Crianças gostam de escutar a mesma história várias vezes. Assistem ao mesmo desenho animado repetidamente, pedem para os pais lerem a mesma história antes de dormir todas as noites. Hollywood, acusada há tempos de infantilizar as plateias do mundo, já se aproveitava desta característica humana fazendo continuações desnecessárias de filmes de sucesso, arrecadando bilheterias astronômicas apostando no que é certo, ao invés de arriscar em novas histórias.
Eis que surge um "novo" Homem-Aranha, lançado apenas cinco anos desde que o "velho" Homem-Aranha voava pelos prédios de Nova York em "Homem-Aranha 3", em 2007; há meros dez anos, Tobey Maguire interpretava Peter Parker, o jovem fotógrafo que era picado por uma aranha geneticamente modificada e se transformava em um super-herói. O filme de Sam Raimi foi um grande sucesso e teve uma segunda parte, ainda muito boa, seguida por um terceiro filme longo e decepcionante.
Seja para mudar a má impressão deixada pelo terceiro filme, ou para começar outra franquia de sucesso, os estúdios da Marvel fazem um reboot no personagem e começam tudo de novo, agora com Andrew Garfield (de "A Rede Social") no papel de Parker. Tirando todas as considerações de marketing de lado e o fato de que "O Espetacular Homem-Aranha" é um filme desnecessário, a produção dirigida por Marc Webb é competente e divertida. Garfield faz um Peter Parker menos "chorão" que Maguire, e o roteiro segue por outro caminho na história do personagem. Antes mesmo do trauma de ver o Tio Ben (Martin Sheen) ser morto por um bandido, Peter Parker começa o filme como uma criança que é abandonada por pai e mãe. O pai era um geneticista que, junto com um colega misterioso chamado Curt Connors (Rhys Ifans), estava desenvolvendo um soro capaz de transferir as características regenerativas de certos animais para os seres humanos. É uma das aranhas criadas pela Oscorp, empresa onde o pai de Parker trabalhava, que pica Peter Parker e o transforma no Homem-Aranha. Connors é um cientista que não tem o braço direito e sonha com a possibilidade de ser "curado". Claro que algo dá errado e, após uma overdose do soro, ele se transforma em um lagarto gigante que aterroriza Nova York. O roteiro, bem humorado, faz as piadas apropriadas relacionando o fato aos filmes japoneses de Godzilla.
Kirsten Dusnt é substituída por Emma Stone ("Amor a Toda Prova") e seus grandes olhos azuis no papel de Gwen Stacy, o novo interesse romântico de Parker. O Homem-Aranha sempre foi o super-herói mais adolescente do cartel da Marvel, e grande parte do filme se passa nos corredores do ginásio onde Parker e Gwen estudam. Há boas cenas românticas entre os dois e o roteiro surpreende pela rapidez com que Peter Parker revela seu segredo a algumas pessoas. Denis Leary, ótimo ator coadjuvante, está bem como um íntegro capitão de polícia que não gosta nada quando o Aranha começa a perseguir bandidos pela cidade. Mas "O Espetacular Homem-Aranha", apesar de bom, não deixa de ser mais do mesmo; continuações são esperadas. Divertido, mas desnecessário.
Um comentário:
Mesmo já adulto, eu lembro que o primeiro Homem Aranha de Raimi empolgava e estava na hora certa dos novos recursos de CGI em 2001, eu e milhões ficaram encantados com o Homem Aranha voando por NY, na famosa sequência final. Nesse sentido, esse novo Homem Aranha não tem nada de amazing ou espetacular, tudo soa além de já visto, sem brilho, sem surpresas. De fato, não é um filme ruim, mas também é um grande nada, que não anima pra ver sua continuidade nas próximas aventuras da nova franquia. Onde vai parar Hollywood?
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