Há 50 anos, em 1964, os estúdios de Walt Disney lançaram "Mary Poppins", um musical estrelado por Julie Andrews e Dick Van Dyke. O filme rendeu mais de cem milhões de dólares, ganhou 5 Oscars e se transformou em um clássico infantil. Poucos sabem quem é a criadora original da personagem e o quão difícil foi para Disney conseguir os direitos para fazer o filme. Mary Poppins apareceu pela primeira vez em um 1934, fruto da imaginação da escritora P.L. Travers, uma mulher enigmática que se passava por inglesa mas, na verdade, era uma australiana chamada Helen Goff.
As filhas de Disney teriam se apaixonado pela história quando crianças e Walt passou os próximos 20 anos tentando convencer a escritora a lhe vender os direitos autorais. É preciso notar que Disney criou um império com animações baseadas em histórias de domínio público, como "Branca de Neve", "Cinderella" ou "A Bela Adormecida", e era um homem acostumado a ter controle sobre suas produções. P.L. Travers (interpretada muito bem por Emma Thompson) desprezava os desenhos animados de Disney (Tom Hanks, "Capitão Philips"), mas concordou em viajar para Los Angeles, em 1961, para se sentar com os roteiristas e tentar chegar a um acordo. Mas ninguém imaginaria com qual fúria Travers defenderia seu personagem. Segundo o filme, ela exigia que todas as reuniões fossem gravadas e implicava com tudo, do bigode usado pelo Sr. Banks até o uso da cor vermelha, que ela não permitia que fosse usada no filme; ela nem queria ouvir falar nas cenas com animações que Disney planejava fazer. (leia mais abaixo)
"Walt nos bastidores de Mary Poppins" (o título explicativo horroroso escolhido por aqui para "Saving Mr. Banks") é uma versão simpática (e bastante ficcional) do confronto entre estas duas mentes criativas e teimosas. O filme foi feito pelos próprios estúdios Disney, e era de se esperar que a trama fosse pintada com cores mais leves e otimistas do que deve ter sido a história real. O roteiro de Kelly Marcel e Sue Smith misturam, com diferentes graus de sucesso, a história da infância de Travers, na Austrália, com sua viagem para Hollywood. O pai da escritora (interpretado por um surpreendente Colin Farrell) era um homem sonhador que arrastou esposa e três filhas para uma zona rural nos confins da Austrália. Apesar de amoroso com as filhas, ele sofria com o alcoolismo, que destruiu sua vida. Estas cenas são intercaladas com cenas de Travers nos anos 1960, lutando por manter Mary Poppins intacta contra o que julgava ser uma "Disneyficação" da personagem. Após muitas discussões e uma boa dose de sacrifício do próprio Walt Disney, tudo termina em um obrigatório final feliz. Para este filme, funciona.
Quem pesquisar sobre a história real, no entanto, vai descobrir que não foi bem assim. A história de P.L. Travers renderia muito mais do que um problema freudiano com o pai alcoólatra. Em 1939, ela adotou um garoto de uma família irlandesa, mas não lhe contou a verdade. Segundo este bom documentário da BBC, quando P.L. Travers estava em Hollywood fazendo um filme sobre uma tradicional família inglesa, o filho adotivo estava preso na Inglaterra por dirigir embriagado. Há também rumores de que Travers era homossexual. Nada disso está no filme. A relação com Disney foi ainda mais complicada; Travers teria odiado "Mary Poppins" e, mesmo depois da première em Los Angeles, teria tentado fazer Disney tirar as sequências animadas. Por outro lado, o documentário conta que o contrato da escritora lhe dava direito a 5% da renda do filme, o que a deixou milionária para o resto da vida.
Como ficção, no entando, "Walt nos Bastidores de Mary Poppins" é agradável. O elenco é ótimo (apesar de Tom Hanks não parecer muito Walt Disney) e a recriação de época é bastante fiel. P.L. Travers, no entanto, teria odiado este filme.
Câmera Escura
Como ficção, no entando, "Walt nos Bastidores de Mary Poppins" é agradável. O elenco é ótimo (apesar de Tom Hanks não parecer muito Walt Disney) e a recriação de época é bastante fiel. P.L. Travers, no entanto, teria odiado este filme.
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