O Senhor Joubert (Fabrice Luchini, de "Potiche" e "Moliére") nasceu e passou a vida toda no mesmo prédio em Paris. É herança de família e lá ele mora com a esposa Suzanne (Sandrine Kiberlain, de "Mademoiselle Chambom" e "O Pequeno Nicolau"), a mãe e Germaine, empregada por trinta anos. Com a morte da mãe de Joubert, a velha doméstica é demitida e em seu lugar entra a jovem e bela Maria (Natalia Verbeke, de "O Filho da Noiva"). São os anos 60 e a França está recebendo uma grande leva de mão-de-obra espanhola por causa da ditadura de Francisco Franco. Segundo amigas de Suzanne, as espanholas são limpas e trabalham de domingo a domingo, com uma condição: querem ir à missa todas as manhãs. A chegada de Maria à casa do Senhor Joubert, um metódico e entediado corretor de valores, causa uma reviravolta na vida dele; interessado a princípio na beleza da moça, aos poucos ele fica atraído também pelo modo alegre e corajoso com que todas as empregadas espanholas do prédio, que moram do 6º andar, levam a vida.
O filme de Philippe Le Guay é uma deliciosa comédia que observa de modo otimista as relações sociais entre os franceses e as imigrantes espanholas. O elenco conta com duas atrizes que já trabalharam com Almodóvar, Carmen Maura (que interpreta Concepción) e Lola Dueñas (que interpreta Carmen, a empregada socialista que está sempre exigindo melhorias); as duas, aliás, interpretaram mãe e filha no ótimo "Volver". O roteiro é bem humorado e inteligente. As francesas amigas de Suzanne falam das espanholas como se fossem meras serviçais ignorantes, e quando o Senhor Joubert começa a se interessar por Maria parece que ele quer apenas dormir com ela. Aos poucos, porém, ele começa a perceber o modo de vida das outras espanholas, pessoas com quem convive todos os dias mas que, até então, lhes eram desconhecidas. Uma visita ao sexto andar revela que o único banheiro usado por elas está entupido e imundo, não há água corrente nos quartos e a higiene pessoal deve ser feita usando-se uma pia no corredor. Joubert reforma o banheiro e passa a ser tratado com carinho pelas empregadas, até mesmo pela desconfiada Carmen. Sim, ele ainda está interessado fisicamente em Maria, como mostra uma cena de ciúme, mas não é apenas sexo que ele procura.
A esposa Suzanne percebe que há algo diferente no comportamento do marido mas, incapaz de ver as empregadas espanholas como rivais, começa a desconfiar de uma cliente do marido, uma dondoca chamada Bettina de Brossolette (Audrey Fleurot). Enquanto isso, o Senhor Joubert se torna um homem mais alegre, mais consciente das pessoas à sua volta e, no fundo, mais humano. O filme é sábio ao usar ou evitar os clichês do gênero e é generoso com os personagens. "As Mulheres do 6º Andar" está em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.