O diretor Takashi Miike se inspira no mestre Akira Kurosawa (1910-1998) ao fazer "13 Assassinos", baseado no clássico "Os Sete Samurais", que Kurosawa lançou em 1954 (depois transformado no ótimo western "Sete Homens e um Destino", em 1960). No Japão feudal, em 1844, o sistema de governo dos shoguns está em decadência. O meio irmão do atual shogun, Lorde Naritsugu (Goro Inagaki) é um homem cruel que se diverte humilhando os servos e matando a esmo homens, mulheres e crianças. Sir Doi (Mikijiro Hira), um dos conselheiros, decide ir contra o cruel Lorde contactando um experiente samurai para matá-lo, o mestre Shinzaemon (Koji Yakusho, ótimo). Assim como em "Os Sete Samurais", Shinzaemon começa a recrutar samurais para a missão praticamente suicida de assassinar o tirano.
Samurais eram servos treinados para seguir o código do bushi-dô, o código do guerreiro, e dar a vida pelo seu senhor feudal. Para um samurai, pior do que a morte era a vergonha, e a saída "honrosa" para grande parte dos dilemas morais era a morte pelas próprias mãos, no ritual do seppuku, que os homens realizavam cortando as próprias entranhas (as mulheres o pescoço). Em "13 Assassinos", esta lealdade cega é colocada em dúvida por Shinzaemon, para verdadeiro horror do samurai Hanbei (Masachika Ikimura); é visível que ele não tem grande estima por seu mestre, Lorde Naritsugu, mas nunca passa por sua cabeça desrespeitar o código de obediência. Miike filma com grande elegância e, no início, tem um estilo quase teatral, passado em salas iluminadas por velas e filmado em lentos movimentos laterais de câmera; conforme o filme avança, o filme se abre para cenas ao ar livre e ensolaradas. Leva um tempo para se acostumar ao início ritualizado e cheio de personagens. A cultura japonesa é focada na perfeição, e a perfeição só é alcançada na morte; assim, o filme tem uma beleza mórbida conforme os poucos samurais, armados com suas espadas, lanças e arcos de uma outra era, se preparam para enfrentar um exército de centenas de homens. Antes da parte final, passada inteiramente em uma luta sangrenta, há momentos pitorescos e até engraçados, a maior parte deles protagonizada por Koyata (Yusuke Iseya), um caçador que os samurais encontram na floresta e que, mais tarde, se revela mais do que um homem comum.
A batalha final, também reminiscente de "Os Sete Samurais", se dá em uma pequena vila que é preparada pelos samurais para enfrentar o exército de Lorde Naritsugu. São apenas 13 homens contra centenas de soldados mas, apesar do claro exagero, o filme mostra como os samurais são mais do que simples guerreiros. O banho de sangue é grande e há espaço para uma discussão sobre a futilidade da guerra e a validade do poder. A cena de batalha se estende por mais do que o necessário, e Lorde Naritsugu poderia ser um vilão menos caricato. O filme, porém, é extremamente bem produzido, com fotografia caprichada e direção de arte correta. O ator Tsuyoshi Ihara, que protagoniza o filme brasileiro "Corações Sujos", faz parte do elenco. É um épico à moda antiga. Visto no Topázio Cinemas.
Câmera Escura
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