sábado, 1 de setembro de 2012

Intocáveis

Philippe (François Cluzet) é um ricaço que tem uma casa enorme, vários empregados e carros esporte estacionados na garagem. O problema é que ele depende dos outros para quase tudo; ele perdeu os movimentos do pescoço para baixo em um acidente de paraglider anos atrás e agora está procurando um novo cuidador. Na fila de entrevistados há um grande número de candidatos, mas nenhum lhe agrada. Até que entra sala adentro Driss (Omar Sy), um senegalês de dois metros de altura, falante e sem intenção de pegar a vaga. Ele só quer que assinem um documento para poder entrar com o seguro desemprego. Philippe, cansado de ser olhado com dó e compaixão por todos, resolve desafiar Driss. "Você é capaz de aceitar a responsabilidade? Aposto como terá desistido em duas semanas".

"Intocáveis" é uma comédia dramática muito bem feita que mostra a amizade que nasce destas pessoas tão diferentes. Driss, que mora em um apartamento pequeno com vários irmãos mais novos e tem passagem pela polícia, é um homem das ruas. Malandro, sem educação formal, é fã das músicas dançantes do grupo "Earth, Wind and Fire". Philippe é um aristocrata francês, especialista em Chopin e Berlioz, que é capaz de passar horas olhando uma pintura moderna antes de comprá-la por 41 mil euros. Driss não é bobo e percebe que tirou a sorte grande, o que não o impede de, a princípio, se recusar a fazer algumas das tarefas a ele delegadas, como vestir Philippe com meias especiais ou lhe fazer a higiene pessoal. O filme funciona em grande parte pelo acerto da escolha do elenco. Cluzet só pode atuar do pescoço para cima, mas consegue passar frases inteiras apenas com um olhar. Omar Sy é um vulcão constantemente em erupção, e seu bom humor contagia a todos rapidamente. Há cenas bem escritas pelos roteiristas e diretores Olivier Nakache e Eric Toledano. A relação entre Philippe e Driss é uma troca de amizade e de conhecimento. Driss tem contato com um mundo que lhe é extraterreno, tanto materialmente ("Eu tenho uma banheira!" diz ele a uma empregada da casa) quanto intelectualmente. Ele leva Philippe a galerias de arte e concertos de música erudita, nem sempre com os resultados esperados, e sua honestidade causa momentos hilariantes. Já Philippe aprende com Driss a escutar música popular, a fumar um baseado de vez em quando e, principalmente, a ter coragem para enfrentar algumas situações, como finalmente telefonar para uma mulher com quem vinha se correspondendo há seis meses.

"Intocáveis" fez grande sucesso na França e chega ao Brasil em um circuito que não se limita aos cinemas de "arte", o que é bom sinal. O roteiro, apesar de um pouco longo e não fugir do final feliz, é uma bem sucedida mistura de momentos cômicos com cenas dramáticas, e é ótima pedida.

Câmera Escura


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