sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres

Não tendo lido os livros da série "Millenium", do sueco Stieg Larsson, esta crítica é baseada apenas na versão cinematográfica dirigida por David Fincher. Larsson era um jornalista que pesquisava sobre a extrema direita européia e o abuso sexual contra mulheres; morreu precocemente, aos 50 anos, de ataque cardíaco. Sua obra já foi traduzida para o cinema na Suécia, tendo Noomi Rapace (de "Sherlock Holmes: Um Jogo de Sombras") como a hacker Lisbeth Salander.

O americano David Fincher, que tem no currículo filmes como "Se7en" (1995) e "Clube da Luta" (1999), foi a escolha certa para fazer a versão em inglês da obra de Larsson. Como técnico, Fincher sempre foi extremamente competente; como artista, ele tem um gosto pelo bizarro e pelo lado obscuro do ser humano, qualidades que certamente serviram para contar esta história que trata de intrigas políticas, violência sexual e ecos do nazismo.

Mikael Blonkvist (Daniel Craig) é um jornalista da revista Millenium, especializada em coberturas políticas; uma reportagem contra um figurão o levou à condenação por calúnia e ele se encontra em dificuldades financeiras e com a credibilidade abalada. É então que ele é convidado por um rico industrial do norte da Suécia, Henrik Vanger (Christopher Plummer), a investigar um mistério do passado: a sobrinha preferida de Henrik, Harriet, havia desaparecido 40 anos antes durante uma reunião de família. Tudo indica que ela foi morta, mas nenhum corpo foi encontrado. Mikael, provavel alter-ego do escritor Stieg Larsson, mergulha em uma investigação que envolve a família Vanger, formada por irmãos que não se comunicam. Vários deles, na II Guerra Mundial, foram simpatizantes do nazismo.

Paralelamente, o roteiro acompanha a vida de uma hacker e investigadora particular chamada Lisbeth (Rooney Mara, excepcional). Ela fora responsável por investigar os antecedentes de Mikael para a família Vanger. Apesar de muito inteligente, Lisbeth é considerada antissocial pelo governo, que a mantém sob a tutela de várias famílias substitutas desde os 12 anos. O roteiro da versão americana foi escrito por Steve Zaillian, roteirista de filmes como "A Lista de Schindler" (1993) e "O Gângster" (2007), além de "O Homem que Mudou o Jogo", ainda inédito no Brasil, pelo qual foi indicado ao Oscar. Mesmo baseado em uma obra literária, o roteiro de Zaillian, aliado à direção de Fincher, é extremamente visual e detalhado. As duas tramas se juntam quando Lisbeth é recrutada por Mikael para ser sua assistente e os dois começam a desenterrar o passado, descobrindo uma série de crimes.

Fincher conduz o filme com muita competência, sem ter medo de mergulhar em cenas pesadas quando necessário (como na cena em que Lisbeth é abusada por um assistente social). A fotografia é de Jeff Cronenweth, com quem Fincher já trabalhou em "A Rede Social" (2010) e "Clube da Luta". Cronenweth leva a tecnologia das câmeras digitais RED ao limite, criando suspense com várias cenas escuras. A trilha de Trent Reznor e Atticus Ross, lamentavelmente, foi esquecida nas indicações ao Oscar, e também auxiliam no clima do filme. Daniel Craig, atual James Bond, está muito bem, mas Rooney Mara rouba todas as cenas. Ela foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz e, coberta de piercings e tatuagens, não lembra em nada seu pequeno papel em "A Rede Social", em que interpretava a namorada de Mark Zuckerberg. Ótimo filme.


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