Esta continuação do sucesso da DreamWorks Animation de 2010 segue a tradição de que, como em "Star Wars", o segundo filme de uma série deve ser mais sombrio do que o primeiro. "Como Treinar seu Dragão 2" faz isso e muito mais. Quando escrevi sobre o primeiro filme, há quatro anos, disse que "o fato de ser um filme infantil impede que a ameaça dos dragões seja levada muito a sério pelo espectador, já que ninguém morre ou mesmo fica muito ferido nos ataques". Isto não é mais verdade. "Dragão 2" ainda é um filme infantil, bastante colorido, com várias piadinhas e uma corrida aérea inicial que lembra os jogos de quadribol da série Harry Potter; mas o nível de realismo foi elevado, tanto técnica quanto narrativamente.
É um prazer ver o nível de detalhes empregado na criação dos personagens e na iluminação dos cenários. O diretor de fotografia Roger Deakins novamente aparece nos créditos como consultor, e a iluminação desta animação é das melhores já vistas em uma computação gráfica. O 3D é usado com sabedoria e, felizmente, para realmente ampliar a sensação do espectador, e não como um artifício forçado para cobrar um ingresso mais caro. (leia mais abaixo)
Há também um aprofundamento muito maior nos personagens. O diretor/roteirista Dean DeBlois traz Soluço como um jovem de 20 anos que, após revolucionar a relação entre homens e dragões no primeiro filme, agora enfrenta uma nova ameaça; um vilão chamado Drago pretende escravizar todos os dragões e atacar a vila de Berk, onde moram Soluço e seus companheiros. O pai de Soluço, o teimoso Estoico, quer enfrentar o problema da forma Viking, ou seja, partir para o ataque. O rapaz, como sempre, discorda do pai e parte com Banguela para tentar uma solução diplomática. Ele encontra pelo caminho muito mais do que esperava, na forma de uma figura do passado, uma mulher chamada Valka que, assim como ele, também é amiga dos dragões. Há uma pitada de Hayao Miyazaki, o mestre animador japonês por trás de clássicos como "Princesa Mononoke" e "Vidas ao Vento", na personagem de Valka. A cena em que ela surge através das nuvens, mascarada e montada em um dragão, é puro Miyazaki. Pode-se perceber também uma influência japonesa no tom ecológico do filme e no design de um "dragão alfa" que vive em um santuário no meio do gelo. E quem diria que um blockbuster infantil se daria ao trabalho de criar uma longa e calma sequência romântica entre dois amantes do passado?
Claro que tudo termina em uma grande cena de luta, mas DeBlois a conduz com muita competência. Há uma grande dose de ambição na sequência em que dois dragões alfa, gigantescos, lutam ao fundo do cenário enquanto pequenas figuras humanas combatem em primeiro plano. Uma cena de sacrifício pode chocar as crianças (e adultos) presentes, mas isso só mostra como esta série evoluiu.
Assim, "Como Treinar seu Dragão 2" é bastante superior ao primeiro filme e um grata surpresa. Para ser visto em 3D, na tela grande do cinema.
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