"Elysim" está longe de ser perfeito. É cheio de "lições de moral", tem problemas de roteiro e quase todos os (bons) atores estão exagerados. Mas, assim como fez no excepcional "Distrito 9", o diretor/roteirista Neill Blomkamp é ousado e tem uma marca pessoal distinta, que é a extrapolação de problemas sociais reais da Terra dos dias de hoje para um cenário futurista. "Elysium" se passa no século 22. As cidades da Terra se parecem com as paisagens vistas na animação "Wall-e", com milhões de pessoas vivendo em cidades esgotadas e superpopulosas. A camada mais rica da população resolveu se separar ainda mais das classes baixas deixando o planeta e se mudando para uma gigantesca estação espacial chamada "Elysium", um paraíso artificial que parece um grande condomínio particular, com mansões brancas instaladas em meio a grandes gramados e lagos artificiais. Além da riqueza, da segurança e do ar puro, os ricos têm ainda outro privilégio: todas as mansões são equipadas com máquinas milagrosas que podem curar todas as doenças.
Enquanto isso, na superfície pobre e poluída do planeta, centenas de pessoas tentam chegar à "Elysium" em naves clandestinas comandadas por um rebelde chamado Spider (o brasileiro Wagner Moura, um tanto exagerado). A cena em que as naves rebeldes tentam chegar à estação espacial lembram imagens das barcas clandestinas cubanas, cheias de refugiados, tentando chegar à Flórida, ou mexicanos tentando atravessar para a Califórnia. Jodie Foster interpreta uma cruel chefe de segurança de "Elysium" que não vê problemas em ordenar que tais naves sejam destruídas, matando todos a bordo, para "proteger" a estação espacial dos "invasores". Matt Damon, cheio de tatuagens e de cabeça raspada, é Max, um operário que tenta levar uma vida honesta depois de uma infância e adolescência cometendo pequenos crimes. Ele recebe uma dose letal de radiação em um acidente de trabalho e só uma viagem a "Elysium" salvaria sua vida, e ele se vê obrigado a prestar um serviço a Spider, o único capaz de levá-lo até lá.
O roteiro é tão cheio de ideias que Blomkamp tem problemas em lidar com todas elas. A mais problemática envolve um programa de computador que seria a "chave" para "Elysium". Wagner Moura bate o olho em algumas linhas de código passando na tela e já consegue entender todo o "enredo". Há também um romance mal resolvido entre o personagem de Matt Damon e uma enfermeira chamada Frey (interpretada por outra brasileira, Alice Braga), que, ainda por cima, tem uma filha com leucemia que também precisa ser curada em "Elysium". E assim por diante. Com tudo isso, sente-se falta de um olhar mais detalhado sobre a população de "Elysium" em si. Será que eles só passam a vida à beira da piscina, passeando pelos gramados e ouvindo música clássica? Ninguém lá questiona a situação em que vive, e como ela pode ser frágil? Há problemas com drogas ou medicamentos? Com tédio?
Quase todo o filme é passado aqui na Terra mesmo, a não ser na parte final, em um embate barulhento entre Matt Damon e um mercenário chamado Kruger (Sharlto Copley, também de "Distrito 9"). Para um diretor ousado como Blomkamp, o final de "Elysium" é "bonitinho" demais (e Wagner Moura arrancou uma gargalhada de todo o cinema com uma frase). Bom filme, apesar de não ter o mesmo impacto de "Distrito 9".