sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Último Dançarino de Mao

Vencedor do prêmio de público na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2009, só agora "O Último Dançarino de Mao" chega a Campinas. O filme tem produção australiana e conta história real do dançarino chinês Li Cunxin (Chi Cao) que, nos anos 80, abandonou a República Popular da China para viver nos Estados Unidos.

Dirigido por Bruce Beresford ("Conduzindo Miss Daisy", 1989), o filme começa com a chegada de Li a Houston no início dos anos 80 e conta sua história através de flashbacks. Sexto filho de uma família de sete crianças, Li era um "filho da revolução" comunista de Mao Tsé Tung (1893-1976). Ele vivia com a família no interior rural da China quando foi recrutado por Pequim para ser treinado como dançarino. Lá ele foi alfabetizado e tinha uma alimentação melhor que a da família; em troca, passou anos treinando balé clássico. Sua grande chance aconteceu com a visita cultural de membros do Balé de Houston, chefiados por Ben Stevenson (Bruce Greenwood), que gostou de Li e conseguiu uma autorização para que o chinês passasse três meses nos Estados Unidos. Em plena Guerra Fria, Li cresceu acreditando que os Estados Unidos eram a terra da perdição. Há uma cena em que ele recusa as roupas compradas por Stevenson dizendo que o pai ganhava 50 dólares por ano, enquanto que Stevenson havia gasto 500 dólares em uma tarde.

Claro que também há pobres e miseráveis nos Estados Unidos, mas alguém com o talento de Li poderia fazer muito sucesso e, de fato, é o que acontece. Ele conquista a simpatia das platéias de Houston e se apaixona por uma bailarina chamada Elizabeth (Amanda Schull). Terminados os três meses, Li decide ficar nos Estados Unidos e, auxiliado por um advogado (Kyle MacLachlan), se casa com Elizabeth, causando um incidente internacional. Após ser mantido contra a força na Embaixada da China, Li recebe autorização para ficar nos EUA, desde que nunca mais retorne ao país natal ou veja sua família. Considerando que em pleno século XXI um país como Cuba ainda proíbe cidadãos de deixarem seu território sem autorização (como aconteceu recentemente com a blogueira Yoani Sánchez), é de se imaginar as dificuldades durante a Guerra Fria.

Apesar de alguns momentos melodramáticos, o filme tem boa fotografia de Peter James e bons números de dança (há encenações de "O Lago dos Cisnes" e "Sagração da Primavera", entre outros). O dançarino Chi Cao, se não é um grande ator, é certamente um ótimo dançarino (é membro da companhia britânica Birmingham Royal Ballet) e Bruce Greenwood está à vontade como Ben Stevenson. A Guerra Fria causou grande impacto tanto no mundo das artes quanto dos esportes (com sucessivos boicotes aos Jogos Olímpicos tanto por parte dos americanos quanto do bloco soviético). A mensagem que fica é que, no fundo, o que importa é o talentos humano, independente da política.


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