sábado, 30 de junho de 2012

Para Roma, com amor

O prolífico Woody Allen tem o costume de alternar grandes filmes com outros mais simples, e depois do ótimo "Meia-Noite em Paris" (Oscar de Melhor Roteiro Original) era de se imaginar que "Para Roma, com Amor" fosse um filme "menor" do mestre. Sim e não. Sem dúvida é um roteiro mais solto, mais "brincalhão", sem as ambições e referências artísticas que Allen imprimiu em seu filme anterior. Há, no entanto, idéias boas de sobra na nova comédia do diretor, que escolheu Roma como cenário.

O filme é composto por várias histórias independentes. Woody Allen interpreta um produtor musical aposentado que vai à Roma conhecer o noivo da filha, um advogado comunista chamado Michelangelo (Flavio Parenti). Allen, como sempre, interpreta a si mesmo, paranoico e egocêntrico (e muito engraçado). Ele odeia estar aposentado e quando conhece o pai de Michelangelo, um italiano simples que adora cantar óperas no chuveiro, acha que descobriu o novo Luciano Pavarotti. O problema é que o pobre homem só canta bem quando debaixo d´água, o que gera cenas hilariantes quando Allen, mesmo assim, resolve ir em frente com o sonho de transformar o sogro em um astro.

Outra história é uma crítica irônica ao mundo das celebridades e dos paparazzi, figuras que o genial Fellini explorou em seus filmes. Roberto Benigni é Leopoldo, um homem comum que leva uma vida rotineira com a esposa, dois filhos e um trabalho inexpressivo. Um dia ele acorda e, surpreendentemente, descobre que virou uma celebridade. Dezenas de paparazzi o perseguem pelas ruas e repórteres de televisão lhe fazem perguntas sobre as coisas mais banais, como o que ele comeu no café da manhã ou de que modo costuma fazer a barba. Claro que é uma alegoria. Leopoldo não entende o porquê de ser famoso e, por um tempo, até aproveita a badalação e as mulheres que se atiram a seus pés. Depois de um tempo, porém, não aguenta mais ser seguido por todos os lugares e com a perda da privacidade.

Há também a história dos recém casados Milly (Alessandra Mastronardi) e Antonio (Alessandro Tiberi), que vêm à Roma de uma cidade do interior para que Antonio apresente Milly à família; se tudo correr bem, ele pode conseguir um lugar nos negócios dos tios. Acontece que Milly sai para passear por Roma e se perde. Enquanto isso, Antonio é surpreendido no quarto por uma estonteante prostituta chamada Ana (Penélope Cruz), que obviamente está no lugar errado. Os tios dele o encontram com Ana e acreditam que ela é a esposa dele, e está armada a confusão.


A quarta história envolve uma viagem emocional de John, um arquiteto americano interpretado por Alec Baldwin, que havia morado em Roma quando jovem. Ele vai visitar sua antiga rua e conhece um jovem, também arquiteto, chamado Jack (Jesse Eisenberg). Allen usa um recurso bem interessante em que, aos poucos, o espectador descobre que Baldwin e Eisenberg podem ser versões da mesma pessoa em idades diferentes. Jack mora com Sally (Greta Gerwig) mas se apaixona pela amiga dela, Monica (Ellen Page), uma jovem extremamente manipuladora. Há bons momentos em que Baldwin interage com sua versão mais nova, tentando fazê-lo ver que Monica vai lhe causar muito sofrimento, mas o jovem não consegue evitar que a história se repita.

"Para Roma, com amor" tem bela fotografia de Darius Khondji (o mesmo de "Meia-Noite em Paris"), que mostra a Cidade Eterna em um colorido quente. O roteiro pode não estar na mesma altura de outros trabalhos de Allen, mas é superior a muito do que há nas telas ultimamente. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

Câmera Escura

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Cantando na Chuva (60 anos), Lawrence da Arábia (50 anos)

O ano de 2012, além de marcar, para alguns, o fim do mundo, é também o aniversário de vários filmes. O Câmera Escura presta uma homenagem a alguns deles. Nesta primeira parte, um musical dos anos 50 e um épico dos anos 60.


Gene Kelly na clássica chuva
Cantando na Chuva (Singing in the Rain, 1952) - 60 ANOS

O filme de Stanley Donen e Gene Kelly é uma declaração de amor ao cinema. Kelly, que parecia ter chegado ao topo no ano anterior, quando coreografou e dançou Gershwin em "Sinfonia de Paris", dirigido por Vincente Minnelli, cria em "Cantando na Chuva" seu melhor número, em que dança e canta a música título debaixo de uma chuva torrencial pelas ruas da velha Hollywood (recriada nos estúdios da MGM, claro).

O filme se passa durante o período de transição do cinema mudo para o sonoro (assim como no recente "O Artista", vencedor do Oscar do ano passado). Don Lockwood (Kelly) é um astro que faz par com a insuportável Lina Lamont (Jean Hagen), uma loira platinada que acredita nas revistas de fofocas, que dizem que Lockwood está apaixonado por ela. Na verdade, o personagem de Kelly está enamorado de Kathy Selden (Debbie Reynolds), uma dançarina que foi a primeira que não caiu de amores por ele.

Com a chegada dos filmes sonoros, Hollywood é obrigada a se adaptar e a dupla Lockwood e Lamont precisa aprender a falar e a cantar. Como a voz de Lina é péssima, acabam contratando Kathy para dublar a voz dela. O filme chega a ser um pouco cruel com os astros do cinema mudo, embora o faça com muito humor. Há outras cenas memoráveis, além da música título. Donald O´Connor, que interpreta o amigo de infância de Kelly, Cosmo Brown, está hilariante no número "Make ´Em Laugh", em que dança com um boneco de pano, tromba em portas e até sobe pelas paredes. 


=========================================================
Peter O´Toole e Omar Sharif

Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, 1962) - 50 ANOS

Dirigido por David Lean, "Lawrence da Arábia" foi um dos últimos grandes épicos da velha Hollywood (Lean ainda dirigiria "Doutor Jivago" em 1965) e, em muitos aspectos, é surpreendente. Para começar, é um filme com mais de três horas de duração que não traz nenhum papel feminino. O papel principal foi dado a um estreante no cinema, Peter O´Toole, que, apesar de desconhecido à época, parecia ter nascido para interpretar o temperamental oficial inglês T.E. Lawrence. O roteiro (de Robert Bolt) foi baseado no livro "Os Sete Pilares da Sabedoria", de Lawrence, que descrevia sua  experiência no deserto árabe, quando auxiliou algumas tribos nômades a combater os Turcos, como aliados do Império Britânico. Havia muitas histórias sobre Lawrence, muitas das quais, dizem, não passavam de lendas. David Lean, acertadamente, decidiu filmar não o homem, mas o mito. Lawrence é um homem apaixonado pelo deserto e por seus habitantes, que conhece como poucos a região e, apesar da pele branca, cabelos loiros e olhos azuis, consegue se misturar com o povo local como se tivesse nascido lá.

Tecnicamente, o filme é um assombro. Filmando no deserto, com centenas de figurantes e equipamento pesado, Lean e o diretor de fotografia Freddie Young conseguiram filmar algumas das cenas mais belas já feitas. Omar Sharif aparecendo como um pequeno ponto, no horizonte, e se aproximando lentamente; o beduíno caminhando pelo deserto e o Sol nascendo no momento exato em que ele passa em frente à câmera; o ataque à cidade costeira de Aqaba; um navio no horizonte, que parece navegar por sobre a areia do deserto. Tudo isso regado à trilha sonora de Maurice Jarre, um jovem compositor francês, que também fazia sua estréia no cinema.

O épico, rodado originalmente em 70 mm, rodou o mundo por anos até ser quase dado como perdido.  O restaurador Robert A. Harris, com a ajuda do cineasta Martin Scorsese, fez um trabalho de arqueologia em que, após anos buscando cópias por cinemas e salas mundo afora, lançou uma versão restaurada em 1989, que é a base para os DVD e Blu-Ray de hoje. É uma obra-prima. Steven Spielberg declarou várias vezes que "Lawrence da Arábia" é seu filme preferido, e é possível notar a influência de David Lean em cenas de vários filmes de Spielberg, como "Tubarão", "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", "A Cor Púrpura", "Império do Sol", a série "Indiana Jones" etc.



Nos próximos posts continuaremos com um filme de máfia e dois filmes de ficção-científica.

Câmera Escura

terça-feira, 26 de junho de 2012

Deus da Carnificina

Nada como uma boa conversa entre pessoas civilizadas para resolver um problema, certo? É o que pensam dois casais, Nancy e Alan Cowan (Kate Winslet e Christoph Waltz) e Penelope e Michael Longstreet (Jodie Foster e John C. Reilly). O filho dos Cowan, Zackary, 11 anos, agrediu o filho dos Longstreet, Ethan (mesma idade), com um pedaço de pau em uma discussão no parque, arrancando-lhe dois dentes. A mãe de Ethan, Penelope (Foster), se considera uma pessoa de princípios; ao invés de simplesmente processar a família Cowan, ela os convida para um papo amigável. E é assim que os dois casais iniciam uma conversa que começa gentil e sensata mas, aos poucos, se transforma em uma guerra física e psicológica.

"Deus da Carnificina" é dirigido por Roman Polanski (79 anos), que pegou a peça de Yasmina Reza (vencedora do prêmio "Tony"), juntou quatro ótimos atores e os fez ensaiar diariamente, como no teatro, antes de filmar. Como Polanski está exilado dos Estados Unidos desde que fugiu de uma condenação de estupro nos anos 70, o filme é ambientado em Nova York mas foi produzido na França. O ótimo cenário, que recria um apartamento novaiorquino nos mínimos detalhes, foi projetado pelo veterano Dean Tavoularis, que trabalhou em vários filmes de Francis Coppola, como a trilogia "O Poderoso Chefão" e "Apocalypse Now", entre outros. Polanski consegue o feito de, apesar da grande quantidade de diálogos, fugir da sensação de "teatro filmado" com uma ótima direção de atores e trabalho de câmera. Interessante também ver a passagem de tempo no modo como a luz ambiente (recriada em estúdio) vai diminuindo com o avançar da tarde.

O filme começa com os dois casais redigindo uma declaração em que, civilizadamente, descrevem o que aconteceu entre os filhos. Penelope é uma aspirante a escritora que está planejando um livro sobre o sofrimento dos povos na África. O marido Michael (Reilly), educado e conciliador, é vendedor de encanamento. Já a família Cowan aparenta ser mais abastada. Nancy (Winslet) é corretora de imóveis e Alan (Waltz) é advogado de uma empresa farmacêutica. Cada vez que o casal Cowan está para deixar o apartamento dos Longstreet, algum detalhe faz com que voltem para debater um pouco mais. Aos poucos a aparente civilidade vai dando lugar aos verdadeiros sentimentos de cada um e os ânimos ficam aquecidos. Para piorar, o celular de Alan toca constantemente e ele passa minutos sem fim tentando resolver uma crise na empresa farmacêuta para a qual trabalha. Não demora muito para que o problema dos filhos se transforme em uma discussão entre os pais, cada um querendo defender seu lado na história. Dos quatro atores, apenas John C. Reilly não venceu ainda um Oscar; Christoph Waltz, revelado em "Bastardos Inglórios", está ótimo no papel do advogado cínico e profissional. "Deus da Carnificina" faz rir pela exposição do caráter humano, que se revela hipócrita. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

Câmera Escura

domingo, 24 de junho de 2012

A Delicadeza do Amor

Nathalie (Audrey Tautou, de "Coco antes de Chanel") é casada com um jovem francês que é quase perfeito. Ele é romântico (pede Nathalie em casamento de joelhos, no meio da rua), é bonito, é apaixonado por ela e quer ter filhos. Os dois formam um belo par e, em menos de dez minutos do filme, já estão casados e planejando uma família. É então que o inesperado acontece; ele sofre um acidente, entra em coma e morre.

"A Delicadeza do Amor", que parecia ser uma comédia romântica como outra qualquer, se transforma em um filme que, embora ainda leve e divertido, é inteligente e observador. Nathalie, viúva, investe no trabalho, onde é assediada pelo chefe (Bruno Todeschini), e vê as amigas se casando e tendo filhos. Após três anos em reclusão, um dia, inesperadamente, Nathalie beija um colega de trabalho, o sueco Markus (François Damiens). Ele é estrangeiro, desengonçado, grandalhão e tão "comum" que é quase invisível. O beijo de Nathalie é surpreendente para os dois, que não sabem o que fazer em seguida. Iniciam assim um romance tão inocente quanto complicado. Nem mesmo a melhor amiga de Nathalie consegue entender o porquê de uma mulher como ela ter se interessado por este sueco esquisito, e o próprio Markus tem dificuldade em acreditar no amor dela.

O filme é dirigido pelos irmãos Stephane e David Foenkinos, baseado no livro de David e, assim como diz o título, é extremamente delicado. Tautou (que para sempre vai ter associado "Amélie Poulain" a seu nome) está muito bem, mas Damiens rouba o filme como o atrapalhado Markus. Há uma cena muito engraçada quando ele está andando pelas ruas, logo depois do primeiro beijo de Nathalie, e ele se sente irresistível, atraindo a atenção de todas as mulheres da rua, ao som de "Bang a Gong (Get It On)", da banda T. Rex. O romance entre Nathalie e Markus rapidamente se transforma na fofoca preferida do escritório em que trabalham e a história vai parar nos ouvidos de Charles, o chefe ciumento dela. Mas os clichês são contornados pela sensibilidade do roteiro. O filme mostra como, no mundo competitivo de hoje, ser um sujeito decente, simples e comum como Markus é encarado com desconfiança. Cabe a Nathalie decidir se vai ceder às pressões de todos, que querem vê-la com "um cara melhor", ou vai acreditar no amor sincero de Markus. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

Câmera Escura

sábado, 23 de junho de 2012

Perfil: Luiz Carlos Fidêncio

O Sr. Luiz na biblioteca do cinema
           Todos os dias, pela manhã, Luiz Carlos acorda cedo e sai para sua caminhada pelas ruas do bairro Vila Marieta, em Campinas. Volta para casa, onde mora com a esposa, faz alguns trabalhos domésticos, cuida dos gatos, almoça e, ao meio-dia, vai para o trabalho. Quem passa na frente ao Topázio Cinemas, no Shopping Parque Prado, o vê parado na porta, atendendo aos clientes, chamando-os pelo nome, batendo papo ou sugerindo qual filme assistir.
Luiz Carlos Fidêncio tem 57 anos e nasceu em São Manoel, interior de São Paulo, distante 195 km de Campinas. Formado em contabilidade, trabalhou 20 anos na área bancária, 12 deles no Banco Bradesco, em várias funções. Percorreu diversas agências, ao longo dos anos, por cidades vizinhas como Jaú, Pereiras e Iracemápolis. Hoje é gerente do Topázio Cinemas. Com quatro salas, o cinema se distingue dos outros da cidade por dedicar 50% de seu espaço para os chamados “filmes de arte” (obras européias, asiáticas ou latino-americanas, que não têm o apelo comercial dos filmes feitos em Hollywood). Não são só os filmes que são diferentes; o atendimento do Sr. Luiz faz com que este cinema de shopping tenha aquele mesmo “gostinho” daquelas antigas salas de rua.
            Ele veio para Campinas em 1980, em uma transferência do banco. Tinha 25 anos. Em 2005, após trabalhar para outra instituição bancária, foi dispensado, pois o departamento em que estava foi terceirizado. Viu então um anúncio procurando por um gerente no antigo Cine Jaraguá, no centro de Campinas. A princípio, ele hesitou. “Nunca havia trabalhado com isso”, diz ele. “Eu não entendia nada de filmes de arte. Fui então me informar com frequentadores e pessoas que conheciam o assunto”.
            O cinema tinha duas salas no Shopping Jaraguá, na Avenida Brasil, que pertencia à família Quércia. O ex-prefeito de Campinas e ex-governador de São Paulo planejava derrubar o shopping e construir quatro torres de edifícios no lugar, desalojando o cinema. Uma a uma, as lojas que venciam o contrato eram obrigadas a sair, deixando o lugar com o aspecto de um shopping “fantasma”.  O cinema foi se mantendo, enquanto se procurava por uma alternativa. Maria Conceição, que hoje é atendente geral no Cine Topázio, lembra que foi fazer uma entrevista de emprego nessa época. “Achei que era uma pegadinha”, disse ela. “Era 8 de dezembro, feriado em Campinas, tudo fechado e aquele shopping vazio. Estava imaginando a vergonha que seria contar à minha família que havia sido enganada”. Na verdade, ela estava no lugar certo, e foi então que Conceição conheceu o Sr. Luiz. Descobriu também que tinha muitas coisas em comum com ele, como morar na mesma região, a poucas ruas de distância.
            O Cine Jaraguá, com sua programação segmentada de filmes de arte, conquistou um público fiel. O filme “Elsa e Fred – Um Amor de Paixão”, produção da Espanha e Argentina dirigida por Marcos Carnevale, ficou mais de quatro meses em cartaz, atraindo dez mil espectadores. Mas então, em dezembro de 2008, o cinema teve que finalmente fechar as portas, por causa da extinção do shopping. Centenas de espectadores sentiram-se “órfãos” dos filmes de arte da sala e das dicas do Sr. Luiz.

Renovação


A equipe (três projecionistas, o porteiro William e a encarregada Jackelline, além do gerente) se mudou então para o Shopping Prado, em uma região distante do centro. Com um brilho nos olhos, o Sr. Luiz diz que, mesmo assim, muitos clientes fiéis migraram para o novo cinema. “Alguns demoraram um pouco, quase um ano, mas acabaram vindo também”.
            É no pequeno escritório do cinema que ele dá a entrevista. É raro ele ficar ali; a maior parte do tempo está recepcionando os clientes na entrada do cinema. Uma estante, à direita, está atulhada com material promocional com a programação das salas. Perto da porta, na entrada, outra estante guarda dezenas de cartazes dos filmes já exibidos. Ao fundo, à direita, há um cofre de ferro, velho. Há também uma mesa com dois computadores e um monitor, onde o Sr. Luiz consulta um programa para saber a quantidade de espectadores do dia. É uma segunda-feira, quando o movimento é fraco, mas já passaram por volta de 350 espectadores naquele dia. “De final de semana temos dois mil, dois mil e quinhentos pagantes. Filme de arte dá certo em Campinas porque o público não tem outra opção”, diz o Sr. Luiz. “Tinha gente que ia assistir filmes europeus em São Paulo”.
            Ele lembra que havia uma sala de cinema para umas 300 pessoas em São Manoel, quando era criança. “Eu ia assistir a clássicos como ‘Ben-Hur’, ‘Os Dez Mandamentos’, esse tipo de filme”, afirma. Filho homem mais novo de uma família de sete crianças (quatro homens e três mulheres), o Sr. Luiz confessa que não volta tanto quanto deveria à cidade natal. “Fico agoniado”, diz ele. “A última vez fui passar três dias, mas não aguentei aquele silêncio. A gente se acostuma com a cidade grande, Campinas tem de tudo”.
            Sua paixão é o trabalho. “Adoro lidar com público, sempre gostei.” Casado há 22 anos com Maria das Dores, ele tem um enteado de 35 anos, José Roberto, que é engenheiro químico e que lhe deu um casal de netos, um com três e outro com cinco anos de idade. Acorda todos os dias às 7 horas da manhã para fazer uma caminhada. Depois do almoço, abre o cinema às 12h30 e fica até o fechamento, depois da última sessão, por volta das 23 horas. Na única folga da semana, às terças-feiras, ele gosta de cuidar da casa e dos dois gatos. “Isso quando não aparecem outros; minha mulher ralha comigo porque quero cuidar de todo bicho que aparece”. A esposa, falando nisso, não gosta de cinema. “Ela já veio uma vez, mas não gostou”.
            É muito comum, também, atender frequentadores que ligam direto para o celular dele. “Vários clientes têm meu número”, diz ele. “Eles me perguntam sobre a programação, pedem sugestões de filmes”. De fato, as opiniões dele a respeito dos filmes que exibe são brutalmente honestas. “Quando não gosto do filme, eu informo que não é bom”. Conceição, a atendente, confirma. “Uma coisa que o Sr. Luiz tem de bom é que ele não só conhece a maioria dos clientes, mas o gosto de cada um, e que tipo de filme eles vão gostar”.
            Izabel Villaça, frequentadora do cinema, confirma. Segundo ela, o Sr. Luiz mantém um negócio intimista, algo que praticamente não existe mais. “Em que lugar, nos dias de hoje, você pode telefonar para saber a programação e falar com uma pessoa de verdade?”, pergunta. Todo domingo, o gerente manda um relatório para a matriz, em Indaiatuba, dizendo quais filmes são bons e quais são ruins. “Eu quase sempre acerto”. O filme francês “Minhas Tardes com Margerite”, com Gérard Depardieu, é o recordista de público nessa nova fase no Topázio. “Ficou mais de quatro meses em cartaz”. Mas o filme que mais o marcou foi “O Tempero da Vida”, produção grega de 2003 dirigida por Tassos Boulmetis. “É um filme que mostra a vida, é maravilhoso”.
            Conceição, sorrindo, conta uma anedota sobre o chefe. “Ele gosta de dizer que é poliglota”, brinca. Como a programação de arte do cinema exibe filmes de diversos países, nem sempre é fácil saber a pronúncia correta do título. Conceição diz que o Sr. Luiz faz questão de procurar algum professor para perguntar como se fala. “Aí ele entra na salinha para falar com a gente e diz ‘Em que idioma vocês querem que eu fale hoje?’”.


Cinema e literatura
Literatura
            O Sr. Luiz também é responsável por uma ação cultural rara de se ver em um cinema. Na sala de espera do primeiro andar, onde ficam as duas salas dedicadas aos filmes de arte (as duas do térreo exibem filmes comerciais, que "são bons para fazer caixa"), o espectador encontra estantes cheias de livros. É a biblioteca do Topázio. Tudo começou com alguns exemplares. "Um dia o Sr. Luiz deixou quatro livros na mesinha de centro e eu lhe perguntei o porquê daquilo", diz Conceição, a atendente. Logo no primeiro dia, uma cliente sentou-se para ler um livro e perguntou se podia emprestá-lo. Criou-se assim um sistema em que o público traz livros de casa e os doa ao cinema, ficando à disposição de quem quiser emprestá-los. "Hoje temos em torno de mil livros, além de uns duzentos em estoque", diz o Sr. Luiz, orgulhoso, que se apressa em mostrar o livro que está lendo, "Quem mexeu no meu queijo?", de Spencer Johnson. A direção do cinema, em Indaiatuba, gostou tanto da idéia que foi criado um clube do livro. Quem doar para a biblioteca ganha uma carteirinha que dá direito à meia-entrada no cinema. Para emprestar os livros, no entanto, não há nenhum controle. "Os livros ficam sob a responsabilidade de cada um", diz o Sr. Luiz. "Já temos por volta de 200 pessoas cadastradas e não ficamos vigiando se os livros são devolvidos ou não".
            As estantes estão divididas em livros nacionais e literatura estrangeira. Há de todos os tipos; uma coleção de Jorge Amado, livros infantis, religiosos, de auto-ajuda. Recentemente, o “Cento Social Romília Marília” fez uma doação de trezentos livros para a biblioteca. Conceição retira alguns volumes da estante e os mostra, dizendo "este aqui foi escrito por um frequentador do cinema, o Sr. Roldan-Roldan" ("Os Úberes do Infinito"). Outros escritores da cidade também deixaram livros lá, como "Princípio de uma transformação", de Henri S. Hirigoyen; "Filosofemas: contributos à contemporaneidade", de Expedito Ramalho de Alencar; "Romanceiro de Páris e Helena", de Ivanilde Baracho de Alencar (esposa de Expedito) e "Transparências da Eternidade", de Rubem Alves.
            "Quando a biblioteca começou, o Sr. Luiz ficou ansioso", diz Conceição. "Todos os dias ele vinha perguntar se alguém havia deixado algum livro".  E acrescenta: "Isso aqui é uma família".
            Da “família Topázio” fazem parte 12 pessoas. O mais antigo é o porteiro William, na casa há oito anos, desde o Cine Jaraguá. Do outro cinema também vieram os três projecionistas; Marcos, que trabalha na área desde 1995, diz que o Sr. Luiz nunca interfere no trabalho, a não ser quando acontece algum problema. Há planos para mudar os tradicionais projetores de 35mm para digitais em no máximo dois anos e meio. Jackelline Cruz, a jovem encarregada de 27 anos, diz que ele tem dedicação total ao cinema e é por causa dele que a casa oferece este atendimento diferenciado. “Tem clientes que indicam para um amigo, que indica a outro, e assim por diante”.
            “Tem gente que diz que é como se você estivesse na casa de um amigo e resolvesse ver um filme”, completa Conceição.
            Sobre a longa rotina de trabalhar nos finais de semana, o Sr. Luiz sorri e diz que não liga. “Não tem como escapar disso. Hoje tudo vira vinte e quatro horas por dia.” A esposa já está acostumada. “A gente é de família evangélica. Chega final de semana, ela pega o carro e vai para a igreja. Eu venho ao cinema”.

Câmera Escura

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Flores do Oriente


Christian Bale se afasta do papel na série "Batman" para atuar neste drama de guerra do diretor chinês Zhang Yimou, de "Lanternas Vermelhas" (1991), "Herói" (2002) e "O Clã das Adagas Voadoras" (2004) . "Flores do Oriente" é passado durante a invasão japonesa à cidade de Nanquim, na China, em 1937. O episódio está entre os mais brutais da história, e até hoje os japoneses são acusados pelos estupros e barbaridades cometidos à época.

Durante a investida, um grupo feminino de estudantes se refugia na catedral católica, assim como várias prostitutas da cidade. Bale interpreta um americano que estava em Nanquim na época da invasão e que também se refugia na catedral. Ele trabalha como preparador e maquiador de corpos para uma funerária, e havia sido contratado pela igreja para sepultar o antigo padre da catedral. O filme se passa quase todo nesta igreja e nas ruas em volta, e o roteiro trata principalmente do contraste entre as inocentes garotas do convento e a sofisticação das prostitutas. Bale, no centro, se transforma de um bêbado depravado em um homem de princípios. Quando um grupo de japoneses invade a catedral e tenta estuprar as estudantes, ele os enfrenta usando as roupas do padre, com isso ganhando o respeito tanto das meninas quanto das prostitutas.

O filme é bastante violento, mostrando cenas de soldados matando civis a golpes de baioneta, estupros, assassinatos, tudo com muito sangue. Zhang Yimou, conhecido por grandes proezas visuais (principalmente em "O Clã das Adagas Voadoras"), está mais contido neste filme; há um plano sequência impressionante que mostra os japoneses perseguindo duas prostitutas pelas ruas destruídas de Nanquim mas, de resto, o filme é bem clássico. Só que, conforme o roteiro avança, o dramalhão aumenta consideravelmente.  Os japoneses são mostrados como assassinos sádicos. Mesmo uma cena bastante bonita em que um oficial japonês canta uma canção nostálgica sobre a terra natal, e outra em que ele assiste a uma apresentação das estudantes servem apenas como pretexto para revelar um plano diabólico dos japoneses: eles estariam oferecendo proteção para as garotas apenas temporariamente, aguardando a chegada de uma festa em que, tudo leva a crer, elas seriam estupradas e mortas.

Bale é bom ator, mas sua transformação é muito rápida. Seu personagem passa a impressão de ter sido criado apenas como chamariz de bilheteria. O final é cheio de bons princípios e atitudes heroicas por parte dos chineses, mas o filme (escolhido pela China para tentar uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro)  acaba com um toque de melodrama exagerado, que agrada parte do público. Visto no Topázio Cinemas.

Câmera Escura

sábado, 16 de junho de 2012

Prometheus

O filme começa bem. Um prólogo mostra uma paisagem em planos largos que lembram a grandiosidade de Stanley Kubrick; fica claro que estamos em terreno influenciado por "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (1968). E, assim como no filme de Kubrick, uma descoberta no passado faz uma ligação com seres extraterrestres, e uma nave espacial chamada "Prometheus" é enviada pela corporação Weyland para encontrar, talvez, os arquitetos da vida na Terra.

Tudo é extremamente bem feito pelo competente Ridley Scott, que tem no currículo pelo menos uma obra-prima, "Blade Runner" (1982), e que lançou, em 1979, um filme chamado "Alien - O Oitavo Passageiro", que gerou várias continuações inferiores. "Alien" também bebia na fonte de Stanley Kubrick mas, no fundo, não passava de um "filme de monstros", e é este o principal problema com "Prometheus", que traz a história anterior aos acontecimentos do filme de 1979. Por mais ambicioso que possa ser o roteiro, por melhores que sejam os atores e por mais impressionantes que sejam os efeitos especiais, o espectador sabe que, cedo ou tarde, o filme vai cair no terror "B" que, diga-se de passagem, muita gente foi ao cinema assistir. Pena que Ridley Scott não tenha tido coragem de fugir do óbvio mas, enquanto o filme é sério, ele é extremamente bom. O melhor personagem não é um ser humano, mas um andróide chamado David, interpretado pelo incansável Michael Fassbender (de "Shame"). É ele que mantém a nave funcionando na viagem de ida, enquanto a tripulação humana está hibernando, tempo que ele passa estudando línguas ou, em uma homenagem de Scott ao diretor David Lean, assistindo "Lawrence da Arábia" (1962).  David foi a estrela de um vídeo viral muito interessante lançado na internet meses antes do lançamento do filme, em uma esperta campanha de marketing. (veja aqui o discurso de Peter Weyland, interpretado por Guy Pearce, em outro viral)

A atriz sueca Noomi Rapace (a Lisbeth Salander original da série "Os Homens que não Amavam as Mulheres") é uma cientista chamada Elisabeth Shaw que, com o parceiro Charles Holloway (Logan Marshall-Green), foi quem descobriu que os extraterrestres visitaram a Terra há milênios. Rapace é boa atriz e foi uma boa escolha para substituir a figura memorável de Ripley, personagem que Sigourney Weaver interpretou nos filmes anteriores. Ridley Scott tem um senso estético apurado e o filme é bonito de se ver, com cenários e adereços que parecem reais, e não tirados de um videogame. O design da nave alienígena foi baseada no trabalho do artista H.R. Giger, que tem um visual orgânico e assustador.

E então começa o filme de terror, e é uma pena. Há uma cena tão absurda, que envolve Noomi Rapace passando por uma cirurgia no abdômen, que tira do filme qualquer seriedade ou verossimilhança. Apesar de tudo, "Prometheus" não deixa de ser uma experiência interessante e, ao menos durante a primeira parte, um bom filme de ficção científica. Visto no Kinoplex, em Campinas.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Carlos Reichenbach (1945-2012)

Morreu o cineasta brasileiro Carlos Reichenbach. Diretor de mais de vinte filmes, "Carlão" Reichenbach, como era conhecido, fazia um cinema independente e bastante autoral, conhecido como "Cinema Marginal".

"Anjos do Arrebalde" (1986), "Alma Corsária" (1993), "Dois Córregos" (1999), "Garotas do ABC" (2004) e tantos outros fizeram parte da sua filmografia. O perfil do cineasta no Facebook ainda está ativo, mostrando que hoje Reichenbach completou 67 anos. Ele era um usuário frequente da rede social, falando sobre diversos assuntos e, claro, cinema. Interessante que, no que ele chamava de "socialismo", passava links para baixar os filmes que considerava interessantes. Seu último filme produzido foi "Falsa Loura", de 2007.


Trecho de entrevista de Reichenbach para o programa "Zoom", da TV Cultura, falando sobre "Cinema Marginal"

quarta-feira, 6 de junho de 2012

À Espera de Turistas

Auschwitz. A palavra evoca lembranças da II Guerra Mundial, de massacres, genocídio, câmaras de gás, morte. E, de fato, tudo isso aconteceu lá há aproximadamente 70 anos, em plena Europa. Mas como seria, hoje, o lugar que serviu de última morada a tantos prisioneiros judeus? Quem mora lá? Como se comportam jovens que nasceram muitos anos depois que estas coisas aconteceram? "À Espera de Turistas", de Robert Thalheim, responde a algumas dessas perguntas, mas deixa várias outras no ar.

Sven (Alexander Fehling) é um jovem alemão que, ao invés de servir o exército, preferiu realizar um ano de trabalho voluntário no exterior, terminando como o único voluntário em Auschwitz. Lá ele encontra uma cidade pequena e comum, habitada por jovens que, como em qualquer lugar do mundo, se divertem nas baladas; há também uma boa quantidade de idosos, e Sven é escalado para cuidar de Stanislaw Krzeminski (Ryszard Ronczewski), um sobrevivente do campo de concentração. O velho é ranzinza, mal humorado e não quer o rapaz por perto. Os amigos de Krzreminski brincam com o fato dele, um ex-prisioneiro do campo, ter agora um empregado alemão. Sven faz o que pode para lidar com o velho, e encontra consolo e romance em Ania (Barbara Wysocka), uma jovem guia turística. O fantasma do passado paira constantemente sobre o lugar, mesmo que o campo de concentração tenha se tornado atração turística e, assim como em Paris, nas bancas sejam vendidos cartões postais.

Quando uma indústria química local é comprada por uma empresa alemã, o velho Krzeminski é requisitado para dar palestras aos empregados. Por mais que ele tenha histórias importantes para contar, Sven percebe que o velho está sendo exibido pela empresa como mera curiosidade. Quando o Sr. Krzeminski é chamado para inaugurar um monumento ao holocausto em uma vila próxima, a Relações Públicas da empresa corta bruscamente o discurso dele. Mas não são só os alemães que se sentem desconfortáveis com o velho. O próprio museu não quer mais que ele trabalhe restaurando as antigas malas usadas pelos prisioneiros na época da guerra. Sven, aos poucos, vai mudando de opinião quanto à rabugice do Sr. Krzeminski e quanto aos próprios sentimentos com relação a Auschwitz.

Não é um filme amigável. O roteiro, do próprio diretor, não faz questão de ser empolgante. O personagem do rapaz não tem família, passado ou futuro; é uma incógnita. Isso pode ser visto como uma falha mas, por outro lado, torna sua transformação no final, ainda que tímida, ainda mais importante. A interpretação de Ryszard Ronczewski como o Sr. Krzeminski é muito boa. Um problema técnico atrapalhou a apreciação do filme; a cópia digital estava escura e com problemas evidentes de compressão, como em um vídeo de baixa qualidade. Este detalhe, mais a lentidão do roteiro, contribuíram para que a platéia não gostasse do filme. Mas é um filme interessante, embora frio, realista. Como diz o Sr. Krzeminski em uma cena, quem quer se emocionar com Auschwitz pode ver "A Lista de Schindler". Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

sábado, 2 de junho de 2012

Diário de um jornalista bêbado

Hunter S. Thompson (1937-2005) foi um escritor e jornalista que criou de um tipo de jornalismo que ficou conhecido como "Gonzo"; ele pode ser definido como a imersão completa do autor no assunto que está investigando, a ponto de se tornar personagem da própria história. Thompson era alcoólatra, usou vários tipo de drogas e fazia questão de não esconder isso em seus textos. Escreveu livros-reportagem famosos como "Hell´s Angels", sobre a conhecida gangue de motociclistas americanos, e "Medo e delírio em Las Vegas", transformado em filme em 1998 por Terry Gillian. Este último tem no elenco Johnny Depp, que se tornou amigo pessoal de Thompson até o suicídio do escritor, em 2005, com um tiro de espingarda.

Johnny Depp volta a interpretar um ater-ego de Thompson em "Diário de um jornalista bêbado", também produzido por Depp, baseado em um livro que o jornalista escreveu nos anos 1970 e que havia ficado inédito por anos. Com tanta dedicação de Depp ao projeto, é uma pena que o filme fique aquém do esperado. Dirigido por Bruce Robinson, a produção é bem cuidada e o elenco é competente, mas o filme não empolga. Depp é Paul Kemp, um jovem jornalista que, depois de ter problemas no início de carreira nos EUA, arruma um emprego em um pequeno jornal de Porto Rico; o editor (interpretado por Richard Jenkins) coloca Kemp para escrever o horóscopo. Logo, porém, Kemp atrai a atenção de um ambicioso empresário chamado Sanderson (Aaron Eckhart) que pretende construir um empreendimento imobiliário em uma das ilhas. Não fica muito claro porque Sanderson acredita que um jornalista iniciante como Paul Kemp que, até o momento, só havia demonstrado talento para ficar bêbado, seria tão necessário para seu projeto. O caso é que Sanderson livra Kemp de enrascadas, lhe dá carro, dinheiro e acesso à própria namorada. Johnny Depp é engraçado e bom ator, mas o personagem não convence. Ao mesmo tempo que age como um irresponsável e se deixe levar por Sanderson, Kemp tenta vender ao jornal matérias de denúncia sobre os problemas do arquipélago e faz comentários políticos contra o então candidato ao governo americano, Richard Nixon.

O roteiro, episódico, cria situações interessantes, mas não as leva adiante. Mesmo a lendária condição de bêbado e drogado de Thompson está curiosamente reduzida. Há apenas uma cena (curta e perdida no filme) em que ele usa um alucinógeno e começa a ver coisas. O esperado romance com a namorada de Sanderson parece acontecer mais por alguma "obrigação" do roteiro do que por uma consequência lógica da trama e, novamente, é rapidamente abandonado para dar lugar a outra trama absurda; os personagens tentam levantar dinheiro, através de uma rinha de galos, para publicar uma última edição do jornal. Assim, o filme é uma mistura irregular de um idealismo que soa falso com situações cômicas e tramas subaproveitadas. Visto no Topázio Campinas.