"Filme argentino com Ricardo Darín" já se tornou praticamente um chavão. O competente ator de 56 anos é figura quase obrigatória no cinema de nossos vizinhos (ou, talvez, só venham para cá os filmes em que ele interpreta?). O caso é que só neste site, nos últimos anos, resenhamos "Elefante Branco", "O Segredo dos seus Olhos", "Abutres", "Um Conto Chinês", "Amorosa Soledad", "A Dançarina e o Ladrão" e "O Filho da Noiva".
Darín está de volta com o mesmo visual e praticamente o mesmo personagem que fez em "O Segredo dos seus Olhos", ou seja, um advogado que se envolve com a investigação de um crime brutal cometido contra uma moça. Ele é Roberto Bermudez, um professor de Direito Criminal que testemunha, junto com sua sala de pós-graduação, a cena de um crime: em pleno estacionamento da imponente Faculdade de Direito de Buenos Aires é encontrado o corpo de Valeria Di Natale, uma garçonete que foi violentada, estrangulada e ainda esfaqueada. Um detalhe chama a atenção de Roberto; um pingente em forma de borboleta lhe faz lembrar de uma conversa que teve com um de seus alunos, Gonzalo (Alberto Ammann), que lhe dissera que "todos os dias uma borboleta é morta sem que seja feita justiça". Em uma daquelas montagens que lembram o seriado americano "CSI", Roberto imagina a cena do assassinato e fica convencido de que o criminoso é Gonzalo. O aluno é filho de um conhecido de Roberto e há uma suspeita de que, no passado, Roberto teria tido um caso com a mãe do rapaz.
O filme, dirigido por Hernán Goldfrid, é tecnicamente competente (o trabalho sonoro é muito bem feito) e se baseia nas fórmulas clássicas do suspense. O roteiro de Patricio Vega pretende deixar uma dúvida na platéia: Roberto tem razão em suas suspeitas contra Gonzalo ou é tudo fruto da sua imaginação? Estaria Roberto agindo contra o aluno simplesmente pela arrogância do rapaz? Ou por estar obcecado com a garota morta? Suas ações se tornam ainda mais duvidosas quando ele se envolve com a irmã da vítima, Laura (Calu Rivero), a quem ele quer, ao mesmo tempo, proteger e usar para pegar o assassino. Há várias referências ao mestre do gênero, Alfred Hitchcock, como a cena em que Darín dá o pingente da morta para a irmã usar (em um plano tirado diretamente de "Um Corpo que Cai", de 1958). O último plano, então, é praticamente uma refilmagem do final de "Cidadão Kane", clássico de Orson Welles, de 1941. O final é problemático. É interessante a ideia de deixar o espectador na dúvida sobre o que aconteceu ou não, mas um thriller de suspense pede, mesmo que clichê, uma resolução, e fica a impressão que os realizadores não quiseram se comprometer. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.