Roteiro e direção lutam o tempo todo em "A Busca", estréia na direção do publicitário Luciano Moura, da produtora "O2 Filmes" (de Fernando Meirelles). O roteiro, escrito por Elena Soarez e pelo próprio Moura, tem tendências fantasiosas e até poéticas, dando pouca importância à verossimilhança. Já a direção de Moura, que já dirigiu mais de 500 comerciais, é tecnicamente competente e com um estilo realista. Têm-se, assim, uma fantasia filmada como se fosse um thriller, e o resultado é confuso.
Wagner Moura (carregando o filme nas costas) é Theo, um médico que é bem sucedido mas é a cara do desespero. É completamente apaixonado pela mulher, a também médica Branca (Mariana Lima), que quer o divórcio. "O que eu tenho que fazer?", implora ele, que pagou pela casa, está construindo uma piscina e pretende enviar o filho de 15 anos, Pedro, à Nova Zelândia em um intercâmbio. Sofrimento de classe média alta, com boas interpretações de Moura e Mariana Lima. No meio do fogo serrado, o garoto Pedro (Brás Antunes) mente aos pais dizendo que vai viajar com um amigo no final de semana mas, na verdade, ele decide fugir de casa. É então que o conflito entre roteiro poético e filme de gênero começa; Pedro teria falsificado o RG para adotar um cavalo de um abrigo de animais. O espaço geográfico nunca fica claro (o que é um problema em um road movie), mas presume-se que Pedro partiu das imediações de São Paulo, montado em um cavalo, e o pai (dirigindo um carro da marca que patrocina o filme) vai em seu encalço. De forma bem pouco realista, Theo encontra várias pessoas que, sim, viram passar por ali um rapaz montado em um cavalo negro, e o pobre homem passa o diabo em sua busca pelo filho. Há cenas interessantes, como a passada em uma barca que teria transportado Pedro (e o cavalo) através de um rio. Outras são bastante improváveis, como da vez em que Wagner Moura chega a uma vila com várias casinhas, antenas parabólicas no telhado, e ninguém ali tem um telefone, seja fixo ou celular, a não ser um senhor cardíaco que se recusa a emprestar o aparelho. Ou quando Theo chega a uma rave com centenas de jovens e logo a primeira garota com quem ele conversa, surpresa, não só viu Pedro como sabe onde ele passou a noite.
Tudo isto mostra a inexperiência do diretor, mas as boas interpretações e um final tocante, com participação de Lima Duarte, até compensam os vários tropeços. Há um bom trabalho de som e na qualidade técnica em geral. Só é necessária boa vontade do espectador em abraçar o roteiro capenga. Visto no Kinoplex, em Campinas.
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