sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A Vida Secreta de Walter Mitty

Walter Mitty (Ben Stiller) é um homem analógico. Logo na primeira cena nós o vemos enfrentando problemas para postar em um site de relacionamentos enquanto, atrás dele, podemos ver uma estante cheia de discos de vinil e um aparelho de som antigo. Ele trabalha para a revista "Life" no setor que lida com os poucos negativos de fotos que ainda são enviados por fotógrafos mundo afora. Walter e sua vida analógica enfrentam um grande desafio quando a "Life" é comprada e é anunciada a extinção da revista em papel. A "Life" vai se transformar em "Life Online", que é uma metáfora bastante direta para o que está acontecendo hoje não só com Walter, mas com todo mundo.

"A Vida de Walter Mitty" é estrelado e também dirigido por Stiller; a produção seria comandada por Gore Verbinski, mas Stiller assumiu o posto quando Verbinski foi dirigir o fracasso "O Cavaleiro Solitário". Ben Stiller é bom comediante e é um ator muito melhor do que o insuportável Adan Sandler, por exemplo, passando um ar de "gente comum" que cai bem em um personagem como Walter Mitty (por outro lado, Steve Carell teria sido perfeito). Mitty tem um herói, um fotógrafo aventureiro chamado Sean (ninguém menos que Sean Penn, de "Milk"), que lhe manda um rolo de filme com instruções específicas para usar a foto número 25 como capa da última edição impressa de "Life". O problema é que Walter não consegue encontrar o negativo e resolve, pela primeira vez em anos, sair da zona de conforto, partindo para uma aventura em busca de Sean e da misteriosa foto. Há algo de "Forest Gump" em Walter Mitty quando ele parte, geralmente correndo, mundo afora por países como a Groenlândia, Islândia e Afeganistão. Não foram usadas câmeras digitais nas filmagens, mas sim a película (analógica) Kodak. O que não impede, porém, que o filme tenha algumas sequências cheias de efeitos especiais (digitais) que mostram as fantasias de Walter. Algumas destas cenas são interessantes, mas há outras exageradamente longas e desnecessárias, como uma luta entre Mitty e seu "inimigo" Ted Hendricks (Adam Scott), o executivo responsável pela transição da "Life" (um personagem que lembra o de George Clooney em "Amor sem Escalas").


As cenas com as aventuras reais de Mitty funcionam muito melhor, filmadas em locações reais na Islândia (que também foi usada para se passar pela Groenlândia e o Himalaia). Há também um romance com altos e baixos entre Mitty e uma colega de trabalho, Cheryll (Kristen Wigg, de "Meu Malvado Favorito 2"). Incomoda um pouco o uso descarado de merchandising; além da revista "Life", claro, há uma propaganda constante do site de relacionamentos e-Harmony. A veterana Shirley MacLaine faz uma participação como a mãe super-protetora de Mitty. A "mensagem" do filme não é nenhuma novidade, mas um convite à aventura nunca é demais. "A Vida Secreta de Walter Mitty" não é nenhuma obra-prima, mas diverte.

PS: e quem percebeu a sutil referência a "Matrix"?

Câmera Escura

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

"Os Mercenários 3", veja o teaser

Sylvester Stallone e um impressionante grupo de atores do cinema "macho" voltam ano que vem no terceiro filme da franquia "Os Mercenários". O episódio vai trazer atores do calibre de Harrison Ford, Mel Gibson e Antonio Banderas, além de Wesley Snipes, Jet Li, Jason Statham, Arnold Swarzenegger, Dolph Lundgren e muitos outros. Haja testosterona.

O teaser, curto e simples, mostra o elenco ao som da trilha de "A Ponte do Rio Kwai", clássico de David Lean de 1957.

Câmera Escura

Confira.

Assista ao teaser trailer de "Como treinar seu dragão 2"

A "DreamWorks Animation" lançou um novo teaser trailer do filme "Como treinar seu dragão 2".

O filme é dirigido por Dean DeBlois e é a continuação do sucesso de 2010, "Como treinar seu dragão", que contava a história da amizade entre um garoto viking e um dragão que aterrorizava a vila do rapaz. A animação foi um grande sucesso e, naturalmente, ganhou uma continuação, que se passa cinco anos depois dos eventos da primeira parte.

Entre os atores que dublam as vozes dos personagens está Cate Blanchett (Blue Jasmine), Kit Harington (Game of Thrones) e Craig Fergusson, entre outros.

Segundo o site  IMDB, O filme está marcado para estrear no Brasil em 19 de junho de 2014.

Câmera Escura

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

42: A História de uma Lenda

Mesmo após lutar contra os nazistas na II Guerra Mundial ao lado dos brancos, os negros americanos, ao voltarem para casa, reencontraram os problemas de sempre; segregação, lugares separados em estádios, casas de espetáculo e até mesmo em banheiros. No baseball não era diferente e os negros podiam jogar apenas em uma liga própria. Até que, em 1947, o dono do Brooklyn Dodgers, Branch Hickey (um Harrison Ford bem diferente do comum) resolveu fazer uma aposta polêmica, trazendo para o time o jogador negro Jackie Robinson (Chadwick Boseman), que faria história usando a camisa "42".

Esta história é contada por Brian Helgeland, roteirista do ótimo "Sobre Meninos e Lobos", de Clint Eastwood e diretor do divertido "Coração de Cavaleiro", com Heath Ledger. "42" tem seus méritos, mas é bem comportado demais, parecendo um especial de TV. Harrison Ford surpreende ao deixar de ser "Harrison Ford" e assumir a idade, interpretando Branch Hickey como um velho idealista, obstinado e ranzinza (que lembra um pouco Carl Fredricksen, personagem do animado "Up - Altas Aventuras", da Pixar). No papel de Jackie Robinson, Chadwick Boseman faz o que pode com um roteiro um tanto simplista. O verdadeiro Robinson tem o status de lenda no baseball americano, a ponto da camisa número 42 ter sido aposentada no esporte, o que talvez justifique o modo "chapa branca" com que este filme foi feito. Mesmo mostrando episódios de racismo, "42" parece com medo de encarar os problemas que devem ter acontecido na época. A única cena mais forte se dá quando o técnico do time da Filadélfia, Ben Chapman (Alan Tudyk), resolve provocar Robinson gritando uma série de frases racistas durante um jogo. No resto do filme, porém, quase todo ato de racismo é acompanhado por uma cena em que um colega branco de Robinson lhe dá apoio imediato.


"42: A História de uma Lenda" ganharia muito se saísse do lugar comum. É tecnicamente competente, com boa fotografia do veterano Dom Burgess (de "Forest Gump", "O livro de Eli", "Homem-Aranha"), música de Mark Isham e interpretações sólidas. Mas falta ambição. Disponível em DVD (onde pode ser melhor apreciado).



domingo, 15 de dezembro de 2013

O Hobbit: A Desolação de Smaug

Um ano depois de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada", o diretor Peter Jackson (e legiões de produtores, artistas de efeitos especiais, atores, figurantes, etc) coloca nas telas "O Hobbit: A Desolação de Smaug", capítulo dois da trilogia re-imaginada por Jackson a partir do singelo livro escrito por J.R.R. Tolkien lá nos idos do século XX.

O filme ainda é muito longo, mas é fato de que o ritmo é mais rápido do que o anterior. Bilbo Baggins (Martin Freeman, divertido), o mago Gandalf (Ian McKellen) e 13 anões continuam a jornada pela Terra Média em direção da Montanha Solitária, antigo reino dos anões. O lugar foi tomado pelo cruel e gigantesco dragão Smaug (na voz GRAVE de Benedict Cumberbatch, de "Além da Escuridão: Star Trek"), e os anões querem retomar seu lugar de direito. Eles são liderados por Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage), e a impressão que se tem é que Peter Jackson está tentando dar a Thorin semelhanças com Aragorn (Viggo Mortensen) que, na trilogia do "Senhor dos Anéis", também era o filho de um rei deposto, tentando retomar seu lugar. Só que não é tão fácil humanizar (ou enobrecer) personagens tão caricatos quanto os 13 anões criados por Tolkien (lembrando que o trabalho original era um livro infantil). Os aventureiros entram na Floresta Sombria, enfrentam um grupo de aranhas gigantes e acabam prisioneiros dos Elfos liderados pelo Rei Thranduil (Lee Pace), pai de Légolas (Orlando Bloom), que não aparece no livro original mas foi trazido de volta por Jackson para esta aventura. Bloom está doze anos mais velho do que nos filmes anteriores e, apesar da idade (e peso) maiores serem aparentes, seu personagem ainda faz a alegria dos fãs. Na sequência mais acelerada do filme, em que Bilbo e os anões fogem em uma corredeira dentro de barris,  Légolas mata dezenas de orcs enquanto salta de barril em barril, pulando por cima de galhos e realizando outras acrobacias de arco e flecha em punho. Os orcs, falando nisso, são os típicos vilões feios e descartáveis que podem ser mortos pelos heróis sem problemas de consciência.


O ponto alto, claro, é o confronto com o enorme dragão Smaug, uma fera de tamanho descomunal, que "causa terremotos quando se move e tufões quando agita as asas". Mas é um dragão que fala com o inglês impecável de Benedict Cumberbatch e os diálogos irônicos de Tolkien, e é realmente divertido ver o pequeno Bilbo tentando salvar a própria vida através da lábia. O filme é visualmente espetacular e há sequências de ação suficientes para agradar qualquer fã. Paralelo à trama do livro original, Peter Jackson e seus roteiristas vão tentando criar pontes com a trilogia original do "Senhor dos Anéis", o que não deixa de ser ambicioso, apesar de soar forçado em diversos momentos. A trama termina no meio a uma cena de ação, deixando o público em suspense para a conclusão da saga, daqui um ano. Com altos e baixos, "A Desolação de Smaug" é melhor do que o anterior, embora poderia ser melhor ainda se Jackson não tivesse tanto apego com as horas e horas de material filmado. Mesmo comercialmente falando, um filme entre uma hora e meia e duas horas renderia muito mais. Faz falta alguém com poder para pegar o filme e cortar, tranquilamente, uns quarenta, cinquenta minutos (material que poderia se tornar "extra" no DVD) de cenas desnecessárias.

Câmera Escura

sábado, 14 de dezembro de 2013

Christopher Nolan lança teaser trailer de "Interstellar"

"Interstellar", o próximo filme de Christopher Nolan, tem teaser trailer lançado. O vídeo mostra imagens de arquivo do Programa Espacial americano enquanto se escuta uma narração de Matthew McConaughey sobre o desejo humano de explorar o desconhecido. O filme tem data para estrear, 7 de novembro de 2014. Assista.




 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Azul é a cor mais quente

Uma pena que este filme tenha sido mais comentado por causa das cenas de sexo do que pelas outras coisas que tem a oferecer. As cenas existem e são "fortes" sim mas, em plena segunda década do século 21, sexo não deveria ser considerado novidade no cinema. Filmes como "O Amante" (1992), de Jean-Jacques Annaud ou, mais recentemente, "Desejo e Perigo" (2009), de Ang Lee (sem falar em séries de TV como "Game of Thrones") levaram a representação do ato sexual ao limite. O diferencial das cenas em "Azul é a cor mais quente", talvez, seja a longa duração; considerando que o filme tem mais de três horas, porém, sexo é apenas um detalhe.

"Azul é a cor mais quente" é dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche (do perturbador "Vênus Negra"), que escreveu o roteiro baseado em uma série de quadrinhos. Adèle (Adèle Exarchopoulos) é uma adolescente que está em dúvida sobre sua sexualidade. Bonita, ela atrai a atenção dos rapazes (e garotas) da escola, e chega a transar com um colega, mas ela sente que falta alguma coisa. "Parece que estou sempre fingindo", diz ela a um amigo gay. A "alguma  coisa" de que ela sente falta aparece na forma de uma garota mais velha, Emma (Léa Seydoux, de "Missão: Impossível - Protocolo Fantasma"), que ela vê passando na rua. As duas acabam se conhecendo em um bar gay e começam a sair juntas. Ao contrário do que a publicidade em torno do filme dá a entender, elas não pulam direto na cama. Leva quase uma hora e meia para que as duas, finalmente, durmam juntas. Este é um filme europeu, e as personagens ficam conversando sobre arte e filosofia, citando trechos de Sartre em longos diálogos muito bem interpretados pelas atrizes e coreografados por Kechiche. É um filme plasticamente bonito de se ver, com fotografia primorosa de Sofian El Fani que, auxiliado pela direção de arte e figurino, compõe quadros em que a cor azul é predominante. Emma é estudante de Belas Artes e Adèle está estudando para ser professora. Emma é mais velha e segura de si, enquanto que Adèle parece estar sempre com "fome". A presença de comida, aliás, é constante por todo o filme; do lanche que Adèle faz com um rapaz, no início, passando pela macarronada preparada por seu pai aos frutos do mar feitos pelos pais de Emma, os personagens estão sempre comendo alguma coisa. Após um beijo em uma cena sensível passada no parque, as duas acabam finalmente na cama, e começa a longa cena de sexo sobre a qual estão todos falando. Curiosamente, o contato físico é tão grande e explícito que, a meu ver, o sexo esfria o filme. Há mais intimidade nos olhares trocados por Emma e Adèle no bar, falando sobre arte, do que nos malabarismos filmados detalhadamente por Kechiche. Estas cenas são necessárias? Talvez, mas não pelo tempo que consomem.


Falando em "tempo", o roteiro esconde sua passagem em frases dos diálogos, mudanças nos penteados e em outros pequenos detalhes. Emma leva Adèle para conhecer os pais, por exemplo, e eles comentam que queriam conhecê-la "há meses". Em uma festa, vemos uma mulher que está grávida e, em outra cena, descobrimos que sua filha já está com três anos. Adèle se torna professora do maternal e pré-primário e gosta do seu trabalho, mas Emma gostaria que ela fizesse algo mais criativo. Como em qualquer drama de romance (hétero ou gay), há cenas de ciúmes, traições e corações partidos, tudo apresentado no ritmo lento com que Kechiche leva a narrativa.

"Azul é a cor mais quente" ganhou a Palma de Ouro em Cannes e tanto o diretor quanto as duas atrizes foram premiados. A julgar por entrevistas dadas por elas, as filmagens foram tudo, menos harmoniosas. As atrizes descrevem Kechiche como um ditador no set, refazendo a mesma cena centenas de vezes. Talvez tudo não passe de marketing. O que fica das três horas acompanhando a "vida de Adèle" (do título original) é um cinema extremamente bem feito e, em grande parte, sensível e honesto. A interpretação das atrizes varia; a personagem de Emma (e a interpretação de Seydoux) crescem bastante durante a narrativa, enquanto que Adèle me pareceu melhor na primeira metade. Tirando a polêmica, o que sobra é bom cinema.



quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Eu, Anna

Saber "quem matou" é a coisa menos importante neste filme de suspense. "Eu, Anna" tem muito "clima" e boas interpretações da dupla principal de atores veteranos. Charlotte Rampling (também nas telas em "Trem Noturno para Lisboa") está com 67 anos e, ao contrário de muitas atrizes por aí, nunca fez questão de esconder a idade. Ela é Anna, uma mulher divorciada que, solitária, procura por um companheiro em reuniões de solteiros. Em uma destas reuniões entra Bernie (Gabriel Byrne, sempre sóbrio), um inspetor de polícia que está ali para...vamos por partes.

Bernie está investigando o assassinato de um homem, George Stone (Ralph Brown) que morreu com uma pancada na cabeça; Bernie chega à cena do crime às cinco da manhã e encontra, saindo do prédio, uma bela mulher (Rampling), com quem fica intrigado. Uma mistura de interesse pessoal e faro profissional o faz investigar Anna, a quem segue pelas ruas de Londres. Anna mora com a filha Emmy (Hayley Atwell, de "Capitão América: O Primeiro Vingador") e uma neta de dois anos, Chiara. Em flashbacks sangrentos, ficamos sabendo que Anna havia estado com o homem que foi assassinado, mas ela é culpada? Há outros suspeitos, como o filho do morto, Stevie (Max Deacon), que estava devendo dinheiro para traficantes; teria sido o crime motivado por um problema com drogas? Mas, como disse, saber quem foi o culpado ou culpada fica em segundo plano; o que importa ao filme é o estranho relacionamento entre o policial Bernie e Anna. Ele a segue até uma das reuniões de solteiros, se apresenta e os dois se sentem à vontade um com o outro, apesar de ser claro que ambos guardam segredos e mágoas do passado. Bernie está realmente interessado romanticamente ou quer desvendar um crime?


"Eu, Anna" foi escrito e dirigido pelo filho de Charlotte Rampling, Barnaby Southcombe (enteado do músico francês Jean-Michel Jarre), em sua estréia em longas metragens. Southcombe faz um filme com muita atmosfera, aproveitando muito a boa direção de fotografia de Ben Smithard e a trilha sonora (de alguém que assina "K.I.D."). O roteiro, baseado em um livro de Elsa Lewin, guarda surpresas para o final. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

Câmera Escura

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Trem noturno para Lisboa

Raimond Gregorius (Jeremy Irons, de "Margin Call") é um professor suíço que salva a vida de uma garota em Berna, quando ela ia pular de uma ponte. A moça desaparece e deixa para trás um livro intitulado "Ourives das Palavras", de um médico português chamado Amadeu de Prado. Dentro do livro, Gregorius encontra uma passagem de trem para Lisboa e, em um impulso, vai para a estação e toma o trem; começa, assim, sua aventura em busca da moça que lhe deixou o livro e sobre o autor.

"Trem noturno para Lisboa" é dirigido por Bille August, que já havia trabalhado com Jeremy Irons em "A Casa dos Espíritos", de 1993. O roteiro (adaptado por Greg Latter e Ulrich Herrmann) é baseado no best seller do suíço Pascal Mercier (lançado em 2004). O filme tem um ritmo lento e segue a estrutura clássica de um thriller de mistério, ainda que Gregorius não saiba exatamente o que está procurando. Desconheço o tom do livro, mas o filme se aproxima perigosamente a cair em um daqueles textos de auto-ajuda, cheios de boas intenções mas um tanto superficiais. Gregorius fica fascinado com as palavras de Amadeu de Prado e, logo ao chegar em Lisboa, entra em contato com as pessoas que o conheceram em vida, como a misteriosa irmã Adriana (Charlotte Rampling) ou amigos como João Eça (Tom Courtenay), da época em que Prado havia lutado contra a ditadura de António de Oliveira Salazar. O filme, bem editado por Hansjörg Weißbrich, costura longos flashbacks dos anos 1970, durante a ditadura, com sequências no presente, seguindo Jeremy Irons enquanto ele tenta reconstruir a vida de Amadeu de Prado (Jack Huston).


Há uma licença poética que pode confundir um pouco o espectador, que não vai conseguir entender em que língua os personagens estão falando. Todos, independente da nacionalidade, conversam entre si em inglês fluente. O fato de Gregorius ser interpretado por Jeremy Irons, com seu inglês britânico impecável, nos faz pensar que ele é um professor inglês que trabalha na Suíça. A coisa fica mais complicada em Portugal, já que os portugueses também se comunicam em inglês, mesmo nos flashbacks dos anos 1970, o que não faz nenhum sentido. Isso só se explica pelo fato do filme ser uma co-produção internacional, feita para o mercado mundial. O elenco, além de Jeremy Irons, tem grandes nomes como Mélanie Laurent (Truque de Mestre), August Diehl, Lena Olin e até uma participação de Christopher Lee (com 91 anos). A direção de fotografia de Filip Zumbrunn valoriza a luz de Lisboa e, nesta época de blockbusters de super heróis sendo lançados semanalmente, não deixa de ser um alívio ver um filme habitado por pessoas de carne e osso, andando por ruas de verdade, e não em cenários criados em computação gráfica. Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.