Associar o adjetivo "estranho" ao diretor e roteirista americano Wes Anderson é uma redundância. "Genial" pode também ser usado, com mais parcimônia. O trabalho de Anderson sempre carrega uma preocupação com o ligeiramente bizarro, pela direção de arte precisa e por grandes atores em papéis normalmente não associados a eles (quem imaginaria George Clooney dublando uma raposa na animação "O Fantástico Sr. Raposo"?).
"Moonrise Kingdom" traz todas estas características em um filme que, na falta de uma melhor classificação, está sendo chamado de "infantil". Ele se passa em uma ilha habitada por poucas pessoas. O ano é 1965 e longos planos iniciais mostram crianças brincando antes da era da informática, escutando discos de música clássica, jogando pingue pongue, lendo ou acampando. É de um campo de escoteiros que foge o herói da trama, um órfão chamado Sam (Jared Gilman) que parte em direção ao norte da ilha com uma canoa e grande quantidade de equipamento. Ele vai se encontrar com Suzy (Kara Hayward), uma menina igualmente precoce e inteligente que é filha dos advogados interpretados por Bill Murray e Frances MacDormand. Tanto Sam quanto Susy são infelizes, têm problemas em casa e querem escapar para um lugar melhor. Eles se apaixonaram à primeira vista durante uma apresentação de teatro infantil sobre a Arca de Noé, e haviam trocado cartas desde então, combinando a fuga. O roteiro (de Anderson e Roman Coppola, indicados ao Oscar) nunca os trata como crianças, pelo contrário, são os adultos que agem como tal. Bruce Willis é o Sr. Sharp, um policial solitário que tem um caso com a mãe de Susy. Edward Norton é o pobre líder do "Acampamento Ivanhoé" de escoteiros, de onde Sam foge; após se reunir com sua "tropa" e traçar os planos para tentar encontrar o garoto fujão, um garoto lhe pergunta se ele precisa de um "Phd" para fazer aquele trabalho. Há outros coadjuvantes famosos em pequenas pontas, como Harvey Keitel, Jason Schwartzman e Tilda Swinton (a "vilã" que quer enviar Sam para fazer um "tratamento" com choques elétricos).
Outro ponto notável é que não há nada de infantil no romance entre Sam e Susy. Os dois seguem uma antiga trilha indígena e vão parar em uma praia deserta onde montam acampamento e, em cenas que devem ter dado dor de cabeça aos censores americanos, começam a se aproximar de modo bastante físico (embora não vulgar). Anderson constrói planos extremamente precisos, auxiliado pela bela fotografia de Robert D. Yeoman e cenários de Adam Stockhausen. A duração enxuta (94 minutos) é bem-vinda, e "Moonrise Kingdom" nunca deixa de ser interessante.
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