O que aconteceu com Mel Gibson? O ator foi um dos maiores astros dos anos 80, quando fez filmes de ação de boa qualidade como Mad Max (George Miller, 1979), e a série Máquina Mortífera (Richard Donner, 1987), e bons dramas como "O ano em que vivemos em perigo" (Peter Weir, 1982) e "O Motim" (Roger Donaldson, 1984). Nos anos 90, interpretou o "Hamlet" na versão de Franco Zeffirelli e chegou a ganhar um Oscar como melhor diretor pelo épico "Coração Valente" (1995). Também como diretor, ousou com uma versão falada em aramaico no ultraviolento "A Paixão de Cristo" (2004), que levou milhões de católicos ao cinema. Foi então que Gibson soltou algumas declarações à imprensa que foram interpretadas como antissemitas. Também foi acusado de bater na esposa, foi preso por dirigir embriagado e cometeu uma série de delitos e deslizes que causaram o afastamento do seu público e o ostracismo em Hollywood. Seu último filme, o drama "Um Novo Despertar" (dirigido e estrelado por Jodie Foster em 2011) foi um desastre nas bilheterias.
Chegamos então a "Plano de Fuga" ("Get the Gringo"), filme de ação que Gibson atuou, produziu e é co-escritor do roteiro. Impossível assistir ao filme sem fazer uma ligação com a vida pessoal do astro. O filme é cru, gravado com uma fotografia digital suja e passado em um México visto pelos olhos racistas de um americano. Mel Gibson parece dizer ao mundo que não liga para as críticas negativas ou aos rumores que dizem que ele sofre de um transtorno bipolar não tratado. Tudo isso seria irrelevante se o filme fosse bom, o que não é o caso. Ele já começa com uma cena clichê de perseguição em que Gibson e um comparsa estão fugindo de policiais na fronteira com o México. Os bandidos estão usando máscaras de palhaço (outro clichê) e, em uma louca tentativa de escapar, Gibson voa com o carro através do muro de proteção que divide EUA e México, aterrissando nas mãos de um grupo de policiais mexicanos corruptos. Ele então vai parar em uma prisão de Tihuana chamada "El Pueblito", uma mistura de penitenciária com favela, em que os presos dividem espaço com as esposas e filhos, além de dezenas de traficantes comandados pelo chefão Ravi (Daniel Giménez Cacho). A ação do início é substituída por um período enfadonho em que, na falta de uma técnica cinematográfica eficiente, o personagem de Gibson tem que narrar em off tudo o que passa por sua cabeça. Ele é um "gringo" que, com seus olhos azuis e pose arrogante, consegue passar despercebido a ponto de atear fogo no ponto de drogas do presídio para roubar uns trocados.
E há a trama que envolve um garoto (Kevin Hernandez, em boa interpretação) de dez anos que se aproxima de Gibson e forma uma parceria, levando o politicamente incorreto a um novo nível. O garoto bebe, fuma, fala palavrões, é filho de uma prostituta e tem planos de matar Ravi, o chefão, porque seu tipo sanguíneo raro é compatível com o dele. Ravi teria matado o pai do garoto por causa de seu fígado, e estaria mantendo o garoto vivo para o mesmo fim. "Plano de Fuga" poderia ter sido uma comédia "trash" interessante com este roteiro e é uma pena que Gibson a tenha interpretado como se fosse sério. O filme não foi lançado nos cinemas nos Estados Unidos, sendo vendido diretamente ao espectador por um sistema de "video on demand", que ainda está sendo testado, e depois irá direto para Blu-Ray e DVD. Sem dúvida vai encontrar púbico entre os fãs de filmes B de ação e violência, mas a estrela de Mel Gibson, provavelmente, vai continuar em baixa. Visto no Kinoplex Campinas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário