O fictício país de Panem, na América do Norte, é formado pela capital e por 12 distritos. Por conta de uma rebelião causada pelo antigo 13º Distrito, todos os anos acontecem os "Jogos Vorazes", espécie de "reality show" em que os participantes, um casal de cada distrito, devem competir até a morte. Esta é a premissa da mais recente sensação literária adolescente criada pela escritora Suzanne Collins. Seguindo a linha de adaptações cinematográficas como "Harry Potter", "Percy Jackson" e mesmo a série "Crepúsculo", "Jogos Vorazes" tem uma legião de seguidores fanáticos que fazem verdadeira peregrinação ao cinema. Isso significa assistir a uma sessão de cinema escutando gritos de excitação cada vez que um personagem aparece na tela ou alguma frase conhecida é dita. Fica difícil, assim, julgar a obra do ponto de vista puramente cinematográfico.
Não há nada de novo em "Jogos Vorazes". A trama é baseada em um sem número de livros e filmes de ficção científica que pintam um futuro distópico em que uma classe dominante oprime a população pobre. "Jogos" tem traços do "1984" de George Orwell, de "A máquina do tempo", de H.G. Wells, de séries de TV como "Logan´s Run" e de filmes como "O Show de Truman", de Peter Weir. E, claro, o roteiro é baseado nas dezenas de "reality shows" que surgiram nos últimos anos. Há também inspiração do Império Romano e dos duelos travados pelos gladiadores no Coliseu. Os habitantes da capital de Panem têm nomes romanos como César ou Seneca. Esta familiaridade com material reciclado, no entanto, não significa que o filme seja ruim. Jennifer Lawrence, indicada ao Oscar pelo sombrio "Inverno da Alma", está bem como Katniss Everdeen, jovem de 16 anos que, quando a irmã mais nova é sorteada para os "Jogos Vorazes", pede para trocar de lugar com ela; ao lado dela está Peeta Mellark (Josh Hutcherson, de "Minhas Mães e meu Pai"), o tributo masculino. A direção de Gary Ross (do superior "Pleasantville - A Vida em Preto e Branco", 1998) não é muito afinada; ele se perde em algumas cenas de ação em que a câmera balança tanto que fica difícil saber o que está acontecendo.
Há uma analogia óbvia com o mundo midiático moderno. Stanley Tucci interpreta um apresentador de televisão que é uma mistura de Pedro Bial com Sílvio Santos, que tenta atrair a atenção dos espectadores para detalhes da vida pessoal dos competidores. É ele, por exemplo, que arranca do companheiro de Katniss, Peeta, que ele tem uma paixão secreta por ela ("revelação" que, novamente, causou gritos adolescentes na sala de cinema). Woody Harrelson interpreta um homem bêbado e decadente que já foi o vencedor dos jogos há muitos anos e, agora, é o conselheiro dos competidores do Distrito 12. Harrelson está muito bem no papel, mas o roteiro é superficial com a psicologia dos personagens. Vencer um dos "Jogos Vorazes" significa ter matado os outros 23 participantes; o que isso causou em um homem como Harrelson? Quando os jogos finalmente começam, o filme não foge da natureza sangrenta do espetáculo e mostra cenas bastante violentas para um filme infanto-juvenil. Pena que o suspense e a ação vão se esvaziando conforme o filme avança, que termina em um anti-clímax. E onde está a audiência? Por que o filme não os mostra, uma vez começados os jogos? Fala-se sobre "patrocinadores" e, em duas cenas, os competidores são ajudados por remédios que eles mandam. Mas a platéia pode eliminar um concorrente, caso não simpatize com ele? E será que esta sociedade rica e elitista se importaria em seguir um programa protagonizado por figuras da classe baixa?
São perguntas que, provavelmente, não cabem fazer sobre um filme adolescente de entretenimento, mas fica a sensação de que poderia ter sido melhor. Visto como cortesia no Kinoplex Campinas.
Box Trilogia Jogos Vorazes
Câmera Escura
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