É de se surpreender que atores do calibre de Juliette Binoche ("Cópia Fiel", "A Liberdade é Azul") e Mathieu Kassovitz ("Munique", "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain") tenham aceitado fazer um filme tão formulaico como este. Binoche é Marie, uma mulher que acorda em um apartamento enorme, em Paris, e não sabe quem é. A última coisa de que se lembra é de ter 25 anos e de ter conhecido Paul (Kassovitz), um desenhista de histórias em quadrinhos. Agora ela se olha no espelho e descobre que está com 41 anos e é casada com Paul, com quem tem um filho pequeno. Os três vivem em um apartamento luxuoso e ela é uma empresária de sucesso, muito rica.
Só que as coisas não vão bem entre eles. Paul está lançando um livro de histórias em quadrinhos que é um sucesso, mas ele está o tempo todo com um rosto triste e não entende a súbita mudança no comportamento da esposa. Clichê atrás de clichê, o filme mostra como Marie descobre que havia se tornado uma "bruxa" odiada por todos e que, agora, tem a chance de se redimir e salvar o casamento. Você já viu este filme antes. O roteiro da diretora Sylvie Testud (de "Piaf, um hino ao amor") e Claire Lemaréchal é um pastiche de filmes americanos como "Quero ser grande" ("Big", Penny Marshall, 1988), "Uma Segunda Chance" ("Regarding Henry", Mike Nichols, 1991) e vários filmes adolescentes em que uma pessoa se descobre muito mais velha de uma hora para outra, como "De repente 30", com Jennifer Garner. Chega a ser triste ver a grande Juliette Binoche, de 48 anos, agindo como uma criança perdida em Paris, correndo para lá e para cá enquanto tenta convencer o mundo (e os espectadores) de que ela ainda é a mesma empresária barra pesada que todos conheciam. Matthieu Kassovitz faz o que pode em um papel unidimensional de marido abandonado pela esposa. Em "Uma segunda chance", de Nichols, ao menos havia um motivo para que o personagem de Harrison Ford, um advogado ranzinza, perdesse a memória de repente (ele leva um tiro durante um assalto). E mesmo quando Tom Hanks acorda adulto em "Quero ser grande" há uma explicação razoável, dentro do gênero fantasia ao qual o filme pertence. "A vida de outra mulher" nem se dá ao trabalho de criar um motivo para a súbita amnésia de Marie. Ou de criar um final para o filme que, de repente, termina.
Com exceção de uma ou outra cena interessante (como algumas em que Binoche contracena com o filho), o roteiro é preguiçoso e redundante. Uma pena. Binoche e Kassovitz mereciam coisa melhor. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.
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