Hunter S. Thompson (1937-2005) foi um escritor e jornalista que criou de um tipo de jornalismo que ficou conhecido como "Gonzo"; ele pode ser definido como a imersão completa do autor no assunto que está investigando, a ponto de se tornar personagem da própria história. Thompson era alcoólatra, usou vários tipo de drogas e fazia questão de não esconder isso em seus textos. Escreveu livros-reportagem famosos como "Hell´s Angels", sobre a conhecida gangue de motociclistas americanos, e "Medo e delírio em Las Vegas", transformado em filme em 1998 por Terry Gillian. Este último tem no elenco Johnny Depp, que se tornou amigo pessoal de Thompson até o suicídio do escritor, em 2005, com um tiro de espingarda.
Johnny Depp volta a interpretar um ater-ego de Thompson em "Diário de um jornalista bêbado", também produzido por Depp, baseado em um livro que o jornalista escreveu nos anos 1970 e que havia ficado inédito por anos. Com tanta dedicação de Depp ao projeto, é uma pena que o filme fique aquém do esperado. Dirigido por Bruce Robinson, a produção é bem cuidada e o elenco é competente, mas o filme não empolga. Depp é Paul Kemp, um jovem jornalista que, depois de ter problemas no início de carreira nos EUA, arruma um emprego em um pequeno jornal de Porto Rico; o editor (interpretado por Richard Jenkins) coloca Kemp para escrever o horóscopo. Logo, porém, Kemp atrai a atenção de um ambicioso empresário chamado Sanderson (Aaron Eckhart) que pretende construir um empreendimento imobiliário em uma das ilhas. Não fica muito claro porque Sanderson acredita que um jornalista iniciante como Paul Kemp que, até o momento, só havia demonstrado talento para ficar bêbado, seria tão necessário para seu projeto. O caso é que Sanderson livra Kemp de enrascadas, lhe dá carro, dinheiro e acesso à própria namorada. Johnny Depp é engraçado e bom ator, mas o personagem não convence. Ao mesmo tempo que age como um irresponsável e se deixe levar por Sanderson, Kemp tenta vender ao jornal matérias de denúncia sobre os problemas do arquipélago e faz comentários políticos contra o então candidato ao governo americano, Richard Nixon.
O roteiro, episódico, cria situações interessantes, mas não as leva adiante. Mesmo a lendária condição de bêbado e drogado de Thompson está curiosamente reduzida. Há apenas uma cena (curta e perdida no filme) em que ele usa um alucinógeno e começa a ver coisas. O esperado romance com a namorada de Sanderson parece acontecer mais por alguma "obrigação" do roteiro do que por uma consequência lógica da trama e, novamente, é rapidamente abandonado para dar lugar a outra trama absurda; os personagens tentam levantar dinheiro, através de uma rinha de galos, para publicar uma última edição do jornal. Assim, o filme é uma mistura irregular de um idealismo que soa falso com situações cômicas e tramas subaproveitadas. Visto no Topázio Campinas.
Um comentário:
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