"O mundo não é preto e branco como você imagina", diz o trapaceiro Irving Rosenfeld (Christian Bale) ao agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper). "Ele é bem cinza".
"Trapaça", dirigido por David O. Russell, não é apenas cinza, mas azul, vermelho, verde, pink e todas as cores pulsantes do final dos anos 1970. É também, possivelmente, o melhor filme de Russell (muito melhor do que "O Lado Bom da Vida", de 2012). É verdade que, assim como Christian Bale (ótimo, gordo, careca) parece estar interpretando uma versão caricata de Robert DeNiro (nos bons tempos), Russell incorporou todo o arsenal do mestre Martin Scorsese ao dirigir este filme. "Trapaça" é filmado e montado com as assinaturas típicas de Scorsese como a câmera em constante movimento, a narração em off (estilo "Os Bons Companheiros", "Cassino" e "O Lobo de Wall Street") e trilha sonora composta por canções pop da época.
O roteiro (de Russell e Eric Warren Singer) é baseado em uma operação do FBI que, nos anos 1970, levou vários políticos à cadeia, acusados de suborno e fraude. A adaptação é tão livre, porém, que o filme começa com um letreiro que, ao invés de escrever "Baseado em Fatos Reais", diz "Algumas coisas a seguir aconteceram de verdade". Christian Bale e Amy Adams repetem a parceria que tiveram com Russell no bom "O Vencedor" (2011), em que Bale interpretava um esquelético viciado em crack. Em "Trapaça", Bale está muitos quilos mais gordo, careca e muito engraçado como Irving Rosenfeld, um trapaceiro que começou a vida de crimes quebrando vitrines de vidro, quando criança, para ajudar os negócios do pai, que tinha uma vidraçaria. (leia mais abaixo)
Quando Rosenfeld bate os olhos em Sydney Prosser (Amy Adams, em bom ano), é amor à primeira vista. Os dois armam esquemas para tirar dinheiro de pessoas desesperadas, mas um dia são pegos em flagrante por Richie DiMaso (Bradley Cooper), um ambicioso agente do FBI. DiMaso oferece um acordo; se Rosenfeld e Sydney o ajudarem a prender outras pessoas, eles estão livres. Eles então armam um esquema complicado para tentar pegar o prefeito de Camdem (New Jersey), Carmine Polito (Jeremy Renner, de "Guerra ao Terror"), que quer reativar os decadentes cassinos de Atlantic City.
O problema é que, por causa da ambição de agente DiMaso e das trapalhadas da esposa de Rosenfeld, Rosalyn (Jennifer Lawrence, bem melhor aqui do que na série "Jogos Vorazes"), o plano vai se tornando cada vez mais complicado e perigoso, envolvendo políticos poderosos e até mesmo a Máfia. Nada é preto e branco, como disse Rosenfeld, e as motivações dos personagens mudam constantemente. Há até espaço para que um trapaceiro como Rosenfeld se sinta culpado com o que está fazendo com o prefeito Carmine, de quem se tornara grande amigo. E há uma confusão de sentimentos no "quadrado amoroso" composto por Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence que torna os personagens, apesar de caricatos, bastante humanos.
Apesar de um pouco longo (138 minutos) "Trapaça" é vibrante, engraçado e inteligente. Indicado a dez Oscars.
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