Se a vida como você a conhece fosse acabar amanhã, o que você faria? Monty Brogan (Edward Norton, de "O Grande Hotel Budapeste", sempre excelente) tem uma bela namorada, com o nome exótico de Naturelle Riviera (Rosario Dawson, "Sete Vidas"), tem dois amigos fiéis de longa data, Jake (Philip Seymour Hoffman) e Frank (Barry Pepper) e um pai amoroso (Brian Cox).
O problema é que Monty, um ex-traficante que tinha guardado no apartamento grande quantidade de dinheiro e entorpecentes, é visitado pela polícia uma noite. Eles encontram o material e Monty é condenado a sete anos de prisão. Ele ainda é jovem e, se sobreviver à prisão, ainda tem a vida pela frente, mas todos sabem que nada será como antes. Monty resolve passar sua última noite de liberdade farreando por Nova York com os amigos e com a namorada.
"25th Hour" (chamado no Brasil de "A Última Noite) é um filme feito pelo diretor americano Spike Lee em 2002 e está disponível agora no Brasil pela Netflix. O roteiro é baseado em um livro de David Benioff (um dos produtores de "Game of Thrones") e trata de amor, amizade, arrependimento e desconfiança. O filme foi feito pouco depois dos atentados às Torres Gêmeas de Nova York e Spike Lee usa a tragédia da cidade como pano de fundo para a tragédia pessoal de Monty. Os créditos iniciais se desenrolam sobre cenas dos destroços do World Trade Center, representado por fachos de luz. (leia mais abaixo)
Quem teria delatado Monty para a polícia? A culpa, muito provavelmente, é da namorada dele, mas por que ela teria feito isso? Seria ela uma simples interesseira? Como seus amigos estão lidando com a prisão dele? Barry Pepper, interpretando um corretor de Wall Street, mal consegue esconder a frustração com o amigo. Há uma longa cena, feita em um único plano, em que Pepper e Seymour Hoffman falam sobre a vida criminosa de Monty diante de uma janela que dá para os destroços do World Trade Center. "Eu o amo como amigo, mas ele é um traficante e merece ir para a cadeia", diz Frank. Hoffman interpreta um professor de literatura que é o protótipo do "virgem de 40 anos". Ele é incapaz de olhar diretamente nos olhos de outra pessoa e está fascinado com uma aluna de 16 anos que frequenta suas aulas (interpretada por Anna Paquin, da série "X-Men").
O filme tem belíssima direção de fotografia de Rodrigo Pietro ("O Lobo de Wall Street", "Argo") e ótima edição de Barry Alexander Brown, colaborador habitual de Spike Lee. Há cortes muito interessantes no filme, que repetem a ação dos personagens de um plano para outro ou quebram propositalmente o eixo de ação, desorientando o espectador. A trilha sonora de Terence Blanchard, apesar de muito boa, poderia ser menos presente, sendo exagerada em alguns momentos.
Há uma sensação palpável de tensão que cresce conforme vai chegando a hora de Monty ir para a prisão. Será que ele vai suportar sete anos atrás das grades? A namorada deve esperar por ele? Os amigos voltarão a vê-lo? Seria melhor, talvez, dar um tiro na cabeça e terminar com tudo antes?
Brilhante trabalho de direção e interpretação, "25th Hour" não deve ser perdido.
João Solimeo
João Solimeo
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