domingo, 31 de março de 2013

Oz: Mágico e Poderoso

Na falta de ideias originais, Hollywood tem apostado não só em continuações, mas em "prequels", aquelas histórias que contam as origens de algum personagem ou mundo conhecido. Desta vez a Disney resolveu contar a história anterior aos eventos do clássico "O Mágico de Oz", musical da MGM lançado em 1939 com Judy Garland e dirigido por Victor Fleming. O filme clássico inovava em um aspecto técnico interessante: as cenas passadas no "mundo real", em Kansas, eram em preto e branco, enquanto que as passadas no mundo mágico de Oz eram coloridas. O truque é repetido nesta nova versão, dirigida por Sam Raimi (da série "Homem Aranha") que também imita todos os maneirismos do diretor Tim Burton, a ponto de usar o compositor Danny Elfman, que fez a trilha de praticamente todos os filmes de Burton (com exceção de "Ed Wood", de 1994). A única coisa que falta para "Oz: Mágico e Poderoso" ser um filme de Tim Burton é Johnny Depp no papel principal.

Oscar (James Franco, canastrão), também conhecido como "Oz", é um ilusionista barato de um circo itinerante em Kansas, EUA, em 1905. Como mágico ele é passável, mas sua principal habilidade é com as mulheres; ele coleciona uma série de corações partidos pelas cidades por onde se apresenta. Até que, em uma tarde de tempestade, ele tem que fugir de um amante enfurecido e embarca em um balão de ar que é tragado pelo mesmo tufão que, em 1939, levará Dorothy para o mundo de Oz. Sam Raimi filma os primeiros quinze minutos em preto e branco e na proporção "quadrada" do cinema antigo. A chegada em Oz transforma a tela em largo "cinemascope" e em um colorido tão impressionante que se consegue imaginar como a chegada da cor ao cinema, há mais ou menos 70 anos, encantou as plateias. A chegada de Oz no mundo que leva seu nome causa comoção aos habitantes. O mágico é recebido pela bela bruxa Theodora (Mila Kunis, de "Ted"), que se apaixona por ele e o leva à Cidade das Esmeraldas. Lá ele conhece a irmã de Theodora, Evanora (Rachel Weizs, de "360"); ela lhe promete o tesouro da cidade e a posição de "Rei", desde que ele destrua a bruxa Glinda (Michelle Williams, de "Sete Dias com Marilyn"). Os efeitos especiais são muito bons e dois personagens "virtuais" chamam a atenção: o macaco Finley e a Boneca de Porcelana. Ela teve as pernas quebradas durante o ataque dos "macacos alados" da Bruxa Má (cuja identidade permanece em segredo por grande parte do filme). Oz, um charlatão, consegue consertar as pernas da boneca usando cola, e sua reputação como mágico cresce a cada truque. Os cenários são apropriadamente exagerados e o efeito 3D é usado da forma de sempre, isto é, várias coisas são jogadas em direção da platéia para ressaltar as três dimensões.

O filme tem um charme "retrô" interessante e belas imagens, mas peca pela longa duração (130 minutos). As interpretações também ficam aquém do esperado (os personagens virtuais interpretam melhor que os de carne e osso em grande parte do filme). A trama ganharia muito se tivesse uns 30 minutos a menos. O final, quando Oz usa de todos os seus truques "baratos" para  tentar derrotar as bruxas más, lembra um pouco as cenas de Meliès em "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese. "Oz: Mágico e Poderoso" dificilmente vai entrar para a história do cinema como um clássico, mas tem seus bons momentos.


quinta-feira, 28 de março de 2013

Os Croods

O roteiro de "Os Croods" não tem nada de novo. É reciclado de várias tramas já vistas na série "A Era do Gelo", que havia emprestado ideias de "Em Busca do Vale Encantado" (1988), e assim por diante. Ou seja, é uma história passada na pré-história, adaptada e acelerada para os tempos modernos. É o velho mito de querer chegar na "terra prometida", onde tudo vai dar certo e viverão felizes para sempre (ou até a próxima continuação da franquia).

As crianças vão gostar muito, como é o esperado, mas o que torna o filme uma experiência compensadora para os adultos na platéia é o visual espetacular criado pela DreamWorks Animation, que vem desenvolvendo um trabalho de texturas, cores, luzes e sombra extremamente realistas, como em "Como treinar seu dragão" (que tinha um roteiro muito superior), co-dirigido pelo mesmo Chris Sanders de "Os Croods". Os personagens não se parecem com desenhos tridimensionais, mas com seres de carne e osso (mesmo que caricaturizados) que impressionam. Há grande cuidado na criação de texturas, cabelos e pele dos personagens, além de uma câmera que investe em pontos de vista pouco usados em animação.

Questões técnicas à parte, a trama é bastante convencional. Os Croods são uma família como outra qualquer, pai, mãe, avó e filhos, que são os últimos sobreviventes de uma região pré-histórica. Isso se deve aos esforços paranoicos de Grug, o pai que ensina aos filhos que "ter medo é bom", "tudo que é novo é ruim" e, principalmente, "nunca saiam da caverna". Estas regras podem ter mantido a família viva, mas está matando de tédio a filha mais velha, Eep. Ela é a típica adolescente moderna presa no corpo de uma garota pré-histórica, e faz de tudo para desobedecer as regras do pai. Uma noite ela é atraída para fora da caverna por uma luz diferente e conhece Guy, um rapaz que descobriu o segredo do fogo e que conta histórias estranhas sobre o fim do mundo, que estaria próximo. De fato, mudanças geológicas (aceleradas milhares de vezes por questões dramáticas) estão acontecendo no planeta. Um terremoto destrói a caverna dos Croods, obrigando-os a sair para a luz do Sol e seguir Guy em uma jornada em direção do "amanhã", como ele chama. Nada muito novo mas, como disse anteriormente, mostrado com imagens tão sensacionais que o filme nunca se torna entediante. Pode ser um pouco frenético demais em alguns momentos e as piadas "modernas" nem sempre funcionam, mas é uma boa aventura. Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Guerra dos Mundos, o livro e as diferentes versões

Capa da edição original. fonte: Wikipedia

"The War of the Worlds" (Guerra dos Mundos) é um livro de ficção científica escrito por H.G. Wells em 1898 na Inglaterra. Já havia visto duas adaptações cinematográficas, a ótima de 1953 dirigida por Byron Haskins e produzida por George Pal e a versão que Steven Spielberg fez em 2005 com Tom Cruise, mas nunca havia lido o livro, até agora.  Foi uma experiência muito interessante por dois motivos; um pelo conteúdo, outro pelo meio pelo qual li; foi meu primeiro ebook, lido metade em um e-reader para Windows Phone chamado "Freda" e a segunda metade li do em um "Kobo Glo", o e-reader canadense que a Livraria Cultura trouxe ao Brasil.

O livro é muito interessante, ainda mais quando se pensa na data em que foi escrito. Leva um tempo, com todas aquelas imagens de filmes de ficção-científica americanos dos anos 50 na cabeça, com seus soldados, jipes, tanques de guerra etc, para embarcar no planeta Terra do final do século 19. Quando Wells descreve soldados chegando, temos que imaginá-los vindo a cavalo, pilotando charretes ou puxando grandes canhões. Da mesma forma, a cidade de Londres, descrita por Wells como tendo 6 milhões de habitantes, deve ser imaginada no século 19, sem carros nas ruas etc. A diferença de tecnologia entre os invasores Marcianos e o povo da Terra fica ainda maior quando imaginamos as armas e artefatos humanos há mais de 100 anos. 

"Guerra dos Mundos", filme de 1953
A trama é narrada em primeira pessoa por um escritor que nunca é nomeado e que, por coincidência, sorte ou vontade do autor, é testemunha da maior parte dos eventos desde a descoberta de "jatos de gás" saindo da superfície do planeta Marte (que se encontra na aproximação máxima da Terra) até a queda de "cilindros" nos arredores de Londres, Inglaterra, de onde saem os Marcianos. A descrição das criaturas, a meu ver, não é muito boa, ficando difícil visualizá-los. Wells os descreve como "grandes cabeças, com olhos enormes, uma boca em forma de V e tentáculos". Estas criaturas estranhas se tornam poderosas ao construírem "Tripods" gigantes que andam pela paisagem inglesa destruindo tudo com "raios de calor" e uma fumaça tóxica que mata quem a respira. A versão de Spielberg, apesar de passada na época contemporânea, também equipa os Marcianos com estes veículos, enquanto que na versão dos anos 50 eles usavam naves flutuantes, uma espécie de discos voadores.

A narração de Wells é bem interessante e o leitor vai reconhecer vários dos "clichês" de filmes de invasão por extraterrestres feitos em Hollywood no próximo século. A lentidão e tranquilidade com que se narra a queda do primeiro cilindro, a curiosidade causada nas pessoas, que vão se aproximando; o cilindro que se abre lentamente, revelando as criaturas que saem de dentro até que o cenário aparentemente pacífico se transforma em um campo de batalha. Os Marcianos de Wells usam um "Raio de Calor" para explodir ou queimar imediatamente pessoas, casas, peças de artilharia, etc. Quando um dos marcianos é derrubado por um canhão, eles passam a usar uma "Fumaça Negra" que, como um líquido, vai se espalhando pelas ruas das cidades e matando a todos por envenenamento. Vale lembrar novamente que estamos em uma época pré Primeira Guerra Mundial, mas algumas das descrições de Londres destruída pelos Marcianos lembram cenas que aconteceriam só meio século depois, quando os nazistas bombardearam a cidade na II Guerra Mundial.

A versão de 2005, de Steven Spielberg
O livro é dividido em duas partes, "A chegada dos Marcianos" e "A Terra sob os Marcianos". Há muito poucos diálogos entre os personagens, sendo que quase toda a trama é narrada pelo escritor segundo os fatos que ele "testemunhou" ou escutou de outras pessoas, como um irmão que mora em Londres. O narrador (e as multidões inglesas) estão em constante movimento, fugindo dos invasores, mas há dois momentos de pausa; um quando o narrador, na companhia de um pároco, fica 15 dias preso em uma casa cercada de Marcianos, quando ele testemunha, horrorizado, que eles se alimentam de sangue humano. A outra pausa é quando ele encontra um soldado que tem planos mirabolantes de comandar a "resistência" dos seres humanos contra os invasores. O militar tem um longo monólogo em que descreve a apatia humana e sobre como muitos seriam "cultivados" pelos Marcianos e usados como comida ou mesmo como bichos de estimação. Wells traça paralelos interessantes entre a superioridade marciana e nós e a relação de poder que existe na Terra entre humanos e animais. Há também uma relação entre a alegoria de Wells e temas como Darwinismo e Colonialismo.

Por fim (SPOILERS?), os Marcianos, aparentemente indestrutíveis, são vítimas das bactérias terrestres, para as quais não são imunes, e acabam morrendo depois de terem destruído grande parte de Londres e, aparentemente, vários outros locais do globo. Vale também lembrar a versão para rádio produzida por ninguém menos que Orson Welles (que tem o nome parecido com o do autor) em 1938, já um garoto prodígio do Teatro e que em breve dirigiria "Cidadão Kane" (1941). A versão de Welles, narrada como se fosse um jornal ao vivo, causou pânico em diversas regiões dos Estados Unidos, pois o público acreditou se tratar de uma invasão real.

terça-feira, 26 de março de 2013

Linha de ação

"Linha de ação" não é um filme fácil de julgar. Certamente não é nenhuma obra-prima e está longe de ser original, mas o elenco é sólido e cheio de estrelas como Russell Crowe ("Intrigas de Estado"), Mark Wahlberg ("O Vencedor") e Catherine Zeta-Jones. O roteiro, para um filme com um título brasileiro genérico como este (na linha de "Conduta de risco", o que isso significa?) é bem mais complicado do que precisaria ser, pecando por excesso. Wahlberg é Billy Taggart, um "tira" de Nova York que mata um suposto estuprador a sangue frio e é levado a julgamento. Uma manobra política o livra da condenação, mas ele fica devendo um favor ao prefeito Nick Hostetler (um Russell Crowe bem exagerado), que a cobra sete anos depois: em plena campanha política, Hostetler contrata Taggart para seguir a primeira dama, que supostamente está tendo um caso.

A tocaia à mulher do prefeito, interpretada por Catherina Zeta-Jones, é feita com todas aquelas cenas que você já viu em dezenas de outros filmes, como um carro seguindo outro pelo trânsito de Nova York, o detetive tirando fotos da "vítima" de longe, etc, mas estas cenas, apesar de previsíveis, são suficientemente bem feitas para manter a atenção. O roteiro até dá ao personagem de Wahlberg uma fiel assistente, como naqueles filmes clássicos de detetives, interpretada pela israelense Alona Tal. Os dois descobrem que a primeira dama, de fato, está vendo outro homem, que é ninguém menos que o coordenador da campanha do adversário de Crowe à prefeitura de Nova York.

O filme é dirigido por Allen Hughes (que fez o interessante "O Livro de Eli" em 2010), e consegue manter a trama interessante até a metade do filme. É no roteiro de Brian Tucker que "Linha de ação" derrapa, principalmente do meio para o final. O que poderia ser um bom thriller policial tenta se tornar um filme político, com subtramas confusas sobre exploração no mercado imobiliário, um assassinato mal explicado e  há até a sugestão de temas como inclusão sexual. Sem falar em outra subtrama desnecessária que envolve a namorada de Wahlberg, uma atriz iniciante chamada Natalie (a caliente Natalie Martinez) que está lançando seu primeiro filme independente, o que provoca uma cena de ciúmes no personagem de Wahlberg.

Apesar de tudo isto e dos vários furos no roteiro, "Linha de Ação" até certo ponto funciona, sendo melhor indicado para uma sessão em casa, no DVD.

terça-feira, 19 de março de 2013

A Busca

Roteiro e direção lutam o tempo todo em "A Busca", estréia na direção do publicitário Luciano Moura, da produtora "O2 Filmes" (de Fernando Meirelles). O roteiro, escrito por Elena Soarez e pelo próprio Moura, tem tendências fantasiosas e até poéticas, dando pouca importância à verossimilhança. Já a direção de Moura, que já dirigiu mais de 500 comerciais, é tecnicamente competente e com um estilo realista. Têm-se, assim, uma fantasia filmada como se fosse um thriller, e o resultado é confuso.

Wagner Moura (carregando o filme nas costas) é Theo, um médico que é bem sucedido mas é a cara do desespero. É completamente apaixonado pela mulher, a também médica Branca (Mariana Lima), que quer o divórcio. "O que eu tenho que fazer?", implora ele, que pagou pela casa, está construindo uma piscina e pretende enviar o filho de 15 anos, Pedro, à Nova Zelândia em um intercâmbio. Sofrimento de classe média alta, com boas interpretações de Moura e Mariana Lima. No meio do fogo serrado, o garoto Pedro (Brás Antunes) mente aos pais dizendo que vai viajar com um amigo no final de semana mas, na verdade, ele decide fugir de casa. É então que o conflito entre roteiro poético e filme de gênero começa; Pedro teria falsificado o RG para adotar um cavalo de um abrigo de animais. O espaço geográfico nunca fica claro (o que é um problema em um road movie), mas presume-se que Pedro partiu das imediações de São Paulo, montado em um cavalo, e o pai (dirigindo um carro da marca que patrocina o filme) vai em seu encalço. De forma bem pouco realista, Theo encontra várias pessoas que, sim, viram passar por ali um rapaz montado em um cavalo negro, e o pobre homem passa o diabo em sua busca pelo filho. Há cenas interessantes, como a passada em uma barca que teria transportado Pedro (e o cavalo) através de um rio. Outras são bastante improváveis, como da vez em que Wagner Moura chega a uma vila com várias casinhas, antenas parabólicas no telhado, e ninguém ali tem um telefone, seja fixo ou celular, a não ser um senhor cardíaco que se recusa a emprestar o aparelho. Ou quando Theo chega a uma rave com centenas de jovens e logo a primeira garota com quem ele conversa, surpresa, não só viu Pedro como sabe onde ele passou a noite.

Tudo isto mostra a inexperiência do diretor, mas as boas interpretações e um final tocante, com participação de Lima Duarte, até compensam os vários tropeços. Há um bom trabalho de som e na qualidade técnica em geral. Só é necessária boa vontade do espectador em abraçar o roteiro capenga. Visto no Kinoplex, em Campinas.

sexta-feira, 15 de março de 2013

O Quarteto

"O Quarteto" marca a estréia do ator Dustin Hoffman na direção. Aos 75 anos, Hoffman escolheu temas próximos a sua realidade: a arte e a velhice. O filme tem muitas semelhanças com o recente "O Exótico Hotel Marigold", inclusive dividindo uma atriz em comum, Maggie Smith, e trata do tema da terceira idade da mesma forma fantasiosa e edificante. Ou seja, a anos luz do soco no estômago que é "Amor", de Michael Haneke.

A trama se passa na Inglaterra, em uma casa de repouso exclusiva para músicos aposentados. O som de andadores, bengalas, tosse e juntas doloridas se mistura à música constante de quartetos de câmara, solistas, tenores e todo tipo de músicos praticando diariamente. Um diretor tirano (Michael Gambon, ótimo) está ensaiando vários números para um show de gala anual que a casa de repouso apresenta no aniversário de Giuseppe Verdi. A renda do show vai para a manutenção da casa, que corre o risco de fechar. A chegada da diva Jean Horton (Maggie Smith) causa rebuliço; ela havia sido casada com Reggie Paget (Tom Courtenay), que ainda guarda a mágoa de ter sido traído por ela décadas atrás. Já Wilf (Billy Connolly) e Cissy (Pauline Colins) vêm na chegada de Horton a chance deles reunirem o quarteto que fez muito sucesso apresentando o "Rigoletto" de Verdi.

O filme tem boas intenções e é gostoso de se ver, mas não passa de uma série de clichês envolvendo personagens da terceira idade e artistas em decadência. Há o personagem "safado" que ainda só pensa em sexo; há as inevitáveis piadas envolvendo a perda da memória ou outras enfermidades relacionadas à idade; há várias sequências musicais mostrando os diversos grupos se preparando para a apresentação final, e assim por diante. Tudo filmado sob o sol dourado da primavera, como se a Inglaterra fosse sempre um país ensolarado e agradável. Os créditos finais mostram como vários dos figurantes e personagens secundários são músicos e artistas de verdade, em uma montagem de fotos que os mostra no passado e agora. Divertido e inofensivo. Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.