quarta-feira, 27 de junho de 2012

Cantando na Chuva (60 anos), Lawrence da Arábia (50 anos)

O ano de 2012, além de marcar, para alguns, o fim do mundo, é também o aniversário de vários filmes. O Câmera Escura presta uma homenagem a alguns deles. Nesta primeira parte, um musical dos anos 50 e um épico dos anos 60.


Gene Kelly na clássica chuva
Cantando na Chuva (Singing in the Rain, 1952) - 60 ANOS

O filme de Stanley Donen e Gene Kelly é uma declaração de amor ao cinema. Kelly, que parecia ter chegado ao topo no ano anterior, quando coreografou e dançou Gershwin em "Sinfonia de Paris", dirigido por Vincente Minnelli, cria em "Cantando na Chuva" seu melhor número, em que dança e canta a música título debaixo de uma chuva torrencial pelas ruas da velha Hollywood (recriada nos estúdios da MGM, claro).

O filme se passa durante o período de transição do cinema mudo para o sonoro (assim como no recente "O Artista", vencedor do Oscar do ano passado). Don Lockwood (Kelly) é um astro que faz par com a insuportável Lina Lamont (Jean Hagen), uma loira platinada que acredita nas revistas de fofocas, que dizem que Lockwood está apaixonado por ela. Na verdade, o personagem de Kelly está enamorado de Kathy Selden (Debbie Reynolds), uma dançarina que foi a primeira que não caiu de amores por ele.

Com a chegada dos filmes sonoros, Hollywood é obrigada a se adaptar e a dupla Lockwood e Lamont precisa aprender a falar e a cantar. Como a voz de Lina é péssima, acabam contratando Kathy para dublar a voz dela. O filme chega a ser um pouco cruel com os astros do cinema mudo, embora o faça com muito humor. Há outras cenas memoráveis, além da música título. Donald O´Connor, que interpreta o amigo de infância de Kelly, Cosmo Brown, está hilariante no número "Make ´Em Laugh", em que dança com um boneco de pano, tromba em portas e até sobe pelas paredes. 


=========================================================
Peter O´Toole e Omar Sharif

Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, 1962) - 50 ANOS

Dirigido por David Lean, "Lawrence da Arábia" foi um dos últimos grandes épicos da velha Hollywood (Lean ainda dirigiria "Doutor Jivago" em 1965) e, em muitos aspectos, é surpreendente. Para começar, é um filme com mais de três horas de duração que não traz nenhum papel feminino. O papel principal foi dado a um estreante no cinema, Peter O´Toole, que, apesar de desconhecido à época, parecia ter nascido para interpretar o temperamental oficial inglês T.E. Lawrence. O roteiro (de Robert Bolt) foi baseado no livro "Os Sete Pilares da Sabedoria", de Lawrence, que descrevia sua  experiência no deserto árabe, quando auxiliou algumas tribos nômades a combater os Turcos, como aliados do Império Britânico. Havia muitas histórias sobre Lawrence, muitas das quais, dizem, não passavam de lendas. David Lean, acertadamente, decidiu filmar não o homem, mas o mito. Lawrence é um homem apaixonado pelo deserto e por seus habitantes, que conhece como poucos a região e, apesar da pele branca, cabelos loiros e olhos azuis, consegue se misturar com o povo local como se tivesse nascido lá.

Tecnicamente, o filme é um assombro. Filmando no deserto, com centenas de figurantes e equipamento pesado, Lean e o diretor de fotografia Freddie Young conseguiram filmar algumas das cenas mais belas já feitas. Omar Sharif aparecendo como um pequeno ponto, no horizonte, e se aproximando lentamente; o beduíno caminhando pelo deserto e o Sol nascendo no momento exato em que ele passa em frente à câmera; o ataque à cidade costeira de Aqaba; um navio no horizonte, que parece navegar por sobre a areia do deserto. Tudo isso regado à trilha sonora de Maurice Jarre, um jovem compositor francês, que também fazia sua estréia no cinema.

O épico, rodado originalmente em 70 mm, rodou o mundo por anos até ser quase dado como perdido.  O restaurador Robert A. Harris, com a ajuda do cineasta Martin Scorsese, fez um trabalho de arqueologia em que, após anos buscando cópias por cinemas e salas mundo afora, lançou uma versão restaurada em 1989, que é a base para os DVD e Blu-Ray de hoje. É uma obra-prima. Steven Spielberg declarou várias vezes que "Lawrence da Arábia" é seu filme preferido, e é possível notar a influência de David Lean em cenas de vários filmes de Spielberg, como "Tubarão", "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", "A Cor Púrpura", "Império do Sol", a série "Indiana Jones" etc.



Nos próximos posts continuaremos com um filme de máfia e dois filmes de ficção-científica.

Câmera Escura

Nenhum comentário: