Um clássico russo de Leon Tolstoy, figurinos requintados, recriação de época, muito drama; como fazer para tornar esta história algo mais do que "mais um" filme histórico? A solução encontrada pelo diretor Joe Wright foi bem engenhosa e visualmente interessante. Ele e Keira Knightley já trabalharam juntos antes em adaptações de clássicos da literatura como "Orgulho e Preconceito" (2005) e "Desejo e Reparação" (2007), mas nenhum destes filmes tinha o requinte empregado na produção do drama de Tolstoy.
Grande parte do filme se passa dentro de um teatro, e o espectador pode ver as mudanças de cenários, iluminação, etc, enquanto os personagens vivem alheios às amarras da sociedade. A metáfora é óbvia, mas não menos interessante: a alta sociedade russa do final do século 19 segue regras de comportamento como atores interpretam um roteiro pré-estabelecido. A bela Anna Karenina (Keira Knightley) sai de São Petesburgo, onde é bem casada e tem um filho de 8 anos, e vai à Moscou tentar convencer a cunhada Dolly (Kelly Macdonald) a perdoar as infidelidades do marido, o Sr. Oblonsky (Matthew Macfadyen, muito divertido). Logo ao chegar a Moscou, no entanto, Anna vai ter a própria fidelidade testada ao conhecer o jovem Conde Vronsky (Aaron Taylor-Johnson, de "Selvagens"); há uma sequência muito bem feita passada em um baile em que Vronsky, que estava prometido para a princesa Kitty (Alicia Vikander, de "O Amante da Rainha"), seduz Karenina e os dois dançam a noite toda, diante dos olhos escandalizados da elite russa. O romance é arrebatador e tão inevitável quanto "errado". Anna é casada com um político importante (Jude Law, bastante sóbrio) que lhe é 20 anos mais velho e avesso a escândalos. Quando Anna confessa o romance ao marido, ele tenta negociar; ela deve terminar tudo, ou então vai perder o lugar na sociedade, cair em desgraça e, ainda por cima, perder o filho. Claro que ela promete, e não cumpre, pagando um preço caro por suas decisões.
Há ainda um outro personagem, Konstantin Levin (Domhnall Gleeson), que representa o lado mais "social" do texto de Tolstoy. Ele é apaixonado pela princesa Kitty mas não consegue viver dentro das regras de Moscou. Ele é dono de uma pequena fazenda no interior, onde arregaça as mangas e trabalha junto dos próprios empregados na colheita. As cenas protagonizadas por Konstantin, seguindo a metáfora visual criada pelo filme, são passadas fora do "teatro", em cenários reais nas paisagens da Rússia. Também as cenas de romance entre Anna e Vronsky são mostradas ao ar livre, como se seu romance estivesse longe do alcance das regras da sociedade. O roteiro foi adaptado pelo conceituado dramaturgo Tom Stoppard (que ganhou o Oscar por "Shakespeare Apaixonado") e "Anna Karenina" tem ótima direção de fotografia (de Seamus McGarvey) e o figurino de Jacqueline Durran foi premiado no último Oscar. Visto no Topázio Cinemas, Campinas.
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