Meryl Streep está bem, como sempre, interpretando a Primeira Ministra britânica Margaret Thatcher. O filme sobre Thatcher, no entanto, é sofrível. Dirigido por Phyllida Lloyd (que já havia trabalhado com Streep antes no musical "Mamma Mia"), "A Dama de Ferro" é uma confusa montagem de três elementos: 1) a representação fictícia de um momento na velhice de Thatcher quando, senil e tendo alucinações com o marido morto, ela recorda sua vida; 2) cenas de arquivo tiradas da televisão mostrando multidões protestando em uma Inglaterra decadente e 3) a cinebiografia propriamente dita da filha do dono de uma mercearia que chegou ao governo de uma das nações mais poderosas do mundo entre 1979 e 1990.
A mescla destes três elementos é feita de forma quase aleatória e, o que é pior, com um peso muito grande nas cenas que representam a velhice de Thatcher. Grande parte do filme se dedica a mostrar Streep coberta por uma pesada maquiagem que a envelhece e em acompanhá-la por seu apartamento, andando de um cômodo a outro na companhia do "fantasma" do marido, Denis (interpretado por outro grande ator desperdiçado, Jim Broadbent). Thatcher conversa com o marido como se ele estivesse vivo, escuta seus conselhos e lhe diz como se vestir enquanto ignora os empregados da casa que, vivos, não sabem o que fazer com ela. Entre uma conversa com o marido e outra, Thatcher relembra cenas da própria vida, e o filme parte para flashbacks que mostram como a jovem Margaret Roberts (interpretada quando moça por Alexandra Roach) idolatrava o pai que tinha idéias conservadoras. A jovem é aceita na renomada Universidade de Oxford e, em 1959, entra para o parlamento. Thatcher se tornaria a primeira mulher a liderar o Partido Conservador e a ser eleita Primeira Ministra em 1979, época em que a Inglaterra se via às voltas com problemas trabalhistas e com atentados do grupo separatista irlandês IRA.
Ao contrário do filme "A Rainha", que contrabalançava a personagem da Rainha Elisabeth (interpretada por Helen Mirren) com cenas do Primeiro Ministro Tony Blair e ainda falava sobre a morte da Princesa Diana, "A Dama de Ferro" trata apenas da personagem convervadora, durona e intransigente que era Margaret Thatcher, e não sabe o que fazer com ela. Todas as tentantivas de humanizar Thatcher se dão durante as cenas em que ela está tendo alucinações com o marido, o que acaba por tirar a importância das passagens históricas que são tratadas de forma superficial e, em grande parte, usando material de arquivo. O único acontecimento real que é retratado de forma um pouco mais aprofundada é a absurda Guerra das Malvinas, travada entre a Inglaterra e a Argentina em 1982. Ainda assim, o filme cita apenas vagamente o uso político que Thatcher fez da guerra, que resultou na morte de centenas de soldados argentinos e britânicos e ajudou a Dama de Ferro a vencer as eleições de 1983. É de se perguntar o porquê deste filme ser lançado justamente no aniversário de 30 anos do conflito.
"A Dama de Ferro", confuso e sem direção, falha tanto como cinebiografia quanto como denúncia de uma das figuras mais importantes (para o bem e para o mal) do século XX. Resta apenas tecer elogios retóricos à interpretação de Meryl Streep, indicada pela 17ª vez ao Oscar (que, provavelmente, será ganho por Viola Davis por "Histórias Cruzadas"). Mesmo assim, o filme mostra Thatcher de forma tão caricatural que nem Streep consegue salvá-lo.
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