sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Políssia

"Meu pai me tocou no bumbum", diz a menina à policial. Um pai conta que dá banho na filha e, sim, a lava nas partes íntimas. Uma mãe diz que o filho dorme melhor quando ela o masturba à noite. Estas declarações, e outras mais chocantes, são ouvidas durante "Políssia" (forma propositalmente errada de grafar a palavra "Polícia"), filme escrito, dirigido e interpretado por Maïwenn Le Besco (que assina apenas "Maïwenn"). O filme mostra, quase como em um documentário, o cotidiano de uma equipe da Brigada de Proteção aos Menores de Paris. É trabalho destes policiais (além de psicólogos e assistentes sociais) investigar casos como os vistos acima e tentar descobrir quais deles são evidência de abuso sexual, pedofilia, estupro ou violência relacionada a menores. Não é tarefa fácil, e mais difícil ainda é manter uma vida pessoal diante do estresse relacionado à profissão.

Maïwenn dirige um elenco numeroso com competência, embora por vezes fique difícil entender os relacionamentos entre os personagens. Há Íris (Marina Foïs), uma mulher fria que esconde dos colegas que sobre de bulimia e está sempre interferindo na vida da colega Nadine (Karine Viard), que está se separando do marido. Baloo (Frédérick Pierrot) é o chefe de equipe que não consegue enfrentar os burocratas e, por isso, causa atrito com os subordinados. Fred (o rapper Joeystarr) vive com os nervos à flor da pele e não é capaz de manter distância emocional dos casos. Há uma cena impressionante em que um garoto é separado da mãe,o menino se põe a chorar desesperadamente e Fred tenta acalmá-lo. A dor do menino é tão convincente que é de se imaginar como a cena foi filmada. A própria Maïwenn interpreta uma fotógrafa chamada Melissa, e a presença da diretora no filme é questionável. Metade da trama ela passa muda, de cabelos presos e óculos, parecendo completamente perdida enquanto fotografa os policiais em ação. É possível que a personagem seja assim de propósito, mas o problema é que a presença dela é totalmente desnecessária. Ela então passa por uma transformação rápida, e pouco convincente, quando Fred se interessa por ela. De cabelos soltos, olhos claros e beleza de modelo, a personagem Melissa ganha importância na trama, mas ainda dá a impressão de habitar um filme diferente dos outros personagens.

O roteiro também trata dos problemas raciais e de imigração que são constantes na França. Há uma cena em que um suspeito desrespeita uma policial muçulmana, que tira o Alcorão do armário e lhe passa um sermão sobre o que é ser um bom muçulmano. As relações de abuso de poder entre os gêneros, seja de homem contra mulher ou, nos dias de hoje, mulher contra homem, também são mostradas. O filme soa  realista e tem diálogos e cenas bastante fortes (como um aborto feito por uma garota que havia sido estuprada). Só que se alonga demais, com duas horas e quinze minutos de duração. "Políssia" faz parte do "Festival Varilux de Cinema Francês 2012", que está em cartaz em 33 cidades do país e traz 17 filmes inéditos. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

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