Walter Mitty (Ben Stiller) é um homem analógico. Logo na primeira cena nós o vemos enfrentando problemas para postar em um site de relacionamentos enquanto, atrás dele, podemos ver uma estante cheia de discos de vinil e um aparelho de som antigo. Ele trabalha para a revista "Life" no setor que lida com os poucos negativos de fotos que ainda são enviados por fotógrafos mundo afora. Walter e sua vida analógica enfrentam um grande desafio quando a "Life" é comprada e é anunciada a extinção da revista em papel. A "Life" vai se transformar em "Life Online", que é uma metáfora bastante direta para o que está acontecendo hoje não só com Walter, mas com todo mundo.
"A Vida de Walter Mitty" é estrelado e também dirigido por Stiller; a produção seria comandada por Gore Verbinski, mas Stiller assumiu o posto quando Verbinski foi dirigir o fracasso "O Cavaleiro Solitário". Ben Stiller é bom comediante e é um ator muito melhor do que o insuportável Adan Sandler, por exemplo, passando um ar de "gente comum" que cai bem em um personagem como Walter Mitty (por outro lado, Steve Carell teria sido perfeito). Mitty tem um herói, um fotógrafo aventureiro chamado Sean (ninguém menos que Sean Penn, de "Milk"), que lhe manda um rolo de filme com instruções específicas para usar a foto número 25 como capa da última edição impressa de "Life". O problema é que Walter não consegue encontrar o negativo e resolve, pela primeira vez em anos, sair da zona de conforto, partindo para uma aventura em busca de Sean e da misteriosa foto. Há algo de "Forest Gump" em Walter Mitty quando ele parte, geralmente correndo, mundo afora por países como a Groenlândia, Islândia e Afeganistão. Não foram usadas câmeras digitais nas filmagens, mas sim a película (analógica) Kodak. O que não impede, porém, que o filme tenha algumas sequências cheias de efeitos especiais (digitais) que mostram as fantasias de Walter. Algumas destas cenas são interessantes, mas há outras exageradamente longas e desnecessárias, como uma luta entre Mitty e seu "inimigo" Ted Hendricks (Adam Scott), o executivo responsável pela transição da "Life" (um personagem que lembra o de George Clooney em "Amor sem Escalas").
As cenas com as aventuras reais de Mitty funcionam muito melhor, filmadas em locações reais na Islândia (que também foi usada para se passar pela Groenlândia e o Himalaia). Há também um romance com altos e baixos entre Mitty e uma colega de trabalho, Cheryll (Kristen Wigg, de "Meu Malvado Favorito 2"). Incomoda um pouco o uso descarado de merchandising; além da revista "Life", claro, há uma propaganda constante do site de relacionamentos e-Harmony. A veterana Shirley MacLaine faz uma participação como a mãe super-protetora de Mitty. A "mensagem" do filme não é nenhuma novidade, mas um convite à aventura nunca é demais. "A Vida Secreta de Walter Mitty" não é nenhuma obra-prima, mas diverte.
PS: e quem percebeu a sutil referência a "Matrix"?
Câmera Escura
PS: e quem percebeu a sutil referência a "Matrix"?
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