Filmes sobre figuras históricas costumam tratar de líderes religiosos ou políticos, pacifistas ou estrelas de rock. Filmes sobre empresários já foram feitos antes (como "Tucker, Um Homem e seu Sonho", 1988, de Francis Ford Coppola), mas poucos apresentaram seu protagonista de forma tão religiosa quanto "Jobs". Em se tratando da marca "Apple", no entanto, não é de se estranhar, já que a fábrica de computadores, desde seu início, não tinha apenas "clientes", mas "seguidores", e Steve Jobs era seu profeta. Jobs morreu de câncer em 2011, deixando um legado impressionante de inovações tecnológicas como o iPod, o iPad, o iPhone e tantos outros que mudaram o modo como as pessoas interagem com os aparelhos eletrônicos.
Diante disso, é uma pena que a primeira cinebiografia a respeito do californiano seja tão "quadrada" e sem brilho. A melhor surpresa é a interpretação de Ashton Kutcher, que praticamente carrega o filme sozinho, com um bom trabalho ao emular Jobs. Financiado de forma independente, o filme foi feito às pressas para chegar às telas antes da produção da Sony Pictures que será baseada na biografia oficial de Steve Jobs, escrita por Walter Issacson. O filme da Sony, além de ter um orçamento muito superior, está sendo escrito pelo premiado roteirista Aaron Sorkin, que ganhou o Oscar em 2011 por "A Rede Social". Foram os diálogos rápidos e inteligentes de Sorkin que tornaram o filme sobre o Facebook interessante. Enquanto isso, em "Jobs" (dirigido por Joshua Michael Stern e escrito por Matt Whiteley), o roteiro se arrasta e o espectador assiste a longas sequências em que "nerds" em uma garagem ficam soldando circuitos em uma placa de computador, ou executivos tramam vinganças ao redor de mesas de reunião.
É verdade que não só o lado bom de Jobs é mostrado. De temperamento difícil, o futuro criador do iPod é visto humilhando técnicos que não se comprometiam 100% com sua "visão" da empresa. No lado pessoal, ele negou a paternidade de uma menina que teria tido com a namorada. Era frequente também que ele tomasse para si o crédito por criações e inovações que não eram dele; o primeiro computador Apple, por exemplo, teria sido criado por Steve Wosniak (Josh Gad), seu amigo e sócio. A Apple Computer começou na garagem dos pais de Jobs e, nos primeiros meses, era tocada por Jobs, Wosniak e um grupo de técnicos que trabalhavam praticamente de graça. Quando a empresa cresceu, no entanto, Jobs se recusou a ceder ações para os antigos companheiros. Há uma cena em que Jobs é visto provando do próprio veneno, quando Bill Gates teria copiado o sistema operacional do Macintosh e criado o Windows, passando a perna na Apple. A rivalidade duraria décadas, mas o filme apenas mostra um telefonema de Jobs ameaçando processar Gates. Steve Jobs foi afastado da própria empresa em 1985 e criou a Next. (O filme não mostra como, em um golpe de "sorte", ele comprou de George Lucas uma pequena produtora de animações chamada Pixar, em 1986, e a transformou em uma empresa bilionária). Com altos e baixos, "Jobs" se apoia muito na interpretação de Kutcher para se manter em pé, e apesar de ser um bom trabalho do ator, não é o suficiente.
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