Parece que você está assistindo a dois filmes diferentes. "Operação Big Hero" (Big Hero 6) é, ao mesmo tempo, um terno filme sobre a amizade entre um garoto e um robô, por um lado, e um blockbuster de super-herói da Marvel, por outro.
Explica-se. A Disney comprou a Marvel há alguns anos e, precisando de conteúdo, pediu a seus executivos que vasculhassem o vasto arquivo da fábrica de heróis por alguma coisa que pudesse se transformar em um produto Disney. Encontraram "Big Hero 6", uma HQ produzida no final dos anos 1990 que só era conhecida pelos aficionados pelo gênero, o que dava carta branca para que a história original (que era adulta) pudesse ser mudada e adaptada para a sensibilidade dos espectadores dos estúdios Disney.
O resultado é um filme vibrante, vivo e colorido, com fartas doses de influência oriental. A história se passa na cidade de San Fransokyo, uma interessante mistura da cidade costeira americana com a capital do Japão. A famosa ponte Golden Gate, por exemplo, tem formas orientais, os neons estão escritos em japonês e até os personagens têm nomes japoneses, como Hiro Hamada, um garoto prodígio de 13 anos que gosta de competir em lutas clandestinas de robôs.
Um dia seu irmão mais velho, Tadashi, o leva até uma universidade que é o paraíso dos nerds, em que adolescentes de várias idades desenvolvem bicicletas flutuantes e outras coisas do gênero. O projeto de Tadashi é um robô médico chamado Baymax, que se parece com um marshmallow gigante. Tudo no robô inspira calma e tranquilidade e a função dele é tratar da saúde das pessoas. (leia mais abaixo)
Após um prólogo relativamente longo uma tragédia se abate sobre Hiro, que perde o irmão em um incêndio e herda dele o robô de fala tranquila. A relação entre os dois é muito interessante e tem influências claras de histórias como "E.T.", "Meu amigo Totorô", "Gigante de Ferro", "Como treinar seu dragão", entre outras. O filme provavelmente poderia ter sido apenas sobre isto, mas a partir de certo ponto o roteiro parece se lembrar que é também uma aventura da Marvel e o tom do filme muda radicalmente para a ação desenfreada.
O design japonês me lembrou muito Osamu Tezuka, criador de Astro Boy e dezenas de outros personagens de mangás e animês. "Operação Big Hero" tem um pouco de tudo e certamente vai agradar a diversas plateias, de crianças a adultos. Pessoalmente preferiria que o filme tivesse ficado mais no lado dos sentimentos e menos no lado aventura da Marvel, mas é questão de gosto (e de mercado). Também acho que teria sido melhor, do ponto de vista do estúdio, lançá-lo como um produto da Pixar (que já fez o ótimo "Os Incríveis") do que interromper a tradição dos "filmes de princesas" da Disney. É um bom filme, com visual impressionante (San Fransokyo parece viva e pulsante como uma cidade de verdade) e bons personagens. Sem dúvida haverá continuações em breve.
João Solimeo
João Solimeo
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