Nada como uma boa conversa entre pessoas civilizadas para resolver um problema, certo? É o que pensam dois casais, Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz) e Penelope e Michael Longstreet (Jodie Foster e John C. Reilly). O filho dos Cowan, Zackary, 11 anos, agrediu o filho dos Longstreet, Ethan (mesma idade), com um pedaço de pau em uma discussão no parque, arrancando-lhe dois dentes. A mãe de Ethan, Penelope (Foster), se considera uma pessoa de princípios; ao invés de simplesmente processar a família Cowan, ela os convida para um papo amigável. E é assim que os dois casais iniciam uma conversa que começa gentil e sensata mas, aos poucos, se transforma em uma guerra física e psicológica.
"Deus da Carnificina" é dirigido por Roman Polanski (79 anos), que pegou a peça de Yasmina Reza (vencedora do prêmio "Tony"), juntou quatro ótimos atores e os fez ensaiar diariamente, como no teatro, antes de filmar. Como Polanski está exilado dos Estados Unidos desde que fugiu de uma condenação de estupro nos anos 70, o filme é ambientado em Nova York mas foi produzido na França. O ótimo cenário, que recria um apartamento novaiorquino nos mínimos detalhes, foi projetado pelo veterano Dean Tavoularis, que trabalhou em vários filmes de Francis Coppola, como a trilogia "O Poderoso Chefão" e "Apocalypse Now", entre outros. Polanski consegue o feito de, apesar da grande quantidade de diálogos, fugir da sensação de "teatro filmado" com uma ótima direção de atores e trabalho de câmera. Interessante também ver a passagem de tempo no modo como a luz ambiente (recriada em estúdio) vai diminuindo com o avançar da tarde.
O filme começa com os dois casais redigindo uma declaração em que, civilizadamente, descrevem o que aconteceu entre os filhos. Penelope é uma aspirante a escritora que está planejando um livro sobre o sofrimento dos povos na África. O marido Michael (Reilly), educado e conciliador, é vendedor de encanamento. Já a família Cowan aparenta ser mais abastada. Nancy (Winslet) é corretora de imóveis e Alan (Waltz) é advogado de uma empresa farmacêutica. Cada vez que o casal Cowan está para deixar o apartamento dos Longstreet, algum detalhe faz com que voltem para debater um pouco mais. Aos poucos a aparente civilidade vai dando lugar aos verdadeiros sentimentos de cada um e os ânimos ficam aquecidos. Para piorar, o celular de Alan toca constantemente e ele passa minutos sem fim tentando resolver uma crise na empresa farmacêuta para a qual trabalha. Não demora muito para que o problema dos filhos se transforme em uma discussão entre os pais, cada um querendo defender seu lado na história. Dos quatro atores, apenas John C. Reilly não venceu ainda um Oscar; Christoph Waltz, revelado em "Bastardos Inglórios", está ótimo no papel do advogado cínico e profissional. "Deus da Carnificina" faz rir pela exposição do caráter humano, que se revela hipócrita. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.
Câmera Escura
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