Alfred Hitchcock tinha tal domínio sobre o que fazia que gostava de se desafiar com situações limitantes. Fez um filme inteiro passado em um bote em "Um Barco e Nove Destinos" (1943); em "Festim Diabólico" (1948), uma série de planos sequência simulavam um movimento contínuo de câmera, em tempo real; em "Janela Indiscreta" (1954), colocou James Stewart preso a uma cadeira de rodas e fez todo o filme do ponto de vista dele. Hitch, provavelmente, aprovaria "Locke", filme escrito e dirigido por Steven Knight, disponível na Netflix.
Ivan Locke (Tom Hardy, de "Os Infratores") é um empreiteiro responsável pela construção de um novo edifício em Birmingham, Inglaterra. Na véspera do dia crucial para o projeto, quando mais de 200 caminhões virão despejar toneladas de concreto nas fundações do prédio, Locke entra em sua BMW e parte para Londres, em uma viagem que vai mudar sua vida. Em uma proeza técnica considerável, os 85 minutos do filme se passam dentro do carro de Locke; Tom Hardy é o único ator que vemos durante toda a produção.
Ele não está sozinho, no entanto. As vozes de uma série de personagens podem ser ouvidas pelo viva voz do seu celular, e Locke tem que resolver problemas em três frentes distintas: o canteiro de obras que ele deixou para trás, com várias pessoas desesperadas precisando da orientação dele; sua família, composta pela esposa e dois filhos, entusiasmados pela transmissão de um jogo importante de futebol e o aguardando em casa; e Bethan (Olivia Colman), uma mulher que está em Londres em trabalho de parto de um filho ilegítimo de Locke. Os dois haviam dormido juntos por uma única vez no ano anterior, nas comemorações de uma obra bem sucedida. Locke tem consciência de que fez algo errado e decidiu, justo nesta noite, quebrar com uma vida regrada e íntegra para consertar este erro, nem que tenha que destruir sua carreira e casamento no processo. (leia mais abaixo)
Filmes vistos por um único ponto de vista não são novidade; em 2010, Ryan Reynolds passa o tempo inteiro dentro de um caixão em "Enterrado Vivo", angustiante filme de Rodrigo Cortés. Robert Redford também é o único ser humano visto pelos 144 minutos de "Até o Fim", dirigido por J.C. Chandor em 2013. E Colin Farrell fez um filme praticamente solo em "Por um Fio", em 2002, dirigido por Joel Schumacher.
Assim como nestes outros exemplos, o que marca "Locke", além do feito técnico, é o lado humano. Ivan Locke está longe de ser perfeito. Ele é sem dúvida um workaholic, embora tenha uma visão bastante filosófica sobre seu trabalho. "Concreto é delicado como sangue", diz ele a um subordinado desesperado. Tudo isto é apresentado ao espectador como em uma rádio novela, enquanto Locke viaja pela noite inglesa. Tom Hardy carrega o filme nas costas, mas também é digno de nota o ótimo trabalho vocal realizado pelos atores invisíveis com quem ele dialoga pelo telefone.
Apesar de seu deslize conjugal, Locke é um homem íntegro e responsável. Por que, então, ele arriscaria um trabalho de milhões de libras por causa do bebê de uma mulher que ele mal conhece? Por que abrir o jogo com a esposa esta noite? O que seu próprio nascimento tem a ver com isso?
É interessante notar o significado do seu nome; John Locke, um filósofo do século 17, desenvolveu uma teoria conhecida por "tabula rasa", ou "folha em branco". Ivan Locke, nesta longa viagem noturna, decidiu zerar sua vida e recomeçar do zero. Imperdível.
Câmera Escura
Apesar de seu deslize conjugal, Locke é um homem íntegro e responsável. Por que, então, ele arriscaria um trabalho de milhões de libras por causa do bebê de uma mulher que ele mal conhece? Por que abrir o jogo com a esposa esta noite? O que seu próprio nascimento tem a ver com isso?
É interessante notar o significado do seu nome; John Locke, um filósofo do século 17, desenvolveu uma teoria conhecida por "tabula rasa", ou "folha em branco". Ivan Locke, nesta longa viagem noturna, decidiu zerar sua vida e recomeçar do zero. Imperdível.
Câmera Escura
Nenhum comentário:
Postar um comentário