom exagerado e dramático de um filme tradicional. Há ótimas cenas (como a que Ethan Hawke tenta explicar sexo seguro para a filha adolescente) em que Mason fica só sentado por perto, observando tudo. Há, provavelmente, muito de Linklater no personagem do garoto, que acaba se interessando por fotografia e partindo, provavelmente, para uma carreira dedicada às imagens.

Com duas horas e quarenta e cinco minutos de duração, "Boyhood" passa como uma ótima viagem. Uma hora o filme tem que terminar e o destino de Mason, seus pais e a irmã ficam apenas na imaginação do espectador. A não ser que Linklater continue fazendo este filme pelos próximos 12 anos e tenhamos uma continuação lá por 2027. Eu não duvido que isto aconteça.

João Solimeo

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

VENCEDORES DO GLOBO DE OURO 2015

CINEMA

Melhor filme drama
vencedor: Boyhood

Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
O Jogo da Imitação
Selma
A Teoria de Tudo

Melhor atriz em filme drama
vencedora: Julianne Moore - Para Sempre Alice

Jennifer Aniston - Cake
Felicity Jones - A Teoria de Tudo
Rosamund Pike - Garota Exemplar
Resse Witherspoon - Livre

Melhor ator em filme drama
vencedor: Eddie Redmayne - A Teoria de Tudo

Steve Carell - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
Benedict Cumberbatch - O Jogo da Imitação
Jake Gyllenhaal - O Abutre
David Oyelowo - Selma

Melhor filme cômico ou musical
vencedor: O Grande Hotel Budapeste

Birdman
Caminhos da Floresta
Pride
Um Santo Vizinho (St. Vincent)

Melhor atriz em filme cômico ou musical
vencedora: Amy Adams - Grandes Olhos

Emily Blunt - Caminhos da Floresta
Helen Mirren - A Cem Passos de um Sonho
Julianne Moore - Mapa para as Estrelas
Quvenzhané Wallis - Annie

Melhor ator em filme cômico ou musical
vencedor: Michael Keaton - Birdman

Ralph Fiennes - O Grande Budapeste Hotel
Bill Murray - Um Santo Vizinho (St. Vincent)
Joaquin Phoenix - Vício Inerente
Christoph Waltz - Grandes Olhos

Melhor atriz coadjuvante
vencedora: Patricia Arquette - Boyhood

Jessica Chastain - A Most Violent Year
Keira Knightley - O Jogo da Imitação
Emma Stone - Birdman
Meryl Streep - Caminhos da Floresta

Melhor ator coadjuvante
vencedor: J.K. Simmons, por Whiplash: Em Busca da Perfeição

Robert Duvall - O Juiz
Ethan Hawke - Boyhood
Edward Norton - Birdman
Mark Ruffalo - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo


Melhor diretor
vencedor: Richard Linklater - Boyhood

Wes Anderson - O Grande Budapeste Hotel
Ava Duvernay - Selma
David Fincher - Garota Exemplar
Alejandro González Iñárritu - Birdman


Melhor roteiro
vencedores: Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris, Armando Bo - Birdman

Wes Anderson - O Grande Hotel Budapeste
Gillian Flynn - Garota Exemplar
Richard Linklater - Boyhood
Graham Moore - O Jogo da Imitação

Melhor filme em lingua estrangeira
vencedor: Leviatã (Rússia)

Tangerines (Estônia)
Força Maior (Suécia)
Gett (Israel)
Ida (Polônia)

Melhor longa de animação
vencedor: Como Treinar o Seu Dragão 2

Operação Big Hero
Festa no Céu
Os Boxtrolls
Uma Aventura LEGO

Melhor trilha sonora original em filme
vencedor: Jóhann Jóhannsson - A Teoria de Tudo

Alexandre Desplat - O Jogo da Imitação
Trent Reznor, Atticus Ross - Garota Exemplar
Antonio Sanchez - Birdman
Hans Zimmer - Interestelar

Melhor canção original em filme
vencedora: "Glory" - Selma por John Legend e Common

"Big Eyes" - Grandes Olhos por Lana Del Ray
"Mercy Is" - Noé por Patty Smith e Lenny Kaye
"Opportunity" - Annie por Greg Kurstin, Sia Furler, Will Gluck
"Yellow Flicker Beat" - Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 por Lorde

Prêmio Cecil B. DeMille:
George Clooney


TV

Melhor série drama
vencedora: The Affair

Downton Abbey
Game of Thrones
The Good Wife
House of Cards

Melhor atriz em série drama
vencedora: Ruth Wilson - The Affair

Claire Danes - Homeland
Viola Davis - How to Get Away with Murder
Julianna Margulies - The Good Wife
Robin Wright - House of Cards

Melhor ator em série drama
vencedor: Kevin Spacey - House of Cards

Clive Owen - The Knick
Liev Schreiber - Ray Donovan
James Spader - The Blacklist
Dominic West - The Affair

Melhor série cômica ou musical
vencedora: Transparent

Girls
Jane the Virgin
Orange is the New Black
Silicon Valley


Melhor atriz em série cômica ou musical
vencedora: Gina Rodriguez - Jane the Virgin

Lena Dunham - Girls
Edie Falco - Nurse Jackie
Julia Louis-Dreyfus - Veep
Taylor Schilling - Orange is the New Black

Melhor ator em série cômica ou musical
vencedor: Jeffrey Tambor - Transparent

Louis C.K. - Louie
Don Cheadle - House of Lies
Ricky Gervais - Derek
William H. Macy - Shameless


Melhor minissérie ou telefilme
vencedor: FARGO

The Missing
The Normal Heart
Olive Kitteridge
True Detective

Melhor atriz em minissérie ou telefilme
vencedora: Maggie Gyllenhaal - The Honorable Woman

Jessica Lange - American Horror Story: Freak Show
Frances McDormand - Olive Kitteridge
Frances O'Connor - The Missing
Allison Tolman - Fargo

Melhor ator em minissérie ou telefilme
vencedor: Billy Bob Thornton - Fargo

Martin Freeman - Fargo
Woody Harrelson - True Detective
Matthew McConaughey - True Detective
Mark Ruffalo - The Normal Heart


Melhor atriz coadjuvante
vencedora: Joanne Froggat - Downton Abbey

Uzo Aduba - Orange is the New Black
Kathy Bates - American Horror Story: Freak Show
Allison Janney - Mom
Michelle Monaghan - True Detective

Melhor ator coadjuvante
vencedor: Matt Bomer - The Normal Heart

Alan Cumming - The Good Wife
Colin Hanks - Fargo
Bill Murray - Olive Kitteridge
Jon Voight - Ray Donovan

Câmera Escura

sábado, 10 de janeiro de 2015

Whiplash: Em Busca da Perfeição

"Não há duas palavras mais prejudiciais na nossa língua do que 'bom trabalho'", diz o professor ao aluno. Esta é a visão de Terence Fletcher (J.K. Simmons, extraordinário), o exigente professor de um conservatório de música de Nova York. Seu aluno é Andrew Neyman (Miles Teller, de "Divergente"), um garoto de 19 anos que colocou na cabeça que vai ser o melhor baterista de jazz do mundo. 

Nenhum dos dois é muito simpático, o que é um dos trunfos do filme, que não tenta fazer de Andrew um "coitadinho" nas mãos de Fletcher. Em um mundo ultra competitivo como o da música em Nova York, talento e força de vontade não são o suficiente. "Whiplash" mostra que é necessário treinar e treinar e treinar mais um pouco; e se aparecer a oportunidade de tomar o lugar de outro colega na banda do conservatório, não se deve pensar nem um segundo.

Há entre Fletcher e Andrew mais do que uma relação professor-aluno. O filme lembra mais histórias militares como "Nascido para Matar" (1987), de Stanley Kubrick, e "A força do destino" (1982), de Taylor Hackford, em que um sargento durão abusa física e verbalmente de algum pobre recruta, do que outros filmes sobre música (como "A competição", 1980). Damien Chazelle, o jovem roteirista e diretor, colocou o ator Miles Teller para treinar com um baterista de verdade (Nate Lang, que interpreta o rival de Andrew, Carl) por mais de dois meses, quatro horas por dia. O resultado é bastante convincente. (leia mais abaixo)


Apesar do jazz permear todo o filme, "Whiplash" é mais sobre obsessão e ambição do que música propriamente dita. Andrew chega a colocar um pote com gelo ao lado da bateria para, de tanto em tanto tempo, mergulhar as mãos ensanguentadas de tanto ensaiar. Filho de um escritor frustrado (Paul Reiser, da série "Mad about you", aparentando os 58 anos) e abandonado pela mãe quando criança, Andrew não tem amigos, é solitário e demora para criar coragem para chamar Nicole, que trabalha em um cinema, para sair. A doce cena em que os dois saem para jantar é dos poucos momentos calmos do filme. O resto é um infindável duelo entre a obsessão de Andrew em ser o "número um" e a determinação do professor Fletcher em destruí-lo por puro prazer. J.K. Simmons está excelente. Ele comanda cada cena com um olhar penetrante e um modo de se portar que mostra um homem controlado em cada movimento das mãos, cada virada de página da partitura.

(ATENÇÃO SPOILERS)

O final, apesar de emocionante e o ápice musical do filme, é um pouco contraditório. Ou, talvez, irônico. Fletcher, apesar de todos os seus métodos de tortura física e emocional (ou por causa deles) acaba conseguindo fazer com que Andrew atinja a perfeição. O duelo entre os dois por toda a sequência final é brilhantemente orquestrado pela direção de Chazelle e pela edição de Tom Cross. Inimigos declarados, professor e aluno acabam experimentando uma conexão quase cósmica através da música. Valeu a pena? É discutível. Se há algo que possa ser criticado quanto a "Whiplash" (sem dúvida um dos melhores filmes do ano) é sobre o quão pouco o filme parece gostar de música. Fletcher e Andrew não aparentam gostar do que fazem. A música, ao invés de arte, acaba parecendo mais uma daquelas competições de longa distância. O filme poderia ter sido sobre um professor de atletismo e um rapaz obcecado em atravessar o deserto do Saara a pé. Ao som de Duke Ellington, claro, fica melhor ainda.

ps: "Whiplash" foi indicado a cinco prêmios BAFTA (o "Oscar" britânico), e J.K. Simmons (também indicado a um Globo de Ouro) é grande candidato a uma indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante.

João Solimeo

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Idênticos (Netflix)

No dia em que Elvis faria 80 anos, mais uma dica para ver na Netflix.

A premissa de "Idênticos" é, infelizmente, bem melhor do que o produto final. Imagine se Elvis Presley tivesse tido um irmão gêmeo? Imagine que os dois cresceram separados e, enquanto um se tornou o "Rei do Rock" o outro, ironicamente, se tornou seu melhor imitador? A ideia é ótima, mas o filme, dirigido por Dustin Marcellino, não consegue escapar de ser apenas um bom telefilme.

Nos anos 1930 os Estados Unidos viviam a Grande Depressão. A família Hemsley acaba de ter gêmeos, para a alegria da mãe e desespero do pai, que está desempregado. Como ele vai conseguir sustentar a família? Desolado, ele vai assistir ao sermão de um pastor chamado Reece Wade (o grande Ray Liotta). Coincidentemente, o pastor Wade está falando justamente sobre a dor da sua esposa, que acabou de perder um bebê. "Rezem por um milagre", diz o pastor. Suas preces são respondidas, já que ele recebe a oferta de ficar com um dos gêmeos dos Hemsley. "Prometa só dizer a verdade a ele depois que nós morrermos", implora o pai ao pastor Wade.

O filme, então, passa a acompanhar a vida de Ryan Wade, o filho adotado do pastor; o pai quer  que ele também seja um pregador, mas a vocação do menino é claramente a música. Ele começa a frequentar bailes para escutar o que viria a se tornar o rock ´n roll. O pastor não aprova e manda o filho para o exército, tentando impedir seus sonhos de se tornar músico. (leia mais abaixo)


Eis que surge um astro do rock (claramente inspirado em Elvis Presley) chamado Drexel Hemsley, o irmão gêmeo de Ryan. Em uma era sem internet e com a televisão apenas engatinhando, nem mesmo Ryan consegue reconhecer o irmão famoso, apesar de muita gente dizer que os dois se parecem muito.

O filme tem algumas boas cenas e conta com a participação de coadjuvantes como Joey Pantoliano e Seth Green, mas não consegue se desenvolver. Há uma boa cena, que poderia ter sido o final do filme, em que Ryan ganha um concurso de música em que imita Drexel Hemsley com a presença do próprio entre os jurados. Seria uma ótima oportunidade de fechar o filme, mas ele se estica ainda por um longo tempo explorando o fato de que a vida de Ryan Wade é apenas uma pálida semelhança com o irmão famoso. Falta ao filme uma catarse final, mas o roteiro prefere partir para o melodrama e para cenas supostamente edificantes. Vale como curiosidade o fato de que o ator que interpreta Ryan e Drexel, Blake Rayne, também foi descoberto para o filme como um imitador de Elvis Presley. Ele realmente se parece com o "Rei", embora não seja grande ator.

A trilha sonora não utiliza sucessos conhecidos do rock (provavelmente por problemas com direitos autorais), mas sim várias canções compostas pelos produtores Jerry Marcellino e Yochanan Marcellino. "Idênticos" pode ser visto na Netflix.

João Solimeo