"House of Cards" é pioneira de várias formas. Foi a primeira série produzida pelo canal Netflix (provedor de conteúdo na internet que cresceu a ponto de desafiar gigantes como a HBO). Foi também pioneira na forma de exibição; tanto a primeira temporada (em 2013) quanto a segunda (em 2014) foram tornadas disponíveis na íntegra para os assinantes da Netflix. A decisão, ousada, veio da constatação de que a maioria dos fãs de seriados gosta de fazer "maratonas" de episódios das suas séries preferidas, ao invés de esperar pela próxima semana. A série foi também criada de forma nova, a partir da análise dos hábitos dos assinantes da Netflix. O canal descobriu que o público alvo gostava do diretor David Fincher (de "A Rede Social", "Zodíaco", "Se7en") e do ator Kevin Spacey ("Se7en", "Os Suspeitos", "Beleza Americana"), e assim nasceu "House of Cards". A série é baseada em uma produção britânica e em um livro de Michael Dobbs. Kevin Spacey, além de atuar, é um dos produtores; em entrevista a Jon Stewart ele disse que a Netflix gostou tando da ideia que sequer pediu a produção de um episódio piloto, encomendando logo 26 episódios a serem divididos em duas temporadas.
ATENÇÃO SPOILERS, esteja avisado.
A série acompanha a jornada do congressista Frank Underwood (Kevin Spacey), um político tão ambicioso quanto traiçoeiro. A primeira cena de Underwood já mostra seu modo de ser, quando ele mata com as próprias mãos um cachorro que está agonizando na rua após ter sido atropelado. O que pode parecer um gesto nobre, na verdade, só mostra o lado cruel e pragmático de Frank. É também um prenúncio dos crimes que Underwood irá cometer durante a série (embora, a bem da verdade, este lado assassino demore a aparecer).
Esqueça o idealismo e patriotismo de "The West Wing" (1999-2006), série de Aaron Sorkin que também mostrava os bastidores da Casa Branca e da política americana. Em "House of Cards" ninguém é inocente. Há uma multidão de personagens, todos competindo por um pedaço do poder de Washington. Frank Underwood, em uma das melhores sacadas da série, frequentemente quebra a "quarta parede" e fala diretamente com o espectador, explicando suas motivações e nos transformando em cúmplices. Depois de algum tempo, Spacey apenas lança olhares significativos para a câmera, como que querendo dizer: "Eu não disse?".
A primeira temporada (2013) trata, além das maquinações de Underwood para subir aos altos escalões de Washington, de outras duas tramas: uma segue a carreira da jovem e ambiciosa repórter Zoe Barnes (Kate Mara, irmã de Rooney Mara, que trabalhou com David Fincher em "A Rede Social" e em "Os homens que não amavam as mulheres"). Barnes começa como estagiária em um jornal tradicional de Washington mas, aos poucos, consegue atrair a atenção de Frank Underwood, que lhe vaza informações conforme sua conveniência. Em troca (repito, não estamos no mundo nobre de "The West Wing"), Zoe Barnes começa um relacionamento sexual com Underwood, um homem casado e com o dobro da idade dela.
Outra trama segue os passos de Pete Russo (Corey Stoll), um deputado democrata alcoólatra que cai na teia de Frank Underwood ao ser parado pela polícia de Washington. Russo estava bêbado e acompanhado de uma prostituta, mas é solto por influência de Underwood apenas para se tornar mais um peão nos jogos de Frank. Um dos pontos altos da primeira temporada (atenção, SPOILERS) é o "suicídio" de Pete Russo, engendrado por Frank Underwood. Com a morte de Russo, o vice presidente renuncia para concorrer ao governo da Pensilvânia, deixando livre o caminho para que Underwood se torne o vice presidente dos Estados Unidos da América.
A segunda temporada (2014) começa com um dos melhores episódios de toda série. Tão bom, na verdade, que o resto da temporada acaba empalidecendo em comparação. É neste episódio que acontece a morte mais surpreendente e inesperada de "House of Cards", quando Frank Underwood elimina Zoe Barnes em uma estação de metrô. A personagem de Kate Mara era aparentemente tão importante para a trama que o espectador jamais imaginaria que ela seria descartada de forma tão rápida e chocante. O problem é que, como dito anteriormente, a força do episódio é tão grande que o resto da temporada, que culmina com a chegada de Underwood à presidência da república, perde um pouco do brilho. A segunda temporada é marcada por embates entre Underwood e o único homem capaz de ficar (temporariamente) em seu caminho, o bilionário Raymond Tusk (o ótimo Gerald McRaney). Há episódios um tanto maçantes sobre disputas comerciais, subsídios para empresas de energia e uma crise crescente com a China. O presidente Garret Walker (Michael Gill) se mostra extremamente incompetente em lidar com todos estes problemas e se torna presa fácil para o plano elaborado por Underwood. Tudo culmina com um pedido de impeachment e uma ótima cena final, em que Frank entra no Salão Oval da Casa Branca como o 46º presidente dos Estados Unidos (sem ter recebido um único voto). É uma cena forte e com uma mensagem assustadora, embora um tanto exagerada, sobre as fragilidades da democracia.
Dois grandes parênteses devem ser feitos para os personagens de Claire Underwood (Robin Wright), a esposa de Frank, e seu capataz, Doug Stamper (Michael Kelly). Claire, interpretada com enganadora fragilidade e frieza por Robin Wright, é o porto seguro por trás de Frank. Conforme a série progride ficamos sabendo que, em vários aspectos, ela é tão ou mais perigosa quanto o marido. Ela tem consciência dos casos extra-conjugais de Frank e uma trama importante envolve o caso dela com um fotógrafo famoso. Na segunda temporada, grande parte da trama é dedicada a um estupro que ela sofreu na juventude, com repercussões no presente.
Já Doug Stamper é como um cão de guarda de Frank, responsável por orquestrar os bastidores e, geralmente, lavar a roupa suja deixada pelo chefe. Alcoólatra como Pete Russo, Stamper é frio, quieto e eficiente. Seu único ponto fraco é Rachel Posner (Rachel Brosnahan), a prostituta que estava com Russo quando ele foi preso. Stamper se sente atraído pela moça, mas não necessariamente de forma sexual. Como ela tem informações que podem causar a queda de Underwood, seria mais fácil se ela "desaparecesse" convenientemente, assim como Russo e Barnes. Mas Stamper prefere protegê-la, ao mesmo tempo em que mantém um perigoso jogo de poder com ela. A interpretação de Michael Kelly é soberba e Stamper é um dos personagens mais interessantes da série.
Uma terceira temporada de "House of Cards" já foi anunciada pela Netflix, com estréia para 2015. Resta saber se os produtores e elenco vão conseguir manter o alto nível conseguido até aqui.
Câmera Escura
Esqueça o idealismo e patriotismo de "The West Wing" (1999-2006), série de Aaron Sorkin que também mostrava os bastidores da Casa Branca e da política americana. Em "House of Cards" ninguém é inocente. Há uma multidão de personagens, todos competindo por um pedaço do poder de Washington. Frank Underwood, em uma das melhores sacadas da série, frequentemente quebra a "quarta parede" e fala diretamente com o espectador, explicando suas motivações e nos transformando em cúmplices. Depois de algum tempo, Spacey apenas lança olhares significativos para a câmera, como que querendo dizer: "Eu não disse?".
A jornalista Zoe Barnes (Kate Mara) |
Outra trama segue os passos de Pete Russo (Corey Stoll), um deputado democrata alcoólatra que cai na teia de Frank Underwood ao ser parado pela polícia de Washington. Russo estava bêbado e acompanhado de uma prostituta, mas é solto por influência de Underwood apenas para se tornar mais um peão nos jogos de Frank. Um dos pontos altos da primeira temporada (atenção, SPOILERS) é o "suicídio" de Pete Russo, engendrado por Frank Underwood. Com a morte de Russo, o vice presidente renuncia para concorrer ao governo da Pensilvânia, deixando livre o caminho para que Underwood se torne o vice presidente dos Estados Unidos da América.
A segunda temporada (2014) começa com um dos melhores episódios de toda série. Tão bom, na verdade, que o resto da temporada acaba empalidecendo em comparação. É neste episódio que acontece a morte mais surpreendente e inesperada de "House of Cards", quando Frank Underwood elimina Zoe Barnes em uma estação de metrô. A personagem de Kate Mara era aparentemente tão importante para a trama que o espectador jamais imaginaria que ela seria descartada de forma tão rápida e chocante. O problem é que, como dito anteriormente, a força do episódio é tão grande que o resto da temporada, que culmina com a chegada de Underwood à presidência da república, perde um pouco do brilho. A segunda temporada é marcada por embates entre Underwood e o único homem capaz de ficar (temporariamente) em seu caminho, o bilionário Raymond Tusk (o ótimo Gerald McRaney). Há episódios um tanto maçantes sobre disputas comerciais, subsídios para empresas de energia e uma crise crescente com a China. O presidente Garret Walker (Michael Gill) se mostra extremamente incompetente em lidar com todos estes problemas e se torna presa fácil para o plano elaborado por Underwood. Tudo culmina com um pedido de impeachment e uma ótima cena final, em que Frank entra no Salão Oval da Casa Branca como o 46º presidente dos Estados Unidos (sem ter recebido um único voto). É uma cena forte e com uma mensagem assustadora, embora um tanto exagerada, sobre as fragilidades da democracia.
Claire Underwood (Robin Wright) |
Dois grandes parênteses devem ser feitos para os personagens de Claire Underwood (Robin Wright), a esposa de Frank, e seu capataz, Doug Stamper (Michael Kelly). Claire, interpretada com enganadora fragilidade e frieza por Robin Wright, é o porto seguro por trás de Frank. Conforme a série progride ficamos sabendo que, em vários aspectos, ela é tão ou mais perigosa quanto o marido. Ela tem consciência dos casos extra-conjugais de Frank e uma trama importante envolve o caso dela com um fotógrafo famoso. Na segunda temporada, grande parte da trama é dedicada a um estupro que ela sofreu na juventude, com repercussões no presente.
Já Doug Stamper é como um cão de guarda de Frank, responsável por orquestrar os bastidores e, geralmente, lavar a roupa suja deixada pelo chefe. Alcoólatra como Pete Russo, Stamper é frio, quieto e eficiente. Seu único ponto fraco é Rachel Posner (Rachel Brosnahan), a prostituta que estava com Russo quando ele foi preso. Stamper se sente atraído pela moça, mas não necessariamente de forma sexual. Como ela tem informações que podem causar a queda de Underwood, seria mais fácil se ela "desaparecesse" convenientemente, assim como Russo e Barnes. Mas Stamper prefere protegê-la, ao mesmo tempo em que mantém um perigoso jogo de poder com ela. A interpretação de Michael Kelly é soberba e Stamper é um dos personagens mais interessantes da série.
Uma terceira temporada de "House of Cards" já foi anunciada pela Netflix, com estréia para 2015. Resta saber se os produtores e elenco vão conseguir manter o alto nível conseguido até aqui.
Câmera Escura
Um comentário:
É difícil que uma série seja tão boa depois de tantas estações ainda tão boas, essa foi a minha série favorita. Amo a Kevin Spacey, lembro dos seus papeis iniciais, em comparação com os seus filmes atuais, e vejo muita evolução, mostra personagens com maior seguridade e que enchem de emoções ao expectador. Amo os kevin spacey filmes esfrutei muito sua atuação neste filme Virei Um Gato cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção e muito bom elenco.
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