segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Separação

Muitos filmes já foram feitos sobre divórcios, mas o iraniano "A Separação", escrito e dirigido por Asghar Farhadi, pode ser colocado entre os melhores. Vencedor do Urso de Ouro, em Berlim, em 2011 e do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, o roteiro inteligente recebeu uma indicação ao Oscar, além da indicação a melhor filme estrangeiro. O filme parte de uma trama relativamente simples, a separação de um casal iraniano, e debate temas como religião, honra, o Direito e o próprio conceito de verdade. O espectador fica envolvido não só pelo lado humano, mas pelo fato do filme ser, também, uma trama de mistério.

Nader (Peyman Moadi) e Simin (Leila Hatami) estão se separando. Simin quer sair do Irã e tentar a vida no exterior, mas precisa do divórcio do marido e a autorização dele para levar a filha Termeh (Sahina Farhadi, boa atriz, filha do diretor) com ela. Nader não quer sair do país porque tem um pai doente em casa (ele sofre de Alzheimer) e não quer se separar da filha. Com o impasse, Simin se muda para a casa dos pais e Nader contrata uma mulher chamada Razieh (Sareh Byat) para cuidar do pai doente. Uma tarde Nader e a filha voltam para casa e encontram o pai dele inconsciente, caido no chão e amarrado à cama. A empregada retorna e Nader, enfurecido, a expulsa de casa. Ela estava grávida e acaba abortando o filho, que já estava de quatro meses e meio. Na lei islâmica ele já era considerado um ser vivo, então Nader é acusado de assassinato. A trama então se transforma em um "filme de tribunal", mas bem diferente do que se está acostumado a ver em um filme americano. Não há um juri, ou advogados, em um tribunal cinematográfico. Há uma série de discussões com um juiz, em uma sala apertada, entre Nader, a ex-empregada e o marido dela. Eles acusam Nader de ter matado o filho deles; Nader acusa a mulher de maus tratos com o pai. Quem está com a razão? Nader sabia que Razieh estava grávida? Ele a expulsou verbalmente ou a empurrou escada abaixo? Ele provocou o aborto ou ela teria sofrido alguma outra coisa?

O que torna o filme interessante são as discussões morais que ele levanta. É perfeitamente compreensível que Nader estivesse alterado quando encontrou o pai amarrado à cama, mas ele tinha o direito de ser violento com a empregada? Por outro lado, ela não foi irresponsável ao deixar um senhor doente sozinho para tratar de assuntos particulares? A questão religiosa também permeia o drama. Razieh segue fielmente o Corão e há uma cena curiosa em que, descobrindo que o pai de Nader urinou nas roupas e precisa ser trocado, ela liga para alguém pedindo um conselho religioso: seria um pecado se ela trocasse o velho? A filha de Nader e Simin não quer que eles se separem, e o fato dela permanecer com o pai durante a trama demonstra a inteligência do roteiro; caso ela fosse com a mãe o casamento realmente estaria terminado. A cultura machista muçulmana é questionada no comportamento dos dois maridos da trama. Tanto Nader quanto o marido de Razieh são teimosos e com tendências violentas, embora amem suas famílias. Nader, particularmente, pode parecer um homem bruto e egoísta, mas o cuidado que ele tem com o pai é comovente. É também curioso saber que em um país aparentemente tão tradicional como o Irã questões como o divórcio são tratadas de forma natural.

Assim, "A Separação" é algo maior do que um simples filme de divórcio. É um filme sobre pessoas e seus problemas, seja no Irã ou em qualquer outro lugar do mundo.


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